domingo, 19 de julho de 2020

SÉTIMO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSES

Romanos VI, 19-23

"Falo à maneira dos homens, por causa da fraqueza da vossa carne, porque, assim como oferecestes os vossos membros para servirem à imundície e à iniquidade, a fim de (chegar) à iniquidade, assim oferecei agora os vossos membros para servirem à justiça, a fim de chegar à santificação. Porque, quando éreis escravos do pecado, estivestes livres quanto à justiça. Que fruto tirastes então daquelas coisas, de que agora vos envergonhais?(Nenhum), pois o fim delas é a morte. Mas agora, que estais livres do pecado e feitos servos de Deus, tendes por vosso fruto a santificação e por fim a vida eterna. Porque o estipêndio do pecado é a morte. Mas a graça de Deus é a vida eterna em nosso Senhor Jesus Cristo".

Neste capítulo VI de sua Carta aos Romanos, São Paulo observa que Jesus morreu uma só vez e "ressuscitando dos mortos, não morrerá jamais; pois a morte nenhum domínio exercerá sobre Ele". Assim também quem morreu para o pecado, há de viver para Deus, não permitindo que sobre seu corpo reine o pecado, mas libertando-se dele para sempre. Tanto mais que o fruto do pecado é a morte e o fruto da graça é a vida eterna.

O pecador é vítima de seus próprios pecados, e é castigado às vezes, por eles mesmos. Só para darmos alguns  exemplos: os libertinos levam uma vida infernal, não só enquanto estão no caminho da condenação mas também mesmo neste mundo. Paz, honra, dignidade, muitas vezes, a saúde, a família, tudo é imolado sobre o triste altar de um curto prazer pecaminoso. Quando a faísca dos pecados impuros não for logo apagada, transforma-se num incêndio devastador e incontrolável ou quase. Quantas fadigas e quantas lutas se impõem aqueles que se entregam às paixões impuras!

Os vaidosos e, sobretudo as vaidosas, a quantos sacrifícios se submetem por causa da beleza. Isto sim é ser escravo; escravo das modas. E quanta preocupação e gastos no afã de se sobressair nas reuniões mundanas! Infelizes daqueles que se entregam às drogas e à bebida! Estragam sua saúde, a da alma e também a do corpo. "Que fruto tiveste  -  pergunta o Apóstolo  -  naquelas coisas de que agora te envergonhas?" Qual um general déspota que, depois de haver exigido dos soldados os maiores sacrifícios, dá-lhes por soldo a morte, assim é o pecado. Depois de vos conduzir por caminhos íngremes, paga-vos com o salário da vergonha. Daí o conselho de São Paulo: se tivestes a infelicidade de sofrer tanto para correr atrás da satisfação das tuas paixões, empregue agora, depois de convertido, todas as tuas forças para correr no caminho da virtude e da verdadeira paz, enfim, para a vida eterna na Pátria do Repouso eterno. Em outras palavras: reserva para o bem os entusiasmos que outrora consagravas ao mal.

A lei da castidade, sobretudo, parece reclamar desmedidas renúncias? Entretanto, devemos igualmente medir os sacrifícios que foram feitos para simplesmente se afundar e se revolver na lama de imundícies. Então, uma vez convertido, deve o homem, com igual ânimo, enfrentar as dificuldades que se opõem a liberdade de filho de Deus. O pecador convertido deve pensar na pontualidade com que se apresentava em outros tempos à festas mundanas mesmo depois de um dia de trabalho estafante, e agora não deve medir esforços para ter a mesma pontualidade em se apresentar à igreja para a Santa Missa. Quantos gastos para a vaidade! Agora, convertido, seja generoso para com os pobres e em ajudar à Igreja. Conta-se de certo santo, cujo nome não me lembro no momento, que ao passar pela rua, encontrando-se com uma dama esmeradamente elegante e perfumada, desatou a chorar. Perguntando-lhe outros a razão destas lágrimas, respondeu-lhes o santo: "É que vejo nesta mulher maior cuidado em servir ao mundo, do que atenções encontro em mim no serviço de Deus".

O próprio São Paulo é um exemplo de convertido! Quem mais investiu contra a Igreja do que o fariseu Saulo a "respirar ameaças e morte contra os discípulos do Senhor"? Mas quem mais do que ele, soube com igual generosidade consagrar à Igreja e a Jesus  os nobres impulsos do coração e do gênio? Nem os açoites dos romanos, nem as flagelações dos judeus; nem os perigos dos ladrões e dos da sua nação, dos gentios, do deserto e do mar; nem o trabalho, nem a fadiga; nem as vigílias, nem a fome, nem a sede,  (cf. 2 Cor. ) enfim, jamais coisa alguma conseguiu arrefecer-lhe o entusiasmo por Cristo Jesus, que, outrora, odiava até a perseguição e que, depois, convertido, amou até a adoração.


Poderíamos dar muitos outros exemplos de convertidos: como Santo Agostinho e Santa Maria Madalena. Mas quero terminar com as palavras do grande Orígenes: "Corriam, outrora, teus pés para o delito, corram agora para a virtude. Estendiam-se antigamente tuas mãos aos bens alheios, estendam-se hoje aos teus bens para generosamente distribuí-los. Voltavam-se antes teus olhos às riquezas do teu próximo na ânsia de possuí-las, voltem-se, agora, para os pobres no desejo de socorrê-los. O ofício que teu corpo um dia prestava aos vícios, ofereça-o hoje à virtude; e o serviço antigamente dado à imundície seja agora dado à castidade e à santidade". Amém!

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