quarta-feira, 19 de agosto de 2020

A PANDEMIA NOS QUESTIONA

A PANDEMIA NOS QUESTIONA

 

                                                          Dom Fernando Arêas Rifan*

 

Átila, rei nos Hunos, pioneiro das incursões bárbaras que assolaram o Império Romano, invadiu a Europa com tanta mortandade que não era possível contar o número dos mortos, pilhando e devastando cidades, igrejas e mosteiros, e foi intitulado “o flagelo de Deus”, ou seja, o instrumento de Deus para punir os pecados dos homens.  Só parou às portas de Roma, quando foi ao seu encontro o Papa São Leão I, que o persuadiu a desistir de sua invasão da Itália.

Na Ladainha de Todos os Santos, pedimos a Deus que nos livre dos flagelos, da peste (pandemias), da fome e da guerra. Pode ser que, permitindo o flagelo, Deus espere a nossa conversão e reflexão sobre os desregramentos da humanidade.

Deus às vezes pode usar das doenças e calamidades, mesmo sem as querer, mas só permitir, para que delas possamos tirar algum bem. Não foi a doença que fez o centurião romano, pagão, se aproximar de Jesus para pedir a cura para alguém da sua casa? Na parábola do filho pródigo, não foi a desgraça que o fez voltar para o seu pai? Não foi o assalto e o roubo do judeu na parábola que suscitaram a caridade e a boa ação do samaritano?

Assim também, nessa pandemia atual, permitida por Deus, procuremos tirar todo o bem possível, pois é isso que Deus quer de nós. Ocasião para rezarmos mais, para amarmos mais nossa família e os irmãos, para exercermos a paciência especialmente em nossa vida familiar, praticando a caridade com o próximo. Muitas pessoas, com essa quarentena, aprenderam a rezar mais e melhor, especialmente com a família! Apreciamos todo o esforço dos poderes públicos mesmo insuficiente, a abnegação e o trabalho dedicado dos médicos, e profissionais da saúde em geral, dos policiais, bombeiros e sacerdotes.  Que Deus os abençoe e conforte a eles e suas famílias!

As causas dessa pandemia são ainda obscuras. Mas a falta de cuidado, os desvios de verbas públicas e os pecados acontecidos nesse tempo nos questionam. Mas não é hora de atribuirmos culpa a esse ou àquele. Devemos sim rezar por nós e por todos, como nos ensina a Igreja: “O Apóstolo exorta-nos a fazer súplicas e ações de graças pelos reis e por todos aqueles que exercem a autoridade, ‘a fim de que possamos ter uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade’ (1Tm 2,2)” (Catecismo da Igreja Católica, n. 2240).

 “Peçamos a graça de saber rezar uns pelos outros. São Paulo exortava os cristãos a rezar por todos, mas em primeiro lugar por quem governa (cf. 1Tm 2,1-3). ‘Mas este governante é…’, e os adjetivos são muitos. Não os digo, porque este não é o momento nem o lugar para repetir os adjetivos que se ouvem contra os governantes. Deixemos que Deus os julgue! Nós rezemos pelos governantes. Rezemos… Precisam da nossa oração. É uma tarefa que o Senhor nos confia. Temo-la cumprido? Ou limitamo-nos a falar, a insultar? Quando rezamos, Deus espera que nos lembremos também de quem não pensa como nós...” (Papa Francisco, homilia da Solenidade de São Pedro e São Paulo, 29 de junho de 2020).

 

       

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal

              São João Maria Vianney

http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

  

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