LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA, dia 23º
Confissão sincera é aquela em que não há mentira e nem
desculpa.
1. Confissão sem mentira: Uma mentira
em matéria leve, dita na confissão, torna-se um falta mais grave, sem todavia
ser mortal; mas mentira seria um pecado mortal, se a matéria fosse grave, por
exemplo: quem acusasse um pecado mortal que não cometeu, ou negasse um pecado
mortal que tivesse cometido e que nunca tivesse confessado, ou negasse o hábito
contraído, isto seria enganar em matéria grave o ministro de Deus.
Lemos na vida de S. José de Anchieta, jesuíta e missionário
no Brasil, que certa mulher, de grande
virtude na aparência, frequentando os sacramentos, com um exterior humilde e
modesto, ocultava sob essa aparência enganadora hábitos criminosos. Por sua
hipocrisia, tinha ganho a estima de toda a cidade e dos seus diretores. Ora, um
dia, não encontrando o seu confessor ordinário, procurou o Padre José de
Anchieta. Este, sem dúvida inspirado por Deus, mandou-lhe dizer que se recusava
a confessá-la. Como houvesse admiração, disse: "Esta mulher dá-se a um
trabalho inútil". Com efeito, logo sua vida infame se tornou pública, e, por
um justo castigo de Deus, ela não tardou a morrer com todos os sinais de
condenação.
2. Confissão sem desculpa: No tribunal
da penitência, o pecador deve ser o acusador de si mesmo: acusador e não
advogado de defesa. Quem se acusa sinceramente, sem atenuar as suas faltas,
obterá delas o perdão, e receberá de Deus maior abundância de misericórdia. O
duque do Osuna, vice-rei de Nápoles, estando um dia em uma galera, pôs-se a
interrogar a cada um dos forçados, sobre o crime que tinha cometido. Todos
responderam que eram inocentes, exceto um, que confessou merecer um grande
castigo. O duque disse então a este último: "Pois, então, não é este o teu
lugar: um celerado, como tu, no meio de todos estes inocentes!" Em
seguida, mandou pô-lo em liberdade. Deus perdoa mais liberalmente ao penitente
que se reconhece culpado, e não procura desculpar-se.
"Quantos não há, diz o teólogo Perriens, que se
confessam mal! Alguns dizem ao confessor o pouco bem que fazem, e não falam dos
seus pecados: 'Padre, eu ouço a missa todos os dias, recito o terço, não
blasfemo, não juro, não roubo ...' Pois, bem! para que dizeis isto? é para que
o confessor vos louve? Os vossos pecados é que deveis acusar. Examinai-vos, e
encontrareis mil, aos quais deveis remediar: maledicências, palavras
desonestas, mentiras, imprecações, aversões, pensamentos desonestos ... Outros
não fazem senão desculpar os seus pecados, e parecem advogar a sua causa junto
do confessor, por exemplo: 'Padre, eu blasfemo, porque tenho um superior
insuportável. Tive ódio a uma vizinha, porque ela falou mal de mim'. De que
serve, continua Perriens, semelhante confissão? que pretendeis? Quereis que o
confessor aprove os vossos pecados? Escutai o que diz S. Gregório: 'Se vos
desculpais, Deus vos acusará; e, se vos acusais, ele vos desculpará'.
Nosso Senhor, numa aparição a Santa Maria M. de Pazzi,
queixou-se daqueles que, na confissão, se desculpam dos seus pecados, e os
lançam sobre outros.
Se o(a) penitente diz assim: Tal pessoa deu-me ocasião; ou,
fulano tentou-me. Confessar-se assim não é senão ajuntar novos pecados; pois,
para desculpar as próprias faltas, atacam a reputação do próximo.
Já ouvi contar o seguinte episódio (contado naturalmente
pela culpada): Uma mulher que, para desculpar os seus pecados, relatou todo o
mal que sabia do marido: - Pois bem! diz-lhe o confessor por fim: por
vossos pecados, recitarás uma Salve Rainha; e pelos do teu marido jejuarás
durante um mês. - Mas, perguntou a
penitente, como sou eu obrigada a fazer penitência pelos pecados do meu
marido? - E vós, como viestes, respondeu o confessor,
acusar os pecados do teu marido, dizendo todo o mal que ele tem feito, para
desculpar os teus próprios pecados? Diz o provérbio italiano: "Si non è vero, è bene trovato".
Caríssimos, devemos contar os nossos pecados e não falar dos
pecados alheios. O penitente, sendo humilde, nunca vai procurar se desculpar.
Pensa sempre assim: sou eu mesmo que, por minha própria maldade e fraqueza,
quis consentir em ofender a Deus.
Agora, faz-se necessário aqui uma observação: O penitente,
deve algumas vezes descobrir a falta do próximo, para fazer conhecer ao
confessor, seja a espécie do pecado de que se acusa, seja o perigo em que se
acha, afim de que ele possa julgar o que tem a fazer. Se, neste caso, a pessoa
que se confessa, puder se dirigir a um confessor que não conheça a pessoa em
questão, então deve procurar este confessor. Mas, se for difícil em mudar de
confessor, ou se a pessoa julga que o seu
confessor ordinário, conhecendo melhor a sua consciência, está no caso
de lhe dar conselhos acertados, não está
obrigada a procurar um outro. No entanto, a pessoa deve ter o cuidado em
encobrir o seu cúmplice o melhor possível. Basta, por exemplo, designar o seu
estado: dizer se é uma pessoa casada ou não, ou ligada por voto de castidade,
sem pronunciar o seu nome.
Outra coisa: é pura perda de tempo dizer assim na confissão:
"Eu me acuso dos sete pecados capitais, dos cinco sentidos, dos dez
mandamentos de Deus". Vale mais declarar ao confessor uma falta que há
muito vens cometendo, sem dela te corrigires.
Devemos confessar as faltas de que nos queremos corrigir. Pois, de que
serviria a pessoa se acusar de todas as maledicências, de todas as mentiras, de
todas as imprecações, não querendo desfazer-se destes vícios? Seria mais uma
zombaria, um abuso do sagrado tribunal da penitência. Caríssimos, a pessoa deve
ter o cuidado quando se confessar de tais faltas, ainda que elas sejam veniais,
em formar um bom propósito de não mais recair nelas.
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