"O vos omnes que transitis per viam, attendite et videte si est dolor, sicut dolor meus" (Lamentações de Jeremias, I, 12).
"Ó vós todos os que passais pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à minha dor".
"Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém!
Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Cena patética! Quadro doloroso é o que agora presenciamos! Tremei, ó terra! Enchei-vos de horror, ó céus!
Os meus olhos se encontram com um homem atado com duras cordas, com a cabeça rasgada dos mais penetrantes espinhos. Ferido, dilacerado, com as vestes ensopadas na abundância do seu próprio sangue; trêmulo e arquejante caminha oprimido pelo enorme peso do mais infamante madeiro! Grande Deus! Será um assassino público, um parricida, um traidor da Religião e da Pátria, para sofrer tanto e ser assim tão cruelmente castigado?!
Mas não! É o inocente Jesus! O mais humilde, o mais modesto, o mais puro, o mais caridoso dentre os filhos dos homens!
Não há, entretanto, uma só pessoa que se compadeça de suas desventuras. Não há um só coração, que compartilhe as suas dores e os seus sofrimentos!
Que é feito agora de seus amados discípulos, que foram tão prontos em acompanhá-Lo ao Tabor para presenciar a sua gloriosa Transfiguração?
Que é feito destes milhares de enfermos que d'Ele tinham recebido a saúde, e de mortos que d'Ele tinham recuperado a vida?
Onde estão estes homens de Religião e de piedade que ainda há poucos dias atiravam os seus mantos em terra para Jesus passar por cima; e que juncando a sua passagem de palmas e de flores, O acompanhavam bradando : Hosana ao Filho de Davi; bendito seja aquele que vem em nome do Senhor!?
Todos O abandonaram e tornaram-se seus inimigos!
Mas, ah! caríssimos irmãos, eu minto dizendo que todos O abandonaram. Sim, eu vejo uma mulher tão bela com seu rosto nimiamente pálido, romper heroicamente a grande multidão que O cerca. É Maria Santíssima. Pois, apenas recebera através de São João Apóstolo, a triste notícia de que Seu amado Filho Jesus caminhava com a cruz às costas em direção ao Calvário, ela parte imediatamente, e seu coração se achava em contínuos sobressaltos ao verificar as pedras das ruas de Jerusalém tintas do sangue de Seu amantíssimo Filho.
Ainda um pouco distante, seus olhos tão tristes e amortecidos parecem procurar um tão caro objeto que extremamente seu coração ama. Ó Virgem Mãe, é realmente o Vosso Filho!!! Aproximai-vos bem deste ferido, dilacerado dos pés até a cabeça! E esta Mãe Dolorosa, vacilante, trêmula com dificuldade pode conservar-se em pé!
Vede-O agora, e dizei-me, se é este aquele que era o mais lindo e mais formoso dentre todos os filhos dos homens cujo corpo fora formado pelo Espírito Santo em vossas puríssimas estranhas?!
Vede-O e dizei-me se este é aquele mesmo homem poderoso em obras e palavras, a quem o vento, o mar, e toda natureza prontamente obedecia?!
Vede-O e dizei-me se este é aquele mesmo Messias prodigioso, que curava os cegos, os surdos e os mudos, que restituía a saúde aos enfermos, ressuscitava os mortos?!
Ó desumana ingratidão, vós rasgando o corpo deste Homem-Deus, dilacerais ainda muito mais cruelmente o terno coração desta Mãe amorosíssima.
Ah! caríssimos fiéis, que encontro doloroso! Que olhares de desolação! Maria vê seu Filho desfalecido e desfigurado e não Lhe pode valer. Jesus vê sua santa Mãe aflita e desolada e não a pode consolar. Não falam os lábios... falam os corações! Minha Mãe, minha pobre Mãe!!! - Meu Filho, meu querido Jesus!!! Ó único objeto de todas as potências de minha alma, demorai por um pouco, ó meu Filho tão sanguinolento sacrifício; concedei um pequeno alívio a esta angustiada mãe. Reparti comigo vossos pungentes tormentos. Deixai que eu coloque um pouco sobre meus ombros esse pesado madeiro, que tanto Vos oprime; dai-me licença, que eu afrouxe os laços dessas tiranas cordas que Vos prendem e maltratam; consenti que eu ponha sobre minha cabeça esta coroa de penetrantes espinhos, que faz jorrar torrentes de sangue sobre a Vossa adorável face!!!
Ó Maria! quem poderá exprimir os tormentos deste tão doloroso encontro?! Nem o céu, nem a terra vos oferecem o menor alívio, a mínima consolação!!! Se olhais para o Céu, contemplareis um Deus irritado contra os pecados que Vosso Filho tomou sobre Si. Contemplareis este Deus justíssimo que vos impõe o rigoroso preceito de imolar vosso Filho único e bem amado!!!
Se volveis vossos olhos ao redor de vós, ouvireis os clamores públicos duma nação ingrata, duma vil populaça que brada em alta voz: "É réu de morte, seja crucificado!!!
Caríssimos e amados irmãos, nós que assistimos a representação do encontro, nós que simbolicamente o realizamos; não a assistimos, não a realizamos com os sentimentos que teve o povo de Jerusalém. O que hoje nos traz aqui é o amor, é a gratidão àquelas santíssimas pessoas cujo encontro na rua da dor nos comove, nos enternece.
O que nos traz aqui é também a confiança. Semelhante a Jesus, cada um de nós é colocado na rua da amargura. Cada um de nós arqueja sob o peso da cruz que a Divina Providência lhe impôs. E assim, gemendo e chorando seguimos o nosso caminho ao Calvário. As dores, as cruzes, as provações desta vida temporal constituem nossa existência cotidiana. Procuramos a quem nos conforte, nos anime, nos console. Ah! como Jesus sentiu o peso do lenho e sua ignomínia. No entanto, levou-o com paciência firme e sem queixas. Maria Santíssima fez o mesmo. Aceita a vontade de Deus. Dá o seu "fiat" para ser a Corredentora. Une seu sacrifício ao sacrifício de seu Jesus. Sofre com Ele e por nós. Idêntica é nossa tarefa. Avante, pois, com coragem e paciência!!!
O que, outrossim, nos faz ainda comparecer neste lugar é o arrependimento, é a tristeza. O arrependimento de nossos pecados; a tristeza por vermo-nos culpados diante de Jesus e de Maria Santíssima.
E assim, ó Jesus, ó Maria! termino reconhecendo meu pecado e pedindo perdão. Na Vossa Paixão, ó Jesus, perdoastes a todos, Perdoai, também os meus delitos.
Ó Jesus, fui eu quem amarrou os vossos pulsos, não foram os soldados. Não foi Pilatos que lavrou a sentença de morte, fui eu, foram meus pecados. Eu, Jesus, bati esses espinhos para que entrassem bem dentro na cabeça. Ó Jesus, não foram os soldados que vos impuseram aso ombros este pesado madeiro, fui eu, foram meus pecados.
Ó Maria, essas lágrimas que banham a vossa face, eu as provoquei. Esta espada de dor predita pelo velho Simeão, foram meus pecados que vo-la cravaram no coração.
Ó Jesus, ó Maria, unidos num mesmo sacrifício por meu amor, perdoai-me porque não quero mais nesta vida renovar vossas dores e os vossos sofrimentos; para que assim pelos méritos destes sofrimentos mereça a felicidade perfeita na Pátria do Repouso eterno. Amém!
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