LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
11º dia
11º dia
"Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus".
Primeiramente é necessário entender bem o que vem a ser os
puros de coração. É evidente que "coração" aqui é tomado no sentido
figurado ou metafórico. Puros de coração são aqueles que chegam a ter puras as
três potências da alma: inteligência, memória e vontade. Quando se tira destas
três potências tudo que no seu gênero as torna menos puras, ou menos sinceras,
então podemos dizer que o coração é puro. A inteligência deve ser depurada de
toda doutrina falsa, de todos os maus juízos. A memória deve ser purificada
esquecendo tudo aquilo que, recordando, afasta a alma de Deus. A vontade deverá
purificar-se não só das culpas, mesmo leves, mas também do afeto a elas. Além
disso, devem ser banidas as intenções não retas de agradar a outrem que não a
Deus só; devem ser rejeitados os prazeres carnais, os apetites do corpo, e
finalmente, os movimentos inadvertidos que os sentidos rebeldes estão prontos a
depreciar. A Sagrada Escritura diz: "Purifiquemo-nos
de toda imundície da carne e do espírito, levando a bom termo a obra de nossa
santificação no temor de Deus" (2 Cor. VII, 1). Mas alguém pode
objetar o que diz o Espírito Santo: "Quem
pode dizer: o meu coração esta sem mancha?" Certamente, mas também
ninguém neste mundo pode chegar a amar a Deus de todo o seu coração, e todavia
todos temos este mandamento: "Amarás
o Senhor teu Deus de todo o teu coração" (S. Mateus, XXII, 37). Também
ninguém pode chegar a ter a perfeição de Deus, e no entanto, Jesus disse: "Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é
perfeito". Nosso Senhor coloca diante de nossos olhos um ideal
verdadeiramente inatingível, para a gente se esforçar por avançar o mais que
puder: "Quem é santo, santifique-se
ainda, quem é justo justifique-se ainda" (Apocalipse XXII, 11) Assim,
quanto mais nos aproximarmos da pureza infinita que é Deus, mais seremos
bem-aventurados e melhor veremos a Deus.
Por isso esta pureza de coração, isto é, no intelecto, na
memória e na vontade, é sinal imediato de predestinação. É de fé que o homem
peregrino e viajor neste vale de lágrimas não pode ver a Deus, senão
imperfeitamente, como num enigma: "O
homem não pode ver-Me e ficar vivo" (Êxodo XXXIII, 20). A plenitude da
visão de Deus só se gozará toda no céu. E é neste sentido que Jesus Cristo
proclamou esta sexta bem-aventurança: "Bem-aventurados
os puros de coração, porque verão a Deus". Até o verbo no futuro - verão
- é um indicativo disto.
E como chegar a consecução desta pureza que habilita a
pessoa a ver a Deus? A limpeza do coração se faz com o exame frequente do mal
cometido e com o arrependimento e propósito firme e eficaz. Depois é mister
fazer obras de penitência ou satisfação. Finalmente, aproximar-se com estas
devidas disposições, dos sacramentos da confissão e da comunhão. É óbvio que
tudo isto será valioso com a fé, segundo diz São Paulo: "A fé que purifica seus corações" (Atos, XV, 9). O mérito
da fé consiste em crer firmemente no que não se vê, assim a sua recompensa
correspondente será ver claramente aquilo em que se creu firmemente.
Ficando o homem bem disposto com as bem-aventuranças
precedentes, estará preparado para aproximar-se de Deus. Jesus exigindo a
pureza como condição para merecer ver a Deus, está advertindo que não basta ter
o coração terno. É preciso também tê-lo puro. É necessária diante de Deus uma
plena pureza interior, e não somente uma pureza de superfície qual era a dos
fariseus. Mas já não foi citado Tobias,
XII, 9: "A esmola purifica dos
pecados"? Sim! Mas uma coisa é fazer esmola para alcançar de Deus a
graça de sair do pecado, outra coisa bem diferente, é fazê-la com o fim de
permanecer na lama até o fim e depois pretender salvar-se. Isso significaria
que a pessoa com a esmola estivesse querendo fomentar a vida de pecado.
O dom da inteligência corresponde a esta bem-aventurança. Se
o homem animal não pode compreender as coisas de Deus, o homem puro de coração,
ao contrário, recebe de Deus uma luz especial sobretudo para entender bem as
Sagradas Escrituras e dar-lhe a legítima interpretação. O Espírito Santo não
quer infundir o sentido das Escrituras em um coração impuro. Daí vemos que os
santos doutores da Igreja, se distinguiam por uma grande pureza e ao mesmo tempo
tinham um dom todo especial para entender os textos sagrados. Amém!
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