A oração é a pedra
de toque da perfeição cristã; é a característica dos santos. E, por isso, é o
termômetro do fervor de uma alma. Entendemos aqui a oração mental, porque,
segundo Santa Teresa d'Ávila, a oração vocal é também mental.
Para realizarmos o
que Jesus Cristo nos preconizou: "Sede
perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito" (S. Mat. V, 48), temos que
orar e procurar fazê-lo o melhor possível e sempre: "É preciso orar sempre, e nunca deixar de o fazer" (S. Luc. XVIII, 1). Para se chegar à perfeição
na vida cristã, é necessário, primeiro, ter dela, um desejo ardente. Pois bem,
oramos porque desejamos tornarmo-nos melhores na vida espiritual.
Segundo, a oração
deve ser antes de tudo um exercício de amor. Precisamos conhecer a Deus, para o
amarmos; conhecer a nós mesmos, para nos renunciarmos. Pela oração mental,
adquirimos este duplo conhecimento; e pela oração vocal e mental, pedimos o
amor de Deus e o desapego de nós mesmos e das coisas transitórias deste mundo.
Terceira coisa
necessária para atingirmos aquele ideal de perfeição mostrado por Nosso Senhor
Jesus na sua vida e na sua doutrina: precisamos unir inteiramente a nossa
vontade à santíssima vontade de Deus. Pois bem, toda boa oração contém
explicita ou implicitamente um ato de submissão ao Supremo Senhor de todas as
coisas.
Por conseguinte,
para avaliarmos o nosso progresso na vida interior, temos que olhar o
termômetro da oração. Pela vida de oração poderemos saber se a alma está fria,
morna ou quente, espiritualmente falando. Na verdade, a vida cristã é morte e
vida: morte do velho Adão, morte do pecado, morte de nós mesmos; e neste
sentido dizia S. Paulo: "Morro todos
os dias" (I Cor. XV, 31). Mas
também é vida: vida para Deus, vida por Jesus Cristo, o novo Adão; participação
da própria vida de Deus pela graça santificante. S. Paulo dizia; "Minha vida é Jesus".
Pois
bem, caríssimos, morremos para o pecado e vivemos para Deus à medida que
progredimos na vida de oração. Então consideremos:
·
Uma alma que simplesmente não reza, está gelada como um cadáver. E realmente
está morta. São as pobres almas que
estão estagnadas no pecado mortal. Ou não sentem, ou abafam os remorsos da
consciência. Só se converterão e poderão se salvar se houver quem reze e faça
penitência por elas. Certamente Nossa Senhora em Fátima se referiu a tais almas
quando disse: "Há muitos que se condenam, porque não há quem reze e faça
penitência por eles". E Santo Afonso disse: "Quem não reza, se
condena".
·
Uma alma que reza maquinalmente, sem atenção e
quase sempre visando interesses temporais, resiste muito pouco ao pecado
mortal. Seu arrependimento na confissão é muito fraco e, diante de Deus, talvez
pode não ser suficiente para alcançar o perdão. Esta alma é fria, só tem um verniz ou rótulo de cristã.
·
Uma alma que regularmente faz a sua oração, mas
sem fervor, ela combate o pecado mortal, mas fracamente. E quanto aos pecados
veniais não faz nada de sério para os evitar. Seu arrependimento, porém, dos
pecados mortais é sério e suas confissões, sinceras. Diríamos que esta alma está
começando a se esquentar, mas, por
enquanto, tem uma piedade medíocre. (NB.: Não disse MORNA, porque, na vida
espiritual, alma morna é aquela que, tendo chegado a ser piedosa e até
fervorosa, descuidou e esfriou-se na sua vida de fervor. É a terrível TIBIEZA,
sobre a qual falarei, se Deus quiser em outra postagem). Esta alma
deverá tomar todo cuidado para melhorar a sua oração; caso contrário, a
tendência será esfriar-se cada vez mais.
·
Uma alma que faz bem os seus exercícios de
piedade, faz a sua meditação de manhã, mas não tem regularidade nela,
abandonando-a facilmente diante de muitas ocupações ou quando não sentir
consolação espiritual. Esta alma combate lealmente o pecado mortal. Foge
habitualmente das suas ocasiões. Seu arrependimento é vivo e até faz
penitências para reparar os pecados mortais. Começa também a combater os
pecados veniais, mas o arrependimento deles é muito superficial. Diríamos que
esta alma é quente, mas com altos e baixos. Tem uma piedade intermitente.
·
Uma alma que faz religiosamente a sua meditação
(e esta é menos discursiva e mais afetuosa), ela não comete mais pecado mortal.
