LEITURA ESPIRITUAL
MEDITADA
9º dia de junho
"Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça porque serão
saciados".
Primeiramente, devemos saber que a palavra JUSTIÇA, tem
vários significados. Nas Sagradas Escrituras, como aqui nesta bem-aventurança,
significa tudo aquilo que o justo faz, isto é, toda espécie de virtude. Lemos
no Salmo 105, 3: "Bem-aventurados os
que praticam a justiça em todo tempo". Devemos prestar atenção no modo
como Jesus fala: não se contentou de dizer que são bem-aventurados os que
"praticam a justiça" mas aqueles que "têm fome e sede" de
justiça. Na verdade para se chegar à santidade é mister praticar todas as
virtudes e em grau heroico. E a bondade do Coração de Jesus é que, não só
consigamos o céu, mas que cheguemos ao maior grau de glória possível lá na
nossa pátria definitiva que é o Céu. Aliás, o próprio divino Mestre
apresenta-nos um ideal inatingível: "Sede perfeitos, como vosso Pai do Céu
é perfeito". Isto significa que Jesus quer que nos esforcemos sempre para
praticar todas as virtudes e num grau heroico. Nunca dizer basta. É também
neste mesmo sentido que diz o Apocalipse, XXII, 11: "Quem é justo, justifique-se ainda, quem é santo, santifique-se
ainda mais". Devemos tender a uma perfeição sempre maior, como se
estivéssemos ainda no começo. Assim, "ter fome e sede de justiça"
significa este esforço contínuo na prática das virtudes.
"Serei saciado
quando aparecer a tua glória" (Salmo 16, 15). Na verdade, aqui na
terra teremos sempre fome e sede de justiça, porque nunca poderemos chegar a
ser tão santos como os bem-aventurados que já estão no Céu. É fora de toda
dúvida que esta fome e sede de perfeição, isto é, este desejo ardente e
perseverante de santidade, levar-nos-á ao céu. É, portanto, um sinal de
predestinação. Só poderemos ser saciados no Céu, onde a justiça será perfeita.
Estas disposições não só te levam ao céu, mas, no céu, a um grau altíssimo.
Nossa Senhora disse: "Encheu de bens
os famintos" (S. Lucas, I, 53). É preciso ter um grande desejo de se
santificar. E quem procurar muito a justiça, no céu será repleto de todo bem.
Vemos a bondade do Coração de Jesus que não se contenta em nos ver no céu;
quer que lá tenhamos a maior glória possível. "A vontade de Deus é a vossa santificação" dizia S. Paulo a
todos, inclusive aos gentios (cf. 1 Tess. IV, 3). Sabemos que o grau de glória
que os bem-aventurados têm no Céu é proporcionado ao grau de graça que
alcançaram na terra até ao último suspiro. Donde devemos procurar praticar o
bem e evitar o mal, e nos esforçarmos ardente e continuamente no sentido de
aumentar o nosso cabedal de
merecimentos.
A esta altura de nossa meditação, lembramo-nos das palavras
de São Pedro: "Assim como o seu
divino poder nos deu todas as coisas que dizem respeito à vida e à piedade, por
meio do conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude [assim
também] por ele mesmo nos deu as maiores e mais preciosas promessas, a fim de
que por elas vos torneis participantes da natureza divina, fugindo da corrupção
da concupiscência que há no mundo. Ora, vós aplicando todo o cuidado, juntai à
vossa fé a virtude, à virtude a ciência, à ciência a temperança, à temperança a
paciência, à paciência a piedade, à piedade o amor fraterno, ao amor fraterno a
caridade. Com efeito, se estas coisas se encontrarem e abundarem em vós, elas
não vos deixarão vazios nem infrutuosos no conhecimento de nosso Senhor Jesus
Cristo.[...] Portanto, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em tornardes certa
a vossa vocação e eleição por meio das boas obras, porque, fazendo isto, não
pecareis jamais. Deste modo vos será dada largamente a entrada no reino eterno
de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo." (2 Pedro, I, 3-11).
Esta bem-aventurança vem em quarto lugar porque Jesus, tendo
nas três anteriores removido o homem do mal, ou seja, do afeto dos bens
terrenos; do desejo de dominar, com a mansidão; do afeto ao prazer corporal,
reprimindo o concupiscível com as lágrimas da compunção, agora quer levar o
homem à pratica do bem: "Afasta te
do mal e faze o bem" (Salmo 36, 27). Jesus Cristo quer que não nos
preocupemos demais com nada deste mundo, para que possamos dar à alma aquele
desejo ardente (como a fome e a sede) de justiça, isto é, de santidade. Assim
diz o profeta e rei Davi: "A minha
alma se consumiu no desejo das tuas leis em todo o tempo" (Salmo 118, 20).
Dadas as explicações anteriores, percebemos mais claramente
que o dom da fortaleza corresponde à esta bem-aventurança. Para merecermos esta
felicidade de sermos inteiramente saciados no céu, é preciso coragem e,
portanto, fortaleza. "O reino do
céus sofre violência e só os violentos o arrebatarão", disse Jesus.
Devemos pedir ao Espírito Santo este dom da fortaleza, e nos esforçarmos sempre
por vencermos a nós mesmos: desprender o coração dos bens materiais, ser
humildes e mansos, fazer penitência dos pecados, ser ardoroso na prática das
virtudes e nunca se contentar com a veleidade e a tibieza. Amém!
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