Caríssimos, Jesus deu aos sacerdotes o poder de perdoar ou
não perdoar. O confessor tem obrigação de recusar a absolvição a quem não está
arrependido, a quem por exemplo, apesar das advertências paternais do
sacerdote, não quer de modo algum deixar a ocasião próxima fumegante de pecado.
Só para dar um exemplo: alguém divorciado(a) da(o) verdadeira(o) esposa(o),
vive com outra(o) e não quer se separar e deixar a vida adúltera. O confessor
deve fazer de tudo para converter esta pessoa que está no adultério, e, não o
conseguindo, nega-lhe a absolvição e consequentemente veda-lhe a comunhão. O
confessor deve dizer a esta pessoa impenitente que ela está em perigo de
condenação, está na ladeira escorregadia do inferno, e, se comungar, estará
comendo sua própria condenação.
É muito duro para o confessor, ver-se obrigado a chegar a
este extremo! A maior alegria do sacerdote é celebrar o Santo Sacrifício e
salvar almas no confessionário. Mas o sacerdote zeloso, deve dizer para Jesus
Cristo: - Mestre, fiz o que pude com a vossa graça; agora continuarei rezando e
fazendo alguma penitência para conversão deste pecador(a).
Mas, caríssimos, infelizmente, há certos cristãos que
murmuram e se irritam quando não recebem a absolvição. Esquecem que o confessor
é seu pai, mas é também seu juiz. Conceder muito facilmente a absolvição seria
favorecer a desordem em lugar de impedi-la, pois muitos pecadores não
compreendem a gravidade do pecado e a necessidade de romper com a má ocasião,
senão quando a absolvição lhes é adiada. Além disto, para o pecador indisposto,
a absolvição longe de ser um bem seria um mal e em vez de justificá-lo, não
faria senão torná-lo mais indigno e mais criminoso diante de Deus. Infeliz do
confessor que desse a absolvição, sabendo que deveria em consciência recusá-la!
Profanaria o sangue de Jesus Cristo.
Então, que deve fazer o pecador a quem foi recusada a
absolvição? São quatro coisas:
1.
Não deve desesperar, pois a recusa da absolvição
não tem por fim a perda do pecador, mas antes sua emenda e sua salvação. Quando
o confessor se vê obrigado a negar a absolvição, ele faz isto lembrado da
palavra do Senhor: "Eu não quero a morte do pecador".
2.
É preciso que se converta deplorando suas faltas,
pondo em prática os avisos do confessor, e procurando tornar-se digno o mais
depressa possível da misericórdia de Deus segundo aquilo que lemos em Ezequiel,
XXXIII, 11: "Quando eu disser ao
ímpio: Vós morrereis certamente; se ele fizer penitência, viverá e não
morrerá". Aqui é oportuno lembrar que penitência deve ser
primeiramente interior, e em consequência desta, devem haver as penitências
exteriores. Como diz o Divino Espírito Santo pela boca do profeta Joel: "Deveis rasgar os vossos
corações". Daí, de nada adiantaria o pecador fazer até grandes
penitências exteriores se não estivesse arrependido interiormente, o que
significa ter vontade decidida de deixar as ocasiões do pecado.
3.
Deve orar muito. Sem a oração é impossível
arrepender-se, sair do pecado, resistir às tentações; mas Deus nunca recusou
sua graça e sua misericórdia àquele que a implora.
4.
É-lhe preciso principalmente a humildade. Pobres pecadores, reconhecei os vossos erros e
Deus terá piedade de vós: "Deus não
repele o coração contrito e humilhado" (Salmo 50). Diz São Gregório:
"O orgulhoso traz em sua fronte o selo da reprovação". O s humildes,
porém, embora tenham sido os maiores pecadores do mundo, são marcados com o
selo da predestinação ao Céu. Isto por que?
É que: "Deus resiste ao
soberbos, e dá sua graça aos humildes" (1 Pedro, V, 5). "Eu pequei antes de ser humilhado",
dizia Davi; depois exclama: "Foi-me
bom ter sido humilhado" (Salmo 118, 67-71). Caríssimos filhos
espirituais, dizei com Jó: "Eu
pequei, ofendi verdadeiramente a Deus, e não tenho sido castigado como o
merecia" (Jó, XXXIII, 27).
5.
Se com tais sentimentos, fordes, caríssimos, procurar
o confessor, ele vos receberá de braços abertos, e exclamará feliz como o pai
do filho pródigo: "Meu filho estava
perdido, e ei-lo achado; estava morto, ei-lo ressuscitado" (S. Lucas,
XV, 24). Reconhecereis então que o confessor, bem longe de ser vosso inimigo, é
ao contrário o vosso mais devotado amigo. Reconhecereis que ele, se vendo
obrigado a negar a absolvição, usou da verdadeira misericórdia; se desse,
porém, a absolvição sem estardes bem dispostos, aí sim, teria cometido um ato
de monstruosa impiedade. Vereis, portanto, que ele vos amava mesmo quando
pecador, com os sentimentos do bondoso São Francisco de Sales, que não temia
dizer: "Eu amo os homens maus e não há senão Deus que os ame mais do que
eu". Amém!
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