LEITURA ESPIRITUAL Dia
"Deus charitas est"
"Deus é Amor" (1 João IV, 16)
Nosso Senhor Jesus ensinou-nos a dirigirmo-nos a Deus
chamando-O Pai: "Pai Nosso que estais no Céu"... embora saibamos que
Deus é também o Supremo Senhor. Deus é um Pai que é a própria bondade, é
onipotente e é a própria Sabedoria. O bem quer difundir-se. Deus é amor; e é da
essência do amor querer e fazer o bem.
MÃE! este nome evoca a ideia mais acabada e real do amor. Assim diz o Espírito Santo: "Pode
porventura uma mãe esquecer o seu filho... mas mesmo que uma mãe esquecesse o
seu filho, Eu, diz Deus, nunca me esquecerei de vós". Os pais amam os
filhos, gostariam de dar o melhor para eles, mas nenhum pai tem condições de o
fazer como desejaria. O Pai do Céu, no entanto, é todo poderoso e sabe o que é
melhor para seus filhos. Devemos a Deus
um afeto filial. Este sentimento, o mais doce e o melhor dos sentimentos de
família, reclama a Deus como Pai. Para Ele nós somos realmente seus filhos. Diz
São Paulo: "É pela graça da regeneração e do batismo que nos tornamos
filhos de Deus e que recebemos a graça da adoção divina". O Apóstolo do
amor, S. João, também diz: "Considerai
que amor nos mostrou o Pai para que sejamos filhos de Deus e os sejamos (na
realidade)" (1ª João III, 1). "Não recebemos, diz S. Paulo, o
espírito de temor e escravidão, mas o de adoção dos filhos de Deus, pelo qual o
chamamos Nosso Pai" (Romanos, VIII, 15 ). Deus é onipotente mas Pai que se
inclina sobre nós e nos dedica, cheio de bondade e ternura, um amor inefável,
porque somos obra de suas mãos: " Senhor, a tua misericórdia é eterna, não
desprezeis as obras das vossas
mãos" (Salmo CXXXVII, 8). Deus é montanha inacessível de perfeições; e
nós, seus filhos, abismo insondável de misérias. Um abismo chama o outro.
Montanha e abismo atraem-se. O abismo de miséria pode ser cumulado e a montanha
de perfeições clama por abater-se e encher tudo que é indigência e pobreza.
Caríssimos, que dita a nossa, que nada temos, possuir um Pai que tudo tem e
quer enriquecer-nos! Se nos fez infinitamente indigentes é porque se reserva a
alegria de suprir, Ele próprio, a nossa miséria. Além de eu ser um nada em
relação ao bem, sou um nada pecador.
Caríssimos, não há verdade mais certa do que esta: Deus é
nosso Pai, e o que há de mais terno e de mais suave em toda a paternidade da
terra, não é senão uma ínfima sombra da doçura sem limites e da afeição de sua
paternidade no céu. "A beleza e consolação de tal ideia, diz o Padre Faber,
excedem quaisquer palavras. Ela destrói a impressão de isolamento neste mundo e
dá uma nova cor ao castigo e à aflição. Da própria sensação de fraqueza, tira
consolação; habilita-nos a confiar a
Deus problemas que não fomos capazes de resolver, e nos une por um sentimento
do mais caro parentesco a todos os nossos co-irmãos. Penetra em todas as nossas
ações espirituais e delas torna-se o pensamento principal. Na penitência,
recordamo-la; nos sacramentos, provamo-la; na conquista da perfeição, nela nos
apoiamos; nas tentações, nos alimentamos dela; nos sofrimentos, gozamo-la. Deus
é nosso Pai nos acontecimentos diários da vida, protegendo-nos contra mil males
que poderemos sentir, respondendo à orações, abençoando os que amamos, e
sobretudo na paciência para conosco, paciência premeditada e incansável até um
grau que a nós mesmos parece quase incrível".
Deus não se contenta com cumular-nos de benefícios. Como o
melhor dos pais, dá-nos sobretudo, o seu santo amor. Cada benefício de Deus vem
saturado de ternura e dedicação a nós. Este amor ensina-nos a sermos gratos a
Deus e a entregarmo-nos a Ele sem reserva. Tal é a bondade a bondade de Nosso
Pai do Céu, que, dando-nos os seus
benefícios e o seu amor, ainda nos recompensa, se nós aceitarmos reconhecidos,
as suas larguezas. Deus abençoa-nos por não termos recusado a ajuda da sua
divina mão e, na eternidade, encher-nos-á de felicidade e de glória por nos
termos resolvido a aproveitar-nos da sua generosidade.
Caríssimos, agora vamos meditar um pouco no clímax do amor
do Nosso Pai do Céu. Sabemos que os homens abusaram de sua liberdade, um dos
mais belos dons que Deus lhes concedeu; transgrediram a lei divina que Deus
lhes ditara com tanto cuidado. Mas, essas prevaricações só serviram para
salientar a santidade e o amor de Nosso Pai do Céu. O mundo não conhece mais a
virtude, o mundo se corrompeu; Deus mandará então o seu muito amado Filho para
tirá-lo do pecado e dar-lhe os exemplos de santidade de que tanto carece. Eis o
duplo fim da Encarnação, e nada nos revela melhor a infinita santidade de Deus
e o seu amor aos seus filhos. Deus deu o seu Filho ao mundo e deu-O para ser
imolado. Caríssimos, lembremo-nos da vida de sofrimentos do Homem-Deus, das
privações que padeceu, de suas pregações, de suas instruções, de suas
exortações, em uma palavra, de todas as obras de sua vida e, acima de tudo, das
dores tremendas, indescritíveis de sua Paixão. E amor do Pai do Céu, foi mais
longe: quis que seu Filho fundasse a sua Igreja, para continuar a obra de santificação
que havia realizado. Quis vê-la continuada. Assim a Santa Madre Igreja a
conservará até ao fim dos séculos apesar de todos os esforços em contrário do
inferno; por ela, continuará o pregar o afastamento do mal, a inspirar o horror
ao pecado, e levar as almas à prática da virtude. A Santa Igreja dispõe de mil meios para
preservação e santificação das almas. Entre eles temos sobretudo os
sacramentos. Tudo foi para que seus filhos fossem santos. Para tanto, tornou-se
realmente o Emanuel, o Deus conosco, o Pai junto aos filhos até a consumação
dos séculos: instituiu o adorável Sacramento da Eucaristia, que é também
Sacrifício, a Santa Missa. O próprio
Filho de Deus feito Homem quis ser alimento de seus débeis filhos!
A justiça divina pune o mal e recompensa o bem, porque está
dentro da lei que o mal seja castigado e o bem recompensado, e também porque o
castigo afasta do pecado, enquanto a recompensa anima a virtude. Com Jesus,
n'Ele e por Ele, tornou-se fácil satisfazermos à dívida que contraímos com os
nossos pecados. A mais trivial e insignificante obra, por ex. um copo d'água,
mas dado por amor a Jesus, terá um grande galardão no Céu. Tudo que for feito
na graça de Deus com espírito sobrenatural, com reta intenção de agradar a
Jesus, é contado por Nosso Pai do Céu, e aumenta a graça aqui, e depois a glória
no Paraíso, por toda eternidade.
Caríssimos, com razão dizia o grande Apóstolo São Paulo:
"A caridade de Cristo me obriga". Obriga-me a amá-Lo e por amor a Ele
a amar as almas pelas quais Ele morreu na Cruz. Amém!.
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