"Sim, sim; não, não" é norma do Evangelho que deve ser aplicada também em História. Em outras palavras: dizer como certo o que realmente o é; como duvidoso, o que é duvidoso; como errado, o que é realmente errado.
Assim na História uma preocupação primordial e precípua é a de averiguar por todos os meios possíveis a autenticidade das fontes, ou seja, dos documentos. Estabelecer, por exemplo, uma tese baseando-se sobre documentos de autenticidade duvidosa; e, pior ainda, de reconhecida falsidade, é construir sobre areia. Tal tese estaria fadada à completa ruína. Só a verdade nos dá a liberdade da segurança e a vitória. Jesus Cristo disse a Pilatos: "Eu sou Rei; para isto vim ao mundo para dar testemunho da Verdade".
Eis brevemente alguns exemplos: O famoso historiador eclesiástico de Munique Inácio Döllinger, que desde algum tempo vinha já demonstrando um certa hostilidade contra o papado e a Cúria, quando o Papa Pio IX colocou na pauta principal do Concílio Vaticano I, a definição do Dogma da Infalibilidade Pontifícia, ele se mostrou contra, e, aduzindo os exemplos de Libério e de Honório I, lutou ferrenhamente contra a Infalibilidade do Papa e terminou morrendo na heresia e no cisma, depois de ter fundado a seita dos "Velhos Católicos" que até hoje se consideram os verdadeiros católicos.
Também os Protestantes de todos os tempos e matizes citam infalivelmente os exemplos de Libério e de Honório I para combater a Infalibilidade Pontifícia.
Nos nossos dias, alguns sedevacantistas ( com Homero Johas e outros) tentam se basear nestes mesmos exemplos da História.
Continuemos as considerações sobre o Papa Libério.
No post anterior demos uma resenha dos documentos que chegaram até nós. Sobre alguns já fizemos alguns comentários e análise.
Dos documentos citados no post anterior, que podemos aduzir de certo? Primeiramente que, na Sede de Roma, tanto antes como depois do exílio, o Papa Libério defendeu denodadamente a ortodoxia, e especificamente tomou a defesa de Santo Atanásio, o arauto da ortodoxia contra o Arianismo. É certo que o Imperador ariano Constâncio, mandou Libério para o exílio por ter defendido com toda firmeza a causa da fé que era defendida por sua vez por Santo Atanásio.
É certo que o imperador Constâncio procurou isolar Libério inteiramente dos seus conselheiros e de todo e qualquer lutador pró ortodoxia e contra o Arianismo. Por outro lado fez que Libério lá no exílio em Bereia fosse cercado só de inimigos arianos, especialmente encarregando o bispo do lugar Demófilo para estar sempre junto de Libério, armando-lhe todos os dias ciladas e conjurando-o a ceder aos desejos do Imperador ariano Constâncio. É certo que Libério durante o exílio sofreu um verdadeiro martírio físico e moral.
É historicamente certo que o Imperador Constâncio, depois de ter mandado o Papa Libério para o exílio, nomeou o diácono Félix como papa, e este teve a fraqueza de aceitar. Mas este anti-papa foi logo expulso pelo próprio povo católico romano. O Imperador no Circo teve oportunidade de ouvir o povo católico gritando o nome do Papa Libério e pedindo que o Imperador o trouxesse de volta para Roma. O Imperador quis fazer uma composição esdrúxula pretendendo colocar em Roma dois papas: Félix e Atanásio. O povo zombava e dizia: Imperador, só existe um Deus e só existe um Papa e este é Libério. As próprias Matronas Romanas fizeram um pedido público ao Imperador: trazer de volta o Papa Libério. Como já disse, o povo e também o Senado de Roma expulsaram o ilegítimo papa Félix, que aliás não demorou muito (em 22/11/365) tempo foi chamado pelo Supremo Juiz a prestar contas (morreu antes do Papa Libério). Uma outra notícia certa e de capital importância é que o Papa Libério no exílio, como vimos acima, não tinha como se defender das calúnias dos arianos, e estes por sua vez tinham todo interesse que Atanásio fosse por elas influenciado. Temos todos os motivos para nos perguntarmos: Se Libério estava no exílio cercado só de arianos ferrenhos e inescrupulosos, quem teria espalhado a notícia de que Libério tinha assinado uma fórmula que não era a do Concílio de Niceia? É certo que esta fórmula supostamente assinada por Libério nunca foi vista por ninguém. Se ela existiu, só os arianos tinham condição de dar-lhe sumiço. Mas não há explicação plausível para tal atitude. O interesse dos arianos, pelo contrário, seria o de publicá-la pelos quatro ventos da terra. E tanto mais, que eles tinham facilidade em fazê-lo, porque tinham o Imperador Constâncio a seu lado. Mais importante ainda é a notícia certa dada pelo historiador Sozômeno na sua Historia Ecclesiastica, IV, 15, onde afirma categoricamente que o Papa Libério já deixado o exílio de Bereia, estando em Sírmio chamado aí pelo próprio imperador para tomar parte num Concilio por ele (imperador) convocado, e sabendo que os arianos (anomeanos) tinham espalhado o boato de que ele Libério tinha rejeitado o "omoousios" (consubstancial) do Concílio de Niceia e que tinha professado uma doutrina própria, entregou a Basílio de Ancira um formulário onde ele declara excomungados todos aqueles que não cressem que o Filho é semelhante ao Pai em substância e em todas as coisas. Depois os próprios Santo Hilário e Santo Atanásio reconheceram que o termo "omoiousios" (semelhante) assim devidamente explicado equivaleria ao termo "omoousios". É o que veremos, se Deus quiser no próximo post. Pasmem muitos embora, é, no entanto verdade histórica, que ambos, Atanásio e Hilário fizeram um "acordo" com os que antes eram considerados "semi-arianos" ou chamado "omoiousianos". Para esta "reconciliação de paz" Santo Hilário escreveu um livro "De Synodis"; Santo Atanásio pouco depois escreveu para o mesmo fim também um livro, por sinal com o mesmo nome "De Synodis". É o que veremos, se Deus quiser, no próximo post.
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