quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O PAPA LIBÉRIO - (continuação - III)

  Na época do Arianismo houve muitos Concílios e foram feitas nove fórmulas de Fé que os Orientais propuseram aos Ocidentais para serem assinadas por eles. Se o Papa Libério realmente tenha assinado alguma delas, por tudo o que dizem os historiadores, podemos concluir que o Papa  assinou alguma fórmula que não continha o palavra "omoousios" (=consubstancial) mas que com outras palavras exprimia a mesma coisa. Teria sido ou a fórmula quarta de Antioquia ou a terceira de Sírmio.  Percebemos com facilidade que todos os autores ao se referirem a suposta queda de Libério, se baseiam em Santo Atanásio, Santo Hilário e São Jerônimo. Estes grandes santos foram os denodados e intrépidos defensores da fórmula Nicena, ou seja da palavra "omoousios" (=Consubstancial). Assim sendo, o fato de o Papa Libério ter assinado alguma fórmula que não continha esta palavra capital, fora considerado por Santo Atanásio como uma fraqueza e uma queda; por São Jerônimo, uma "uma perversidade herética" e por isso também consideraram que o Papa Libério teria entrado em comunhão com os arianos, teria abandonado a causa de Atanásio e até, segunda as supostas cartas de Santo Atanásio que Santo Hilário trazia consigo ( Fragmenta) o Papa Libério teria excomungado a Santo Atanásio. Mas tudo isto fica inteiramente no campo das suposições, já que os documentos em que tais autores se baseiam, são de autenticidade, pelo menos duvidosa. 
   Assim as sentenças ou juízos sobre o Papa Libério São três: 
   1. Os autores que isentam inteiramente o Papa Libério de qualquer culpa, de qualquer queda. Destes autores, os principais são: Órsio, Hilting, Belarmino, Zacaria, Palma, Dumont, Remerding, Scernermann, Wouthers, etc. Estes se baseiam nos testemunhos de Santo Ambrósio, de Sulpício Severo e de Teodoreto. E quanto aos testemunhos de Santo Atanásio e Santo Hilário, estes grandes autores os consideram falsificados pelos arianos, e assim os rejeitam.  

   2- Os autores que julgam que o Papa Libério tenha assinado uma fórmula ortodoxa, ou a Quarta de Antioquia, ou a Terceira de Sírmio.
 Segundo eles estas fórmulas de fé embora omitissem a palavra "omoousios" (consubstancial), no entanto traduziam através de uma paráfrase o mesmo sentido da palavra "omoousios". 
  Estes autores são: Hefele, Funck, Kraus, Hergenroether, e o célebre Duchesne. Ele se apoiam no testemunho de Santo Atanásio, de Santo Hilário e de São Jerônimo, mas os explicando no sentido que acima já transmitimos. 

   3- E finalmente aqueles que acusam o Papa Libério de ter assinado uma fórmula Ariana:  a Segunda de Sírmio. 
    Estes autores são: Inácio Döllinger, Barônio, Natal Alexandre e o Cardeal de La Luzerne. 
    Quanto ao grande Bossuet, é certo que no início fora desta opinião, mas mais tarde ele mesmo suprimiu, nos seus escritos, tudo quanto dissera da pretensa queda de Libério e conclui que ainda mesmo que esse papa tivesse subscrito uma fórmula duvidosa, isso não constituía uma defecção sobre a Sede de Pedro: com efeito, continua Bossuet,  este ato não constituía um ensino dogmático dado ao mundo "ex cathedra". 
   Muito interessante é a observação do célebre Mons. Cauly: "O Papa Libério teria realmente subscrito uma fórmula favorável ao arianismo? A opinião dos que negam parece tanto mais verossímil, que os católicos da época de Libério não julgaram que esse papa fosse culpado ou fautor de heresia. Com efeito, enquanto condenavam pelos juízos mais severos a memória de Ósio de Córdoba, legado do Papa, é para extranhar que os bispos e o povo romano tenham recebido triunfalmente, depois do seu exílio, um Sumo Pontífice cuja queda tivesse sido celebrada pelos arianos como uma vitória. A ser real, essa queda não teria passado despercebida entre os católicos". 

  Outra autoridade não menos célebre e erudita é a do Padre  Leonel Franca. No seu Livro "A IGREJA, A REFORMA E A CIVILIZAÇÃO", refutando as objeções do protestante sr. Carlos Pereira. Este tentava provar que Libério professou o arianismo. Responde o grande Jesuíta: "Outra falsidade histórica. Libério provavelmente não subscreveu nenhuma fórmula e se alguma assinou foi a primeira de Sírmio que é ortodoxa. É notável, continua o Padre Leonel Franca, como até os centuriadores de Magdeburgo, fina flor do calvinismo, na sua vasta obra composta acinte contra a Igreja católica tenham vindicado o caluniado papa da imputação malévola: "constantem certe in professione fidei Nicoenae mansisse exemplum Macedoniorum... indicat". Em Português: "O exemplo dos Macedônios indica que (Libério) com certeza, permaneceu constante na profissão da Fé de Niceia".  

Observação: Queria esclarecer que de todas as fórmulas de fé, a única que é abertamente ariana é a segunda de Sírmio (a.357). A primeira de Sírmio  traz em lugar de "omoousios" a palavra "omoiousios", isto é, "Filius omnino similis Patri" (=O Filho é inteiramente (em tudo) semelhante ao Pai). Todos que defendiam esta palavra em lugar da palavra "omoousios" eram tidos como semi-arianos. Na verdade, pelo menos, globalmente falando, isto era uma injustiça. Quem defendia a palavra "omoiousios", nas circunstâncias daqueles tempos, não queria de modo algum ceder ao arianismo, mas defendendo a Divindade do Filho contra Ario, apenas dizia que a palavra "omoousios" além de não se encontrar nas Sagradas Escrituras, podia se interpretada com sabor sabeliano, e não deixava claro a distinção entre as Pessoas da Santíssima Trindade. Como vimos, o Papa Libério reconheceu isto, e os próprios Santo Atanásio e Santo Hilário terminaram mais tarde, passado o ardor das discussões, reconhecendo que, embora nunca se devesse renunciar o termo "omoousios" mas explicá-lo devidamente,  admitiam, no entanto, a ortodoxia do termo "omoiousios" desde que também fosse bem explicado à luz do Concílio de Niceia. 
   
  

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