LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
É São Próspero quem chama o confessor de "Porteiro do
Paraíso". Ele pode, pois, livrar os pecadores da prisão eterna do inferno,
e abrir-lhes o palácio da Jerusalém Celeste. Que honra para o sacerdote! Qual
seria vossa admiração por um homem que tivesse a faculdade de limpar leprosos
com poucas palavras!? Pois bem! O sacerdote opera maravilha
muito maior quando pronuncia sobre um pecador bem disposto estas palavras: Ego te absolvo a peccatis tuis; pois no
mesmo instante, ele torna limpa e branca como neve aquela alma, que, por seus
pecados, estava imunda e enegrecida pelo piche do pecado. "A justificação
de um pecador, diz Santo Agostinho, é obra mais admirável do que a criação do
céu e da terra". "O Senhor, diz o cardeal Hugo, parece dizer ao padre
que absolve um pecador: Por mim, criei o céu e a terra; dou-vos porém o poder
de efetuar uma criação muito mais excelente. Eis aqui uma alma em estado de
pecado; criai nela um coração puro, e fazei que, de escrava do demônio, se
torne minha filha. Por mim, fiz a terra produzir frutos, mas vos dou um poder
muito mais nobre; fazei que o pecador produza frutos de boas obras. Privado da
graça santificante não é ele outra coisa senão uma árvore seca; dai-lhe a seiva
da vida divina pela absolvição, e ele produzirá frutos dignos da vida
eterna".
O Senhor dizia a Jó: "Tens
tu como Deus um braço todo poderoso e tua voz é trovejante como a sua?"
(Jó 40, 4). Ora, quem é que possui um braço semelhante ao de Deus, e que
como Deus, faz ressoar a sua voz semelhante ao trovão? É o padre. Quando ele dá
a absolvição, serve-se do braço e da voz de Deus para quebrar as correntes
daqueles que estão na escravidão de Lúcifer, para recalcar no fundo do abismo
os poderes infernais e para impor silêncio aos demônios bramando de raiva
porque tem de deixar ir em liberdade as almas reconciliadas com Deus, seu
legítimo senhor.
O sacerdote opera o milagre da ressurreição não de corpos
mas de almas. Na verdade o confessor ressuscita tantos mortos quantas
absolvições dá aos pecadores suficientemente dispostos pela atrição, pecadores
que pelo pecado grave haviam morrido espiritualmente. Quando, pois, a alma está
privada da vida sobrenatural da graça, é escrava do demônio que não espera
senão o julgamento de Deus para a encerrar no sepulcro eterno do inferno.
Suponhamos, caríssimos, que um pecador esteja próximo a
morrer; de repente, tocado por uma luz do alto, reconhece o seu estado,
concentra-se, e, deplorando o mal que cometeu, pede com grandes lamentos que o
arranquem das garras do leão infernal. Quem livrará esta pobre alma obsequiada
pela graça da atrição? Ainda que se reúnam todos os poderosos da terra com seus
exércitos, e ordenem ao demônio que abandone essa alma, o demônio não fará
senão escarnecer de uma tal ordem, pois, os poderosos, reis, presidentes e
generais, não têm poder senão sobre as coisas temporais. Mas aparece um
sacerdote, mesmo o mais pobre e o menos digno de todos do clero; este
sacerdote, só por estas palavras: Ego te
absolvo a peccatis tuis, forçará o demônio a abandonar sua presa;
transformará esse pecador em justo, fará
dele um predestinado.
Em verdade, caríssimos, podemos dizer com S. Próspero, que
os sacerdotes são as "Portas da Cidade Eterna", e com o escritor
espiritual Salviano: "Toda a nossa esperança e nossa salvação se acham nas
mãos dos sacerdotes!" Aí entendemos porque São Clemente chama o padre
"Deus da terra"; querendo dizer com isto que ele ocupa neste mundo o
lugar de Deus. Amém!
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