LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
Consideremos atentamente os sinais certos pelos quais
podemos reconhecer se a confissão foi feita sem dor dos pecados e sem resolução
de não mais recair neles. Em outras palavras, veremos os sinais que mostram
quando não há arrependimento verdadeiro (nem imperfeito=atrição) e não
há por conseguinte propósito firme e eficaz de fugir das ocasiões próximas de
pecados. Pela confissão Deus perdoa quaisquer pecados; mas nunca perdoa quando
há vontade de continuar nos pecados.
- Quando nos confessamos sem querer renunciar o ódio ao próximo.
- Quando se pode e não se quer reparar uma injustiça grave feita ao próximo, em seus bens ou em sua reputação.
- Quando se reincide no pecado de hábito, quer dizer, quando, advertidos pelo confessor, não deixamos, entretanto, de recair com a mesma frequência nos mesmos pecados mortais do costume, sem nenhuma correção, e sem que sejam empregados os meios de emenda.
- Quando nos confessamos sem querer sinceramente deixar a ocasião próxima voluntária do pecado mortal.
Os defeitos que acabamos de enumerar e explicar tornam as
confissões inválidas, quer dizer, nulas; e portanto, é preciso renová-las, como
se nunca tivessem sido feitas desde a época em que são nulas. São, além disso,
sacrílegas quando assim feitas cientemente. O sujeito está consciente de não
ter os sinais de arrependimento, sabe que quer continuar fazendo todos ou
alguns ou mesmo que seja um só dos pecados mortais e faz a sua confissão assim
mesmo. Faz sacrilégio, e, se comunga faz outro sacrilégio.
A esta altura, talvez haja quem pergunte: padre, devo fazer
uma confissão geral? Caríssimo, é a tua consciência que cabe resolver esta
questão, conforme tudo o que acabamos de dizer.
Ser-me-á impossível, dizeis, fazer uma confissão geral.
Tenho já idade: como poderei lembrar-me de todos os pecados da minha vida? -
Caríssimos, com boa vontade é possível e mesmo fácil fazer uma confissão
geral.
Primeiro que tudo, recordai
com mágoa todos os anos da vossa vida (Isaías, XXXVIII, 16). Tomai para
este negócio o tempo suficiente para vos recolherdes, pois trata-se de uma
coisa muito séria.
Para indicar o número dos vossos pecados, eis aqui como
podeis fazer. Deixai de lado os pecados veniais, ou não os acuseis senão no
fim; não resta, pois, senão a confissão dos pecados mortais, que serão - ou
casos particulares ou pecados habituais. Se são casos particulares, um pouco de
reflexão bastará para vos lembrardes deles. Se são pecados habituais, examinai
por quanto tempo durou este hábito e
quantas vezes, pouco mais ou menos, caístes no pecado por ano, ou por mês ou
por semana, ou mesmo por dia. Não é verdade que desta maneira é fácil fazer uma
confissão geral?
Contudo, se encontrardes alguma dificuldade em fazê-la,
dizei ao confessor: "Padre, desejo fazer uma confissão geral, peço-vos que
me ajudeis". No mesmo instante, o confessor vos interrogará, de modo que
vos basta responder-lhe com sinceridade. Oh! como é consolador para um ministro
de Deus ver a seus pés uma alma bem disposta e arrependida! A alegria do padre
é indescritível, e levá-la-á para o túmulo. Bem feita a confissão geral, grande
outrossim é a alegria do penitente.
Vou contar-vos um fato lido na vida de São Vicente de Paulo:
Este grande santo da caridade, foi um dia chamado para confessar um fazendeiro
que estava perigosamente doente. Conquanto tivesse sempre gozado da reputação
de homem honrado, o padre Vicente de Paulo o excitou a fazer uma confissão
geral, para pôr a sua salvação em maior segurança. Ora, o resultado provou que
aquele pensamento vinha de Deus, que queria retirar aquela pobre alma do abismo
eterno em que ia cair. Era rico mas certamente praticava a caridade para com os
pobres. Quem o acreditaria, se não conhecesse a fraqueza do coração humano?
Ainda que esse homem tivesse recebido várias vezes os últimos sacramentos, em
várias moléstias muito graves, que tivera, achava ele que tinha a consciência
carregada de sacrilégios desde a mocidade. Na alegria que experimentava em ter
feito a confissão com o padre Vicente de Paulo, ele mesmo anunciava abertamente
a todos que iam vê-lo: "Ah! eu estaria condenado se não tivesse feito uma
confissão geral, por causa dos pecados que nunca ousei confessar". Morreu
três dias depois, com os mais vivos sentimentos de reconhecimento para com
Deus. A senhora Duquesa de Gondi ouviu as declarações muito admirada: Ah! que
acabamos de ouvir? Se este homem, que passava por um homem honrado, estava em
perigo de condenação, que será dos outros que vivem tão mal!". Ela
empregou desde então a sua fortuna em estabelecer e fundar missões,
considerando-as uma obra necessária à salvação das almas. São Vicente de Paulo
fundou a Ordem dos Missionários Lazaristas.
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