terça-feira, 23 de julho de 2019

OUTRA QUALIDADE DA CONFISSÃO: SINCERA

LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 23º

Confissão sincera é aquela em que não há mentira e nem desculpa.

1. Confissão sem mentira: Uma mentira em matéria leve, dita na confissão, torna-se um falta mais grave, sem todavia ser mortal; mas mentira seria um pecado mortal, se a matéria fosse grave, por exemplo: quem acusasse um pecado mortal que não cometeu, ou negasse um pecado mortal que tivesse cometido e que nunca tivesse confessado, ou negasse o hábito contraído, isto seria enganar em matéria grave o ministro de Deus.

Lemos na vida de S. José de Anchieta, jesuíta e missionário no Brasil, que certa mulher,  de grande virtude na aparência, frequentando os sacramentos, com um exterior humilde e modesto, ocultava sob essa aparência enganadora hábitos criminosos. Por sua hipocrisia, tinha ganho a estima de toda a cidade e dos seus diretores. Ora, um dia, não encontrando o seu confessor ordinário, procurou o Padre José de Anchieta. Este, sem dúvida inspirado por Deus, mandou-lhe dizer que se recusava a confessá-la. Como houvesse admiração, disse: "Esta mulher dá-se a um trabalho inútil". Com efeito, logo sua vida infame se tornou pública, e, por um justo castigo de Deus, ela não tardou a morrer com todos os sinais de condenação.

2. Confissão sem desculpa: No tribunal da penitência, o pecador deve ser o acusador de si mesmo: acusador e não advogado de defesa. Quem se acusa sinceramente, sem atenuar as suas faltas, obterá delas o perdão, e receberá de Deus maior abundância de misericórdia. O duque do Osuna, vice-rei de Nápoles, estando um dia em uma galera, pôs-se a interrogar a cada um dos forçados, sobre o crime que tinha cometido. Todos responderam que eram inocentes, exceto um, que confessou merecer um grande castigo. O duque disse então a este último: "Pois, então, não é este o teu lugar: um celerado, como tu, no meio de todos estes inocentes!" Em seguida, mandou pô-lo em liberdade. Deus perdoa mais liberalmente ao penitente que se reconhece culpado, e não procura desculpar-se.

"Quantos não há, diz o teólogo Perriens, que se confessam mal! Alguns dizem ao confessor o pouco bem que fazem, e não falam dos seus pecados: 'Padre, eu ouço a missa todos os dias, recito o terço, não blasfemo, não juro, não roubo ...' Pois, bem! para que dizeis isto? é para que o confessor vos louve? Os vossos pecados é que deveis acusar. Examinai-vos, e encontrareis mil, aos quais deveis remediar: maledicências, palavras desonestas, mentiras, imprecações, aversões, pensamentos desonestos ... Outros não fazem senão desculpar os seus pecados, e parecem advogar a sua causa junto do confessor, por exemplo: 'Padre, eu blasfemo, porque tenho um superior insuportável. Tive ódio a uma vizinha, porque ela falou mal de mim'. De que serve, continua Perriens, semelhante confissão? que pretendeis? Quereis que o confessor aprove os vossos pecados? Escutai o que diz S. Gregório: 'Se vos desculpais, Deus vos acusará; e, se vos acusais, ele vos desculpará'.

Nosso Senhor, numa aparição a Santa Maria M. de Pazzi, queixou-se daqueles que, na confissão, se desculpam dos seus pecados, e os lançam sobre outros.

Se o(a) penitente diz assim: Tal pessoa deu-me ocasião; ou, fulano tentou-me. Confessar-se assim não é senão ajuntar novos pecados; pois, para desculpar as próprias faltas, atacam a reputação do próximo.

Já ouvi contar o seguinte episódio (contado naturalmente pela culpada): Uma mulher que, para desculpar os seus pecados, relatou todo o mal que sabia do marido:   -  Pois bem! diz-lhe o confessor por fim: por vossos pecados, recitarás uma Salve Rainha; e pelos do teu marido jejuarás durante um mês.  - Mas, perguntou a penitente, como sou eu obrigada a fazer penitência pelos pecados do meu marido?  -  E vós, como viestes, respondeu o confessor, acusar os pecados do teu marido, dizendo todo o mal que ele tem feito, para desculpar os teus próprios pecados? Diz o provérbio italiano: "Si non è vero, è bene trovato".

Caríssimos, devemos contar os nossos pecados e não falar dos pecados alheios. O penitente, sendo humilde, nunca vai procurar se desculpar. Pensa sempre assim: sou eu mesmo que, por minha própria maldade e fraqueza, quis consentir em ofender a Deus.

Agora, faz-se necessário aqui uma observação: O penitente, deve algumas vezes descobrir a falta do próximo, para fazer conhecer ao confessor, seja a espécie do pecado de que se acusa, seja o perigo em que se acha, afim de que ele possa julgar o que tem a fazer. Se, neste caso, a pessoa que se confessa, puder se dirigir a um confessor que não conheça a pessoa em questão, então deve procurar este confessor. Mas, se for difícil em mudar de confessor, ou se a pessoa julga que o seu  confessor ordinário, conhecendo melhor a sua consciência, está no caso de lhe dar conselhos acertados, não está  obrigada a procurar um outro. No entanto, a pessoa deve ter o cuidado em encobrir o seu cúmplice o melhor possível. Basta, por exemplo, designar o seu estado: dizer se é uma pessoa casada ou não, ou ligada por voto de castidade, sem pronunciar o seu nome.


Outra coisa: é pura perda de tempo dizer assim na confissão: "Eu me acuso dos sete pecados capitais, dos cinco sentidos, dos dez mandamentos de Deus". Vale mais declarar ao confessor uma falta que há muito vens cometendo, sem dela te corrigires.  Devemos confessar as faltas de que nos queremos corrigir. Pois, de que serviria a pessoa se acusar de todas as maledicências, de todas as mentiras, de todas as imprecações, não querendo desfazer-se destes vícios? Seria mais uma zombaria, um abuso do sagrado tribunal da penitência. Caríssimos, a pessoa deve ter o cuidado quando se confessar de tais faltas, ainda que elas sejam veniais, em formar um bom propósito de não mais recair nelas. 

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