LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
25 dia de junho
Vimos como o amor humano do Coração de Jesus é imenso,
inefável, admirável. Mas, caríssimos, o amor divino do Coração de Jesus é
infinito, é eterno. É o amor com que o Coração de Jesus nos ama em sua
Divindade. Toda compreensão desta verdade é dada pelo mistério da Encarnação. O Verbo podia e pode ainda dizer: "Eu vos amo pela minha Divindade com um amor comum às três Pessoas divinas, e vos amo pela minha Humanidade. Fui eu quem, em meu corpo e em minha alma humana, sofreu por vós, fui eu, Verbo Eterno quem orou por vós, quem mereceu por vós pela alma santa que tomei no dia de minha Encarnação. Hoje, na morada da glória, deleito meus fiéis pela graça de minha Humanidade e pela glória infinita de minha Divindade".
Em seu Filho, que é o espelho, o esplendor de sua
substância, Seu Verbo, isto é, sua Palavra eterna, Deus Pai sempre nos viu. Amou-nos desde toda eternidade. Tudo
em Deus é infinito, e, portanto, seu amor e sua bondade são infinitos. Deus nos
ama desejando ver-nos felizes pela santidade, felizes da santidade que é fruto
da virtude e do puro amor. Na verdade, ser virtuoso, ser santo, é amar a Deus,
procurar a Deus, dirigir-se a Deus, e o termo da santidade é a posse de Deus. A
graça santificante que Deus nos dá pelo santo Batismo outra coisa não é senão
Deus dando-se à alma, vivendo nela, unindo-se a ela, em uma palavra,
divinizando-a. Eis a explicação de tudo em duas frases bíblicas: "Deus amou tanto o mundo que lhe deu o
seu Filho" e "O Verbo se
fez carne". E por que estes dois mistérios inefáveis? Para que Jesus
Cristo, sendo Deus e Homem, pudesse nos salvar. Como Homem pôde sofrer e morrer
por nós, e sendo Deus, pois, Jesus é uma Pessoa divina, é o Filho de Deus, deu
aos seus sofrimentos e à sua Morte um valor infinito.
Mas por que Deus nos ama com esse ardor infinito? Em nós
nada há que possa excitar tanto amor. As qualidades que temos, Deus no-las deu
por amor. Amou-nos, portanto, antes destas qualidades, antes de todos os nossos
atos. Na verdade, onde abundou em nós o pecado, Deus fez superabundar a graça.
Supriu todas as nossas fraquezas e reparou todas as nossas loucuras. Tudo
quanto Deus faz por nós é a mais gratuita das liberalidades.
Deus nos ama porque Ele é o Amor. Em relação às criaturas, o
amor de Deus é livre; mas quão bem responde aos desejos de seu Coração! Na
verdade, Deus sendo a própria Bondade, se compraz em amar: "Bonum est sui diffusivum". Levado
por este amor infinito, Deus concede-nos os seus dons, dons sobrenaturais e
divinos.
Mas Deus quer também ser amado. "Deus tem um tal desejo
que O amemos, diz o autor espiritual Tauler, que desse amor parece depender a
sua felicidade. Todas as criaturas são outras tantas vozes que nos convidam a
amá-Lo. Tudo o que Ele fez, tudo o que ainda faz, Ele o fez ou faz para levar a alma a ouvir-Lhe as súplicas e a amá-Lo. Assim o menor ato de amor da mais
miserável de suas criaturas O encanta mais que toda a magnificência de suas
obras materiais, ou todo o esplendor dos astros, com que guarneceu o espaço.
Parece não poder suportar a perda do nosso amor e todas as suas obras, quer na
ordem da natureza, quer na da graça, são feitas para ganhar os nossos corações,
e os mesmos castigos eternos, pelos quais pune as almas ingratas e obstinadas e
os corações pertinazmente fechados ao amor, visam ainda levar outros corações a
se abrirem ao amor de seu Coração. "Deus, diz ainda Tauler, é mais pronto
em perdoar que um braseiro em consumir algumas palhas ou estopas lançadas nas
chamas"; "Uma mãe, vendo queimar-se o seu filho, não corre mais
pressurosa em seu auxílio do que Deus em auxílio do pecador".
Caríssimos, quão doloroso há de ser para o Coração amante de Jesus
o excesso de tanta bondade sua, de uma parte, e de tamanha ingratidão de nossa parte!
"Meus olhos, diz Deus pelo profeta, derramaram rios de lágrimas, porque
não é observada a lei" (Salmo 118, 136). Se nos foi dado, através destas
reflexões que venho fazendo neste mês sobre o amor do Coração de Jesus, compreender
sua ternura e amor, caríssimos, devemos esforçar-nos por compensá-los pela
nossa generosidade e fidelidade. Hoje, quando reina o indiferentismo religioso
por falta de fé em Deus e de amor a Ele, hoje quando poucos amam
verdadeiramente a Deus sobre todas as coisas, será um desagravo muito suave ao
Coração de Jesus, o nosso amor ardente. Peçamos sempre: "Coração de Jesus,
Homem-Deus, que tanto nos amais, fazei que Vos ame cada vez mais!" Amém!
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