sábado, 25 de julho de 2020

A ORAÇÃO É O TERMÔMETRO DA VIDA ESPIRITUAL



   A oração é a pedra de toque da perfeição cristã; é a característica dos santos. E, por isso, é o termômetro do fervor de uma alma. Entendemos aqui a oração mental, porque, segundo Santa Teresa d'Ávila, a oração vocal é também mental.

   Para realizarmos o que Jesus Cristo nos preconizou: "Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito" (S. Mat. V, 48), temos que orar e procurar fazê-lo o melhor possível e sempre: "É preciso orar sempre, e nunca deixar de o fazer"  (S. Luc. XVIII, 1). Para se chegar à perfeição na vida cristã, é necessário, primeiro, ter dela, um desejo ardente. Pois bem, oramos porque desejamos tornarmo-nos melhores na vida espiritual.

   Segundo, a oração deve ser antes de tudo um exercício de amor. Precisamos conhecer a Deus, para o amarmos; conhecer a nós mesmos, para nos renunciarmos. Pela oração mental, adquirimos este duplo conhecimento; e pela oração vocal e mental, pedimos o amor de Deus e o desapego de nós mesmos e das coisas transitórias deste mundo.

   Terceira coisa necessária para atingirmos aquele ideal de perfeição mostrado por Nosso Senhor Jesus na sua vida e na sua doutrina: precisamos unir inteiramente a nossa vontade à santíssima vontade de Deus. Pois bem, toda boa oração contém explicita ou implicitamente um ato de submissão ao Supremo Senhor de todas as coisas.

   Por conseguinte, para avaliarmos o nosso progresso na vida interior, temos que olhar o termômetro da oração. Pela vida de oração poderemos saber se a alma está fria, morna ou quente, espiritualmente falando. Na verdade, a vida cristã é morte e vida: morte do velho Adão, morte do pecado, morte de nós mesmos; e neste sentido dizia S. Paulo: "Morro todos os dias"  (I Cor. XV, 31). Mas também é vida: vida para Deus, vida por Jesus Cristo, o novo Adão; participação da própria vida de Deus pela graça santificante. S. Paulo dizia; "Minha vida é Jesus". 

