quinta-feira, 15 de novembro de 2012

QUESTIONAMENTO E DIÁLOGO

Extraído do Livro "DO LIBERALISMO À APOSTASIA", escrito por D. Lefebvre

O Questionamento
   
   Temos visto que o espírito católico-liberal não tem suficiente confiança na verdade. O espírito conciliar, por sus vez, perde a esperança de conseguir chegar à verdade; sem dúvida a verdade existe, mas ela passa a ser objeto de uma procura sem fim.
   Veremos que isto significa que a sociedade não se pode organizar sobre a verdade, verdade que é Jesus Cristo. Em tudo isto, a palavra chave é "questionamento", ou orientação, tendência para a verdade, procura da verdade, caminho para a verdade. Na linguagem conciliar e post-conciliar encontra-se com abundância os termos "movimento" e "dinâmica".
   Com efeito, o Concílio Vaticano II canonizou a procura em sua Declaração sobre a liberdade religiosa: "A verdade deve ser procurada conforme o modelo próprio da pessoa humana e de sua natureza social, ou seja, por meio da livre procura..." O Concílio põe a procura em primeiro lugar, antes do ensino e da educação. Entretanto a realidade é outra: as convicções religiosas são impostas pela educação das crianças, e uma vez que estão fixadas nos espíritos e manifestadas nos cultos religiosos, para que procurá-las? 
   Por outro lado, muito raramente a "livre procura" conseguiu alcançar a verdade religiosa e filosófica. O grande Aristóteles não está isento de erros. A filosofia do livre exame acaba em Hegel... E também, que dizer das verdades sobrenaturais? eis o que diz São Paulo falando aos pagãos: "Como poderão crer, se não lhes fazem prédicas? Como se poderá pregar, se não lhes enviam missões? (Rom. X, 15). Não é o questionamento que a Igreja deve pregar, mas a necessidade das missões: "Ide e ensinai todas as nações" (Mt. XXVIII,19), tal é a ordem dada por Nosso Senhor. Sem a ajuda do Magistério da Igreja, quantas almas poderão encontrar a verdade, permanecer na verdade? A livre procura é um irrealismo total, no fundo um naturalismo radical. Na prática, qual a diferença entre quem se questiona e um livre pensador?

O Diálogo
  O diálogo não é uma descoberta conciliar, Paulo VI em "Ecclesiam Suam" (1) é o seu autor: diálogo com o mundo, com as outras religiões; mas é preciso reconhecer que o Concílio aumentou imensamente sua tendência liberal. Exemplo:

     "A verdade deve ser procurada (...) por meio (...) de um intercâmbio e de um diálogo para que uns exponham aos outros a verdade que encontraram ou pensam haver encontrado para se ajudarem mutuamente na procura da verdade" (DH. 3).
  
  Assim, tanto o crente como o não crente deveriam estar sempre em procura. São Paulo entretanto, denunciou os falsos doutores "que estão sempre aprendendo sem nunca chegar à verdade" (2Tim. III, 7). .Por seu lado, o não crente pensaria em fornecer ao crente elementos da verdade que lhe faltaram! O Santo Ofício, em sua Instrução de 20 de Dezembro de 1949, sobre o ecumenismo, afastava este erro e falando da volta dos cristãos separados para a Igreja católica, escrevia:

     "Deve-se evitar falar sobre isso de um modo tal que ao voltar à Igreja, eles imaginem que tragam para ela algo de essencial que lhe teria faltado até então". (2). 

  O contato com não católicos só pode nos trazer experiências humanas, mas nunca elementos doutrinais!
  Além disso o Concílio modificou consideravelmente a atitude da Igreja diante das outras religiões, em particular das não-cristãs. Na entrevista que eu tive em 13 de Setembro de 1975 com o secretário de Mons. Nestor Adam, então bispo de Sion na Suíça, o secretário estava de acordo comigo: "Sim, algo mudou na orientação missionária da Igreja". Mas ele acrescentava: "...e tinha mesmo que mudar". "Por exemplo, dizia ele ainda, agora nós procuramos naqueles que não são cristãos ou nos que se separaram da Igreja, o que há neles de bom, de positivo; procuramos ver nos seus valores os germes de sua salvação."

