segunda-feira, 18 de abril de 2016

Para a II Conferência Geral do CELAM

Artigo extraído do livro "A TEMPO E CONTRATEMPO" de autoria de Gustavo Corção.
Artigo escrito em 13 - 06 - 1968


   UM padre estrangeiro que vem pregar no inflamável Nordeste a "revolução social indispensável", ou a arrancada para a socialização, merece a nossa atenção; e até merece nossa obsessão. Por isso volto ao Padre Comblin, e às suas notas distribuídas como documento básico para a II Conferência Geral do CELAM a realizar-se em Bogotá em 16 de julho próximo. Será preciso tornar a dizer que esse "padre" belga é hóspede do Arcebispo de Olinda e Recife? 

   Continuando a leitura do documento, encontramos à página 6 uma amena descrição da CONQUISTA DO PODER. O papel que tenho na mão não apresenta chamuscos de fogo e manchas de sangue, é uma pacatíssima cópia termofax onde se lê uma ainda mais pacatíssima, se me permitem, propaganda comunista. 

   Em certa altura, o autor se queixa das circunstâncias históricas em que a Igreja - sempre esta estouvada! - foi "um dos fatores de eliminação do comunismo". E logo a seguir: "Acham que isso foi uma grande vitória".

   Em outro lugar, diz o autor das lições endereçadas aos bispos do Brasil: "Será preciso fazer alianças, entrar em compromissos, sujar as mãos pelas alianças sujas". Observe o leitor que excelente programa nos traz este padre belga. Devemos sujar as mãos. Com quê?

   Lembro-me aqui da definição que Bernanos dava da História: "un peu plus de sang, un peu moins de m.; un peu plus de m.; un peu moins de sang". Em qual das duas substâncias deveremos, nós católicos (vós bispos!), sujar as mãos?

   Em outro tópico, intitulado SITUAÇÃO INTERNACIONAL o "padre" Comblin, hóspede do Arcebispo de Olinda e Recife, parte da seguinte constatação que se tornou para ele bem clara na conferência da Nova Déli: "as nações desenvolvidas estão bem decididas a nada fazer para acelerar o desenvolvimento das demais".

   Mas em outro tópico, na última página das diretrizes que os bispos devem seguir em Bogotá, o "padre" belga diz: "A importação de sacerdotes, religiosos e leigos, assim como a aceitação de capitais estrangeiros criou uma série de instituições dependentes de outras igrejas (...). A Igreja tornou-se colonial (...). Seria oportuno interromper a invasão de sacerdotes estrangeiros, cujo número já é excessivo".

   Peço ao leitor que detenha a leitura e dedique uns minutos de meditação a esse abismo de impostura e a esse enredo de contradições com que os falsos profetas querem incendiar nosso pobre Brasil. Como se queixa ele da falta de ajuda estrangeira, e logo depois nos diz que ela já é excessiva?

   Salta aos olhos que a única coisa objetiva que esse tipo de pregador deseja é a confusão, a anarquia, e finalmente a abundância daquelas duas substâncias a que acima nos referimos. Para mim esse tópico tresanda a uma insuportável torpeza porque sempre, desde que entrei na Igreja, tive pensamentos de ação de graças pelos padres estrangeiros que encontrei no caminho da vida.

   Lembro-me logo do bom Frei Pedro Sinzig, que foi o primeiro a trazer em minha pobre casa o Corpo de Deus; lembro-me depois de muitos outros que amei e admirei e a quem devo tanto. E ainda hoje agradeço a Deus o bom vigário de minha paróquia.

   Como quer esse belga expulsar do Brasil os portadores da palavra de Deus, que prolongam a travessia de Cristóvão Colombo, o cristóforo que atravessou as águas para trazer a cruz ao Novo Mundo? Como ousa deitar no papel e entregar aos senhores Bispos do Brasil tamanha enormidade?

   Mas agora vejo o "lado positivo" ou a "mensagem" destas notas do "padre" Comblin: apliquemos a ele mesmo, belga, estrangeiro, o princípio do anticolonialismo eclesiástico.

   Sim, na verdade há padres estrangeiros que se tornaram excessivos e indesejáveis em nosso território. O Padre Comblin é um deles. E aqui lhes digo, meus caros leitores, o que eu faria hoje, agora, se fosse Presidente da República.

   Não saberia responder o que faria amanhã para o desenvolvimento, para a educação, a agricultura e para a fazenda ou o planejamento. Declaro, com a maior sinceridade, minha generalizada inépcia em todas essas matérias; mas uma coisa pequenina eu faria, se me dessem, como no romance de Mark Twain, o poder do Presidente por quinze minutos apenas: mandaria de volta para seu torrão natal esse padre verdadeiro ou falso que quer incendiar o Brasil, e aproveitaria a tinta para assinar uns dois ou três processos de expulsão do país relativos a padres que declaram desejar para o Brasil uma "revolução etária" como o chienlit de Paris.

   Mas a chave de ouro das instruções que o padre belga hospedado pelo Arcebispo de Olinda e Recife dirige ao episcopado brasileiro é esta: "A independência das dioceses, das paróquias e das províncias religiosas devem ser combatidas".

   Estamos num platô da ascensão progressista. Ficaram para trás todas as instituições de direito divino derrubadas pelos inovadores; a própria Igreja de Cristo, como velha prostituta desprezada, ficou também para trás ("é preciso romper com o passado!"), e diante do olhar extasiado do "novo padre" progressista, a perder de vista, se desenrola a paisagem humana, os campos e as cidades... e então,, a voz do inimigo do gênero humano lhe sussurra aos ouvidos: "Eu te darei tudo isto se, prostrado aos meus pés, tu me adorares"

                                                                                  15-6-68

Observação: O antigo e extinto "Advogado do Diabo" nos processos de beatificação e canonização teria se baseado neste artigo do  escritor católico - Gustavo Corção - para obstar a beatificação do "caridoso" D. Hélder Câmara que gentilmente hospedava o "padre" Comblin. 
  Agora, não o "Advogado do Diabo" mas o Próprio,  o Inimigo do gênero humano terá dito: D. Hélder deve ser canonizado porque acolheu meu grande colaborador Comblin!!! e D. Vital deveria ter sido excomungado como foram Dom Antônio de Castro Mayer e Dom Lefebvre. 
   É obvio que "canonização" no intento do Pai da mentira significa que o agraciado deve ser proclamado como lutador heroico em prol do comunismo, da maçonaria e do progressismo. 

Um comentário:

  1. Dom Hélder, há muitas décadas, era considerado santo nos altares esquerdistas, hoje oficialmente eleito, entronizado e incensado!

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