Talvez ainda caia nele mas só em algumas circunstâncias repentinas e violentas.
Procura, outrossim, combater o pecado venial e raramente cai voluntariamente
nele. Quanto às imperfeições, só tem um fraco desejo de combatê-las. Esta alma
é verdadeiramente piedosa. Está quente espiritualmente, mas não tanto ao ponto de ter o fervor.
·
Consideremos agora uma pessoa que faz todos os
dias a sua meditação e até levanta-se mais cedo para fazê-la o melhor possível.
Sem prejudicar os deveres de estado, gosta de prolongá-la. Não é mais meditação
discursiva onde entra mais a inteligência, não. É uma oração mais afetiva e até
de simplicidade (depois veremos
em que consiste). Pois bem, esta alma nunca comete pecado venial
deliberadamente, mas só por surpresa e sem advertência. E quando isto acontece,
tem grande arrependimento e procura repará-lo seriamente. Para agradar a Deus,
também combate energicamente as imperfeições. Faz frequentes atos de renúncia.
Temos aí uma alma bem quente
espiritualmente, ou seja, verdadeiramente fervorosa.
·
Olhemos agora as almas que vivem em oração, isto
é, além das momentos reservados à oração, transformam seus trabalhos e o
cumprimento dos seus deveres de estado, em oração. Vivem na presença de Deus, e
tudo fazem com intenção reta e pura de agradar a Deus. Fazem frequentes orações
jaculatórias com grande amor a Deus. Estas almas têm sede de renúncia, de
desapego, de amor divino. Têm fome da Eucaristia e desejam ardentemente o Céu.
Já chegaram à contemplação (contemplação adquirida, oração de simplicidade, de quietude).
Como Deus não se deixa vencer em generosidade, Ele concede-lhes, ou melhor pode
conceder-lhes (segundo os seus desígnios sobre cada alma), purificações
passivas, o grande tesouro da CONTEMPLAÇÃO INFUSA. (Depois veremos em que consiste). Pois bem, estas
almas estão sempre prevenidas contra as imperfeições. Sobrevêm sim, mas só com
semi-advertência. Chegaram a uma perfeição
relativa.
·
Finalmente, na SANTIDADE, a oração é tão perfeita que até as
imperfeições são mais aparentes que reais. Na verdade, neste cume da montanha
da perfeição, a alma está tão unida a Deus, que sua oração já é a mesma união
de amor com Deus. S. João da Cruz, baseado no livro dos Cânticos, a este estado
de união de amor a Deus, dá o nome de
"Matrimônio Espiritual". Segundo disse Jesus, os cônjuges são uma só
carne; e S. Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios, VI, 17, diz: "Ao que está unido ao Senhor é um só
espírito com Ele". Unida a Deus, a alma forma com Deus um só espírito,
um só coração, uma só vontade; não é mais ela quem vive, é Deus quem vive nela;
é Ele quem age, quem opera por ela, (dócil instrumento em suas mãos paternais).
E assim, Deus realiza nela e por ela seus desígnios de amor. Por isso mesmo, com a morte, estas almas
passarão diretamente para o Céu, sem necessidade de Purgatório. Verdadeiramente
os santos vivem a vida de Jesus. Amam a Deus e ao próximo por Deus: amam os
justos por serem filhos de Deus, amam os pecadores para que o sejam. Amam os
inimigos para imitar a Jesus. A alma consumada em santidade pode dizer com S.
Paulo: "Vivo, mas não sou eu quem
vive, é Jesus que vive em mim".
Caríssimos, é isto que o nosso Pai do Céu, a
Bondade Infinita, deseja para todos os seus filhos: "Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito". Obviamente em graus diferentes segundo a
capacidade de cada um, capacidade esta também dada por Deus (Parábola dos
talentos). Terminemos com a oração de
Santo Agostinho: "Senhor, fazei que eu conheça a Vós e conheça a mim;
conheça a Vós para Vos amar; conheça a mim para me renunciar". Amém!
PS.: Queria fazer duas observações: 1ª - que os estes vários
estágios das almas não são estanques, de tal modo que um começa quando o outro
termina; mas se compenetram. 2ª - Que as almas são muito diversificadas, de tal
modo que podemos dizer que há mais faces espirituais que faces corporais.
Acima, expusemos o que comumente acontece no mundo das almas, sem levar
em conta, inclusive, as exceções. Na verdade, o Espírito Santo sopra onde quer
e quando quer. E quem desejar mais algum
esclarecimento, pode pedi-lo nos seus comentários. Obrigado e que Deus abençoe
a todos!
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