Tomemos a morte como mestra que nos instrui sobre como
torná-la a coisa mais benéfica.
FAZER AGORA O QUE TALVEZ NÃO SE POSSA FAZER NA HORA DA
MORTE. Há mortes repentinas e mortes previstas com certeza, a menos que haja um
milagre. Quantas doenças incuráveis! Pois bem, à aproximação do último momento
qual a primeira coisa que se oferecerá ao nosso espírito? Sem dúvida, será a
imagem de nossa vida, tal qual tiver sido realmente. Durante a vida, na
verdade, nunca se aprofunda as coisas tanto como na proximidade da morte. Frequentemente
iludimos nossa consciência, nos desculpamos e, pode acontecer, de a gente fazer
vistas grossas até sobre coisas necessárias para a salvação. Deixo-me enganar
pelos elogios e não procuro me corrigir de pecados secretos. Durante a vida,
quem sabe? a pessoa usou de espertezas para ganhar dinheiro em negócios? Não
gostaria que o outro fizesse consigo o que fez com ele. Quantos ressentimentos
secretos que certamente extinguiram a caridade no coração! Estarei tranqüilo a
respeito das minhas penitências? Sei que pequei, mas fiz a penitência devida?
Não haverá confissões mecânicas e por formalidade? Pior: sacrílegas? E como
será difícil (caso for possível) fazer uma confissão geral na proximidade da
morte para reparar tudo o que durante a vida ou uma grande parte dela, não se teve
força e coragem para fazer!
A saída para todas estas coisas é fazer agora o que talvez
não se possa fazer na hora da morte: Fazer confissão geral e extraordinárias(só os escrupulosos não
precisam e nem podem se já a fizeram uma vez). Reparar todo dano causado aos
bens materiais e/ou espirituais dos próximos; praticar mais a caridade, fazer
mais penitência e orações. Em poucas palavras, se tenho a peito a minha
salvação, devo dispor a minha consciência de tal sorte, que ela não possa na
proximidade da morte, arguir-me de ter sido negligente nos exames de
consciência, de não ter tido sincera dor, e de não ter cumprido bem a
penitência, de não ter perdoado do fundo do coração aqueles que me ofenderam ou
deram prejuízo. Caríssimos, feliz de
quem, pelo menos uma vez na vida, tenha feito um santo retiro! Este é o tempo
mais favorável, é um tempo de salvação! Uma santa confissão geral feita num
santo retiro, não precisa ser repetida nem na hora da morte. Devemos
frequentemente fazer atos de amor a Deus durante a vida, para que, nas proximidades
da morte, seja esta a nossa exclusiva ocupação.
FAZER AGORA O QUE SERÁ INDISPENSÁVEL FAZER NO HORA DA MORTE:
Quer queiramos quer não, na hora da morte teremos que abandonar tudo. Se não
nos desapegarmos agora de tudo voluntariamente, por amor a Deus e, portanto,
com merecimento, seremos forçados pela morte a fazê-lo e sem merecimento. Deus,
nosso Pai do Céu, pede-nos com toda bondade, que renunciemos a tudo por Seu
amor. "Estais mortos, e a vossa vida
está escondida com Jesus Cristo em Deus" (Coloss. III, 3). S. Paulo
entendia assim que os primeiros cristãos tinham renunciado a todas as sua
afeições carnais e terrenas. Os que tinham bens, não lhes tinha apego; se até
então antes da conversão, tinham hábitos viciosos, tinham-nos sepultado na água
do Batismo. Devemos estar mortos para todos os falsos bens do mundo, para todas
as paixões, para todos os vícios. Assim tudo estará em ordem: "As
despedidas estão feitas", dizia S. Francisco de Sales. Mas, como chegar a
ter esta morte mística? A oração, o exercício da presença de Deus, a
mortificação dos sentidos, a cruz de Jesus Cristo abraçada por amor, são os
meios que devemos empregar agora, enquanto é dia, porque, vindo a noite da
morte, não se poderá fazer mais nada.
FAZER AGORA O QUE SE QUERERIA TER FEITO, QUANDO FOR
NECESSÁRIO MORRER: Um dos maiores pesares do moribundo é ver o mau uso que fez
do tempo, este tempo que, podemos dizer, vale o Sangue de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Então compreende que a vida só lhe foi dada para merecer o Céu.
Enquanto a vida dura, podia fazer valer os talentos que Deus lhe deu; podia
juntar merecimentos, e, agora, está prestes a ouvir esta sentença: "Já não
poderás mais administrar; presta conta da tua administração". Levarás
agora para a eternidade o que tens neste momento. Caríssimos, vivamos e não
cessemos de viver como quereríamos então ter vivido. A verdade é que nunca
faremos tanto bem, que na hora da morte não desejemos ter feito mais. O
avarento nunca julga ter conseguido o suficiente! Por que não pensemos o mesmo
em relação ao tesouro no Céu?!
Quem pensa na morte não peca. Por este meio evitarei todos
os pecados e sempre. O pensamento da morte reprime e torna impotentes as duas
paixões que ocasionam todos os pecados: a soberba e a sensualidade. E se pecar,
não permanecerei no pecado. Penso: se o meu coração deixa de palpitar, o meu
corpo cai sobre a terra. E a minha alma cairá, onde? Por conseguinte, vivo
sempre no estado de graça.
O pensamento da morte desapega de todas as coisas
perecedoras, e deixa ao nosso coração a liberdade para se unir a Deus. Pois,
mostra o nada das coisas deste mundo. Tudo é vaidade e aflição de espírito:
riquezas, honras, prazeres, amizades humanas.
O pensamento habitual da morte concorre para morrer com o
coração cheio de confiança: o homem terá a prudência de empregar bem todos os
seus instantes; daí, os dias cheios, em que tudo é para o Céu, porque tudo é
para Deus. O pensamento da morte fará que eu ande diante de Deus em santidade e
justiça, e assim, conduzir-me-á à felicidade de morrer na paz da confiança, na
alegria do amor de Deus.
Senhor, que eu aproveite verdadeiramente a minha vida para
juntar um tesouro no Céu, tesouro este, que, como dissestes, o ladrão não
rouba, a traça não rói e a ferrugem não consome. Amém!
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