Já falamos algo sobre isto. Vamos, hoje, completar nossas
reflexões.
Para melhor compreendê-lo é preciso observar que os teólogos
distinguem, além das obras vivas, três outras espécies de obras: umas
mortíferas, outras nascidas mortas, e,
enfim, as mortificadas. Em latim: opera
mortifera, opera mortua, opera mortificata.
OBRAS MORTÍFERAS: São aquelas que matam a alma, como são os
pecados mortais; pois," o pecado,
consumado que é, produz a morte" (S. Tiago I, 15).
OBRAS MORTAS: São as obras boas por sua natureza, como as
orações, os jejuns, as esmolas, etc. que se fazem em estado de pecado mortal.
São chamadas mortas ao nascer. pois não podem ser vivas, tendo por autor um
morto, nem ser agradáveis a Deus, tendo por autor um inimigo de Deus. É o que
diz São Paulo: "Ainda que
distribuísse todos os meus bens com os pobres, se não tivesse caridade (=a
graça santificante) tudo isto de nada me serviria" (1 Cor. XIII, 3). E
o próprio Jesus Cristo, Nosso Senhor, disse no mesmo sentido: "Assim como a vara não dará fruto de si
mesma, sem estar unida à videira, do mesmo modo vós, se não estiverdes em
mim" (S. João XV, 4). Mas vejam bem, caríssimos, não quer isto dizer
que deva abster-se destas espécies de obras quem está em pecado, sob pretexto
de que elas não são meritórias para o céu; pois, elas têm outras vantagens
muito grandes; principalmente impedem o homem de desacostumar-se das boas obras
e habituar-se ao mal, e ao mesmo tempo inclinam o Senhor a fazer-lhe
misericórdia.
OBRAS FERIDAS DE MORTE (=MORTIFICADAS): São aquelas que
foram feitas em estado de graça e que, neste caso vivas e agradáveis a Deus,
perderam toda a vida e todo o valor posteriormente, porquanto o pecado mortal
veio destruí-las. Pois, o pecado é como um fogo devastador e um veneno mortal:
devasta e consome tudo que encontra no seu caminho. O Senhor diz pela boca de
Ezequiel: "Se o justo se afastar da
sua justiça, e cometer a iniquidade, de todas as justiças que tiver feito não
se fará memória" (Ezequiel XVIII, 24). Estas obras não são nascidas
mortas, são apenas feridas de morte, porquanto elas tiveram vida. Tais foram as
boas obras de Davi e de São Pedro, na ocasião em que um e outro cometeram o
pecado mortal. Pois bem, a absolvição não só chama o homem da morte do pecado à
vida da graça, como também faz reviver este tesouro de boas obras, feridas de
morte pelo pecado. Observai, caríssimos, a longa série de boas obras que a
santa absolvição faz ressuscitar de um só golpe, em um só momento. Momento
feliz que faz reviver os trabalhos e os méritos de longos anos! É então que o
Senhor diz como Isaac, respirando o bom odor das vestes de Jacó: "O odor do meu filho é igual ao odor de
um campo fecundo que o Senhor abençoou" (Gen. XXVII, 27). Pois, na
expressão de São Paulo, o justo é o bom
odor de Jesus Cristo (Cf. 2 Cor. II, 25).
O que acabamos de meditar, leva-nos a refletir nesta bela
exclamação de São João Crisóstomo: "Ó, como a clemência do Redentor é
grande! Como o bálsamo salutar da penitência misturado ao seu precioso sangue
transforma em perfume o fétido dos nossos crimes!"
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