    Pois bem, caríssimos, morremos para o pecado e vivemos para Deus à medida que progredimos na vida de oração. Então consideremos:
·         Uma alma que simplesmente não reza, está gelada como um cadáver. E realmente está morta. São as pobres almas que estão estagnadas no pecado mortal. Ou não sentem, ou abafam os remorsos da consciência. Só se converterão e poderão se salvar se houver quem reze e faça penitência por elas. Certamente Nossa Senhora em Fátima se referiu a tais almas quando disse: "Há muitos que se condenam, porque não há quem reze e faça penitência por eles". E Santo Afonso disse: "Quem não reza, se condena".
·         Uma alma que reza maquinalmente, sem atenção e quase sempre visando interesses temporais, resiste muito pouco ao pecado mortal. Seu arrependimento na confissão é muito fraco e, diante de Deus, talvez pode não ser suficiente para alcançar o perdão. Esta alma é fria, só tem um verniz ou rótulo de cristã.
·         Uma alma que regularmente faz a sua oração, mas sem fervor, ela combate o pecado mortal, mas fracamente. E quanto aos pecados veniais não faz nada de sério para os evitar. Seu arrependimento, porém, dos pecados mortais é sério e suas confissões, sinceras. Diríamos que esta alma está começando a se esquentar, mas, por enquanto, tem uma piedade medíocre. (NB.: Não disse MORNA, porque, na vida espiritual, alma morna é aquela que, tendo chegado a ser piedosa e até fervorosa, descuidou e esfriou-se na sua vida de fervor. É a terrível TIBIEZA, sobre a qual falarei, se Deus quiser em outra postagem). Esta alma deverá tomar todo cuidado para melhorar a sua oração; caso contrário, a tendência será esfriar-se cada vez mais.
·         Uma alma que faz bem os seus exercícios de piedade, faz a sua meditação de manhã, mas não tem regularidade nela, abandonando-a facilmente diante de muitas ocupações ou quando não sentir consolação espiritual. Esta alma combate lealmente o pecado mortal. Foge habitualmente das suas ocasiões. Seu arrependimento é vivo e até faz penitências para reparar os pecados mortais. Começa também a combater os pecados veniais, mas o arrependimento deles é muito superficial. Diríamos que esta alma é quente, mas com altos e baixos. Tem uma piedade intermitente.
·         Uma alma que faz religiosamente a sua meditação (e esta é menos discursiva e mais afetuosa), ela não comete mais pecado mortal. Talvez ainda caia nele mas só em algumas circunstâncias repentinas e violentas. Procura, outrossim, combater o pecado venial e raramente cai voluntariamente nele. Quanto às imperfeições, só tem um fraco desejo de combatê-las. Esta alma é verdadeiramente piedosa. Está quente espiritualmente, mas não tanto ao ponto de ter o fervor.
·         Consideremos agora uma pessoa que faz todos os dias a sua meditação e até levanta-se mais cedo para fazê-la o melhor possível. Sem prejudicar os deveres de estado, gosta de prolongá-la. Não é mais meditação discursiva onde entra mais a inteligência, não. É uma oração mais afetiva e até de simplicidade (depois veremos em que consiste). Pois bem, esta alma nunca comete pecado venial deliberadamente, mas só por surpresa e sem advertência. E quando isto acontece, tem grande arrependimento e procura repará-lo seriamente. Para agradar a Deus, também combate energicamente as imperfeições. Faz frequentes atos de renúncia. Temos aí uma alma bem quente espiritualmente, ou seja, verdadeiramente fervorosa.
·         Olhemos agora as almas que vivem em oração, isto é, além das momentos reservados à oração, transformam seus trabalhos e o cumprimento dos seus deveres de estado, em oração. Vivem na presença de Deus, e tudo fazem com intenção reta e pura de agradar a Deus. Fazem frequentes orações jaculatórias com grande amor a Deus. Estas almas têm sede de renúncia, de desapego, de amor divino. Têm fome da Eucaristia e desejam ardentemente o Céu. Já chegaram à contemplação (contemplação adquirida, oração de simplicidade, de quietude). Como Deus não se deixa vencer em generosidade, Ele concede-lhes, ou melhor pode conceder-lhes (segundo os seus desígnios sobre cada alma), purificações passivas, o grande tesouro da CONTEMPLAÇÃO INFUSA. (Depois veremos em que consiste). Pois bem, estas almas estão sempre prevenidas contra as imperfeições. Sobrevêm sim, mas só com semi-advertência. Chegaram a uma perfeição relativa.
·         Finalmente, na SANTIDADE,  a oração é tão perfeita que até as imperfeições são mais aparentes que reais. Na verdade, neste cume da montanha da perfeição, a alma está tão unida a Deus, que sua oração já é a mesma união de amor com Deus. S. João da Cruz, baseado no livro dos Cânticos, a este estado de união de amor a Deus,  dá o nome de "Matrimônio Espiritual". Segundo disse Jesus, os cônjuges são uma só carne; e S. Paulo na 1ª Epístola aos Coríntios, VI, 17, diz: "Ao que está unido ao Senhor é um só espírito com Ele". Unida a Deus, a alma forma com Deus um só espírito, um só coração, uma só vontade; não é mais ela quem vive, é Deus quem vive nela; é Ele quem age, quem opera por ela, (dócil instrumento em suas mãos paternais). E assim, Deus realiza nela e por ela seus desígnios de amor.  Por isso mesmo, com a morte, estas almas passarão diretamente para o Céu, sem necessidade de Purgatório. Verdadeiramente os santos vivem a vida de Jesus. Amam a Deus e ao próximo por Deus: amam os justos por serem filhos de Deus, amam os pecadores para que o sejam. Amam os inimigos para imitar a Jesus. A alma consumada em santidade pode dizer com S. Paulo: "Vivo, mas não sou eu quem vive, é Jesus que vive em mim".

   Caríssimos, é isto que o nosso Pai do Céu, a Bondade Infinita, deseja para todos os seus filhos: "Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito".  Obviamente em graus diferentes segundo a capacidade de cada um, capacidade esta também dada por Deus (Parábola dos talentos). Terminemos com a oração de Santo Agostinho: "Senhor, fazei que eu conheça a Vós e conheça a mim; conheça a Vós para Vos amar; conheça a mim para me renunciar". Amém!

PS.: Queria fazer duas observações: 1ª - que os estes vários estágios das almas não são estanques, de tal modo que um começa quando o outro termina; mas se compenetram. 2ª - Que as almas são muito diversificadas, de tal modo que podemos dizer que há mais faces espirituais que faces corporais. Acima, expusemos o que comumente acontece no mundo das almas, sem levar em conta, inclusive, as exceções. Na verdade, o Espírito Santo sopra onde quer e quando quer.  E quem desejar mais algum esclarecimento, pode pedi-lo nos seus comentários. Obrigado e que Deus abençoe a todos!

 

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