LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 20º
Como já vimos anteriormente em outro artigo, todos os
teólogos tradicionalistas concordam em que o mesmo preceito que nos proíbe
pecar nos proíbe também de nos expor à ocasião próxima voluntária. Daí
conclui-se que aqueles que estão na ocasião próxima voluntária não podem ser
absolvidos, a menos que se proponham firmemente a fugir destas ocasiões; pois,
só o fato de se exporem a elas é para todos um pecado grave, mesmo quando lhes
acontecesse por vezes não sucumbir.
Quando a ocasião voluntária está atualmente presente, como
ensina São Carlos Borromeu, o penitente não pode ser absolvido antes de ter
afastado a ocasião; pois, sendo o afastamento de uma tal ocasião um ato que lhe
custa muito, se o penitente não o executa antes de receber a absolvição,
dificilmente se resolverá a isso depois de a ter recebido.
Com muito maior razão não poderia ser absolvido aquele que
se recusasse a afastar a ocasião, prometendo apenas não mais recair no
pecado. Uma comparação: é possível
alguém colocar uma estopa no fogo e ela não se queimar? Assim, como pode alguém
ter a confiança de evitar o pecado, permanecendo na ocasião? E isso sobretudo
em se tratando de ocasião de pecados contra a castidade com outrem. Na
verdade, a mulher é estopa, o homem
fogo, e o demônio o soprador e atiçador.
Cabe aqui aplicarmos a palavra do próprio Espírito Santo: "Vossa fortaleza será como uma mecha de
estopa, e a vossa obra como uma faísca; uma e outra se queimarão ao mesmo tempo
e não haverá quem as apague" (Isaías, I, 31).
Um sacerdote ao exorcizar um possesso, obrigou o demônio a
dizer qual de todos os sermões lhe desagradava mais, e confessou: "O
sermão sobre ocasião". Contanto que a ocasião permaneça, pouco importa ao
demônio que se façam bons propósitos, promessas, juramentos e mesmo muitas
penitências; enquanto não se afastar a ocasião, o pecado permanecerá. A
penitência que indica o verdadeiro arrependimento é justamente o fugir da
ocasião próxima. Por exemplo: aquele e aquela que vivem em adultério, só podem
ser absolvidos si se separarem de fato, não só de leito, mas também de casa. E
para comungar exige-se um certo tempo que seja suficiente para todo mundo ver
que realmente se converteram. Sem isto, dar a comunhão, seria motivo de
escândalo, e, portanto, um enorme prejuízo para as almas.
A ocasião, principalmente em matéria sensual, é como que um
véu que se tem ante os olhos, e que não mais permite ver nem Deus, nem inferno,
nem paraíso. Enfim, a ocasião cega o homem; ora, quando cego, como poderá
distinguir o caminho do céu? Tomará o caminho do inferno, sem saber para onde
vai. É preciso, pois, que aquele que está em ocasião de pecar se esforce por
sair dela; de outro modo, ficará sempre no pecado. Alguém dirá: ninguém pode ir
para o inferno sem saber que está indo. Resposta: primeiro para os modernistas
que procuram tranquilizar as consciências no pecado, devem ficar sabendo que
isto pode enganar, mas não salva, porque o demônio é astuto. Que faz ele: leva
a pessoa a encontrar argumentos facilmente com a cumplicidade das pessoas da
Igreja, leva-a achar até santo aquilo que lhe é agradável à natureza. Mas o
demônio tira esta venda dos olhos do moribundo e tenta-o ao desespero. E muitas
almas podem se condenar por isso. Só a verdade é que salva. A mentira e o erro
são obras do demônio e só podem levar à
condenação.
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