  É claro que todo erro tem lados verdadeiros, positivos; não há erro em estado puro, assim como o mal absoluto não existe. O mal é a corrupção de um bem; o erro é a corrupção da verdade, mesmo sendo evidente que a pessoa má ou errada conserva sua natureza, suas qualidades naturais, algumas verdades. Mas há grande perigo em tomar este resto de verdade não atingido pelo erro como base. O que deveríamos pensar de um médico que, chamado para assistir um doente grave chegasse dizendo: - "Ainda há muita saúde neste doente, isso é que conta". Você poderia objetar:  - "Mas é melhor examinar a doença antes que ele morra!" E o médico a insistir: - "Ah! mas ele não está tão doente. Além disso meu método de trabalho é de não prestar atenção à doença de meus pacientes: isso é negativo; eu me volto para a saúde que lhe resta." Então diria eu, deixemos que morram os doentes! O resultado é que à força de se dizer aos não-católicos ou aos não-cristãos: "afinal vocês têm uma consciência reta, vocês têm meios de salvação" eles acabam acreditando que não estão doentes. E depois, como os converter?

  Nunca tal espírito foi o da Igreja. Pelo contrário, o espírito missionário foi sempre o de mostrar abertamente aos enfermos suas chagas, para curá-los e dar-lhes os remédios de que necessitavam. É uma crueldade encontrar-se com não cristãos e não lhes dizer que têm necessidade da Religião cristã, e que somente se podem salvar por Nosso Senhor Jesus Cristo. Sem dúvida no começo de uma conversão se faz uma "captatio benevolentiae", (3) elogiando o que há de honesto em sua religião, ou seja, o que é legítimo; mas fazer disso um princípio doutrinal é um erro, é enganar as almas! "Valores salvíficos das outras religiões": isto é uma heresia! Fazer deles a base do apostolado missionário é querer manter as almas no erro. Este "diálogo" é anti-missionário ao extremo. Nosso Senhor não enviou seus apóstolos para dialogar, mas para pregar. Por ser este espírito de diálogo liberal  o recomendado aos sacerdotes e missionários desde o concílio, entende-se porque a Igreja Conciliar perdeu completamente o zelo missionário, o verdadeiro espírito da Igreja.  

NOTAS: (1) - Esta Encíclica é de 6 de Agosto de 1964.
                 (2) - Instrução "De Motione Oecumenica".
            (3) - "Captar a benevolência". D. Lefebvre era missionário e sabia bem o que significa isto: o missionário ao chegar para início de alguma missão deve em primeiro lugar atrair a simpatia dos ouvintes: mansidão, tolerância de algumas coisas que por prudência vai corrigindo aos poucos ( exemplo: falta de modéstia) e também elogios, como diz D. Lefebvre, das coisas honestas e legítimas;  obras de caridade, como fizeram os santos, por ex. São Vicente de Paulo.
  Estive em Jerusalém em 2000 e, estando perto do muro das lamentações, conversava com o sr. Leão, nosso guia, que era da religião judaica. Perguntei a ele: Não quero só sua opinião particular, queria saber qual foi a reação dos judeus e muçulmanos pelo fato de o Papa ter beijado o livro do Alcorão e ter rezado ali no muro das lamentações e ter ali deixado um escrito pedindo perdão pelas (pretensas) faltas da Igreja com relação a eles. O Sr. Leão respondeu-me: "Todos achamos ótimo. Afinal a Igreja  Católica vem reconhecendo que nós estamos certos!" 
  Quando dissemos ao Sr. Leão que iríamos rezar para ele se converter, respondeu-nos: - "Também irei rezar para vocês católicos se converterem".  
   No monte das Oliveiras, na Igreja do Pater Noster que é também um Carmelo, e lá vemos o "Pater Noster" escrito em todas as línguas. Foi ali que Jesus ensinou o Pai-Nosso. Pedimos, então ao Sr. Leão que lesse para nós o Pai-Nosso em hebraico e aramaico, línguas em que Jesus falou. Ele leu, mas não falou o Amém. E lá está escrito. Perguntamos a ele o porquê. Respondeu: "O 'Amém' confirma o que Jesus ensinou e nós judeus não aceitamos a Jesus". 
   Uma árvore má não pode dar bons frutos!

      
  

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