LEITURA ESPIRITUAL, dia 30º
O primeiro e o máximo mandamento é amar a Deus sobre todas
as coisas. É sumamente útil e necessário conhecermos bem este assunto.
Em primeiro lugar, devemos
distinguir dois elementos no amor: a complacência e a benevolência. Que
é complacência? Vamos dar exemplo do que acontece com o amor entre pessoas aqui
na terra e depois aplicaremos subindo até Deus. Assim, as qualidades dos entes
queridos nos enlevam: eis aí a complacência. Agora, queremos bem àquelas
pessoas cujos dotes nos cativam: eis aí a benevolência. E nosso amor de
complacência e de benevolência deve ser afetivo e efetivo. Há amor afetivo
quando suscitamos no nosso coração, tais sentimentos tanto de complacência como
de benevolência. E, desde já devemos saber que este amor afetivo para com Deus
se exerce e se dilata na oração.
Mas, caríssimos, este amor afetivo só será sincero se for
acompanhado do amor efetivo, ou seja, é mister que opere e que realmente
sirvamos a Deus. Em outras palavras, o nosso amor deve ser provado pela prática
das virtudes. Portanto o amor interno deve ser manifestado externamente e é
assim que conhecemos inclusive o seu
valor exato. Como disse o Divino Mestre: "Não é aquele que diz Senhor,
Senhor, que vai entrar no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade do meu
Pai que está no céu". Diz também: "Quem me ama, guarda os meus
mandamentos, faz o que eu mando". Portanto, querer julgar a intensidade do
amor apenas pelo surtos do coração é expor-se a ilusões. É na renúncia da
própria vontade e na aceitação amorosa e inteira da vontade divina, que
encontramos a prova inconfundível do verdadeiro amor de Deus. Se o amor perfeito não
pode nascer nem crescer sem o exercício da oração e a prática constante do amor
afetivo, tão pouco se pode desenvolver sem as obras, sem a luta generosa contra
os nossos defeitos e a fidelidade às virtudes cristãs.
E que vem a ser AMOR PERFEITO a Deus? Caríssimos, devemos
evitar dois extremos: Não se trata apenas de um ato PASSAGEIRO de caridade
perfeita; isto seria uma resolução sincera de evitar todo pecado mortal, a fim
de não ofender o Deus infinitamente bom, infinitamente digno de amor. Na
verdade, esta disposição basta à alma para alcançar o perdão das faltas graves
e recuperar a graça santificante que perdera, desde que acompanhada do desejo
de receber o sacramento da Penitência. Não é permitido, porém comungar, sem
antes se confessar. Se Jesus chamar esta pessoa repentinamente sem ter condição
de se confessar, ela se salva. Mas este ato passageiro de caridade perfeita não
é ainda o AMOR PERFEITO a Deus, de que
falamos aqui. Por outro lado, devemos excluir o outro excesso, isto é, não deva haver nenhuma interrupção nem desfalecimento para que o amor fosse perfeito. Na
realidade seria exigir um amor que só será possível no céu. Assim sendo,
devemos dizer que uma alma atinge o amor perfeito a Deus aqui na terra, quando
se encontra na disposição habitual de renunciar a tudo quanto lhe possa
arrefecer o ardor da caridade. Portanto, significa não ter nenhum apego
voluntário, nem às faltas ligeiras, nem às imperfeições; quando se propõe a
fazer, em tudo, o que Deus quer, e como Deus quer. E prestemos bastante atenção
neste particular: esta resolução não pode ser fruto de um ímpeto de entusiasmo,
em que a sensibilidade tem grande parte, mas deve ser uma determinação calma,
firme e constante da vontade. Conhece as dificuldades, mas sabe vencê-las,
porque não há nada mais forte do que o amor perfeito.
Então, resumindo: O amor perfeito a Deus supõe que a alma
esteja sempre na presença de Deus. Pelo menos, o pensamento da pessoa se volta
frequentemente para Deus. O amor perfeito supõe, portanto, um amor afetivo
intenso e freqüente; supõe também um amor efetivo, generoso, habitual, e
devemos dizer que também supõe um amor delicado. Porque daria provas de amor
vulgar e um tanto interesseiro, quem não
soubesse prestar serviços a um amigo sem deixar perceber o que isso lhe custa.
Na realidade, o verdadeiro amor nunca pensa fazer bastante para o ente amado,
desprezando suas fatigas e seus trabalhos; raramente fala de seus sacrifícios,
e, se falar, é para dizer que é pouca coisa e que está pronto a fazer outros,
maiores ainda.
Não há meio melhor para compreendermos bem o que vem a ser o
amor perfeito a Deus do que lendo a vida dos santos, porque, na verdade, é
neste amor perfeito, onde se procura fazer sempre a vontade de Deus, que
encontramos a verdadeira santidade. Amém!
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