"Eles, vendo-se na sua tribulação, dar-se-ão pressa a
recorrer a mim. Vinde (dirão), e voltemos para o Senhor" (Oséias VI,
1).
Caríssimos, o novo vírus Corona, o Covid-19 está trazendo,
praticamente para o mundo todo, grandes tribulações: lutos pelos milhares de
óbitos, lágrimas, temores, crise econômica com desempregos e por conseguinte
misérias e fomes para muitos.
Se não fosse o pecado o homem não teria que sofrer e nem
passar pela morte. Deus criou nossos primeiros pais na justiça original e
deu-lhes (o que seria também para todos os seus descendentes) uma total
imunidade. Mas, veio o pecado e com ele entraram no mundo os sofrimentos e a
morte. Deus, como já havia prevenido a Adão e Eva, retirou essa lei
preservativa, e agora castiga, porém como pai, isto é, não pelo prazer de ver
sofrer, mas pela felicidade que tem em realizar a cura tal como um pai vê o
médico dilacerar as carnes inocentes de seu filho, animoso com a esperança de o
ver recobrar a saúde. A este respeito, eis o que diz a Sagrada Escritura:
"... Somos castigados pelo Senhor, para não sermos condenados com este
mundo" (1 Rom. XI, 32). E diz o Príncipe dos Apóstolos: "Mas o Deus
de toda a graça, o que nos chamou em
Jesus Cristo à sua eterna glória, depois que tiverdes sofrido um pouco, vos
aperfeiçoará, fortificará e consolidará" (1 S. Pedro V, 10). Além de Oséias VI, 1 supra-citado.
"As provações providenciais, físicas ou morais, como a
doença, os lutos de família, as angústias da alma, os revezes de fortuna, são
muitas vezes acompanhadas de graças internas que nos estimulam a uma vida mais
perfeita. Desapegam-nos do que não é Deus, purificam a alma pelo sofrimento,
fazem-nos desejar o céu e a perfeição que é o caminho para lá contanto que a
alma tire proveito dessas provas para se voltar para Deus" (Tanquerey,
Comp. de Teol. Ascética e Mística).
A maioria dos homens sobre a face da terra está sufocada
pelas preocupações do dinheiro e dos prazeres da vida. O progresso científico
está levando tudo isto a um clímax talvez nunca visto. Confesso que, quando vi
na Internet a representação do Covid-19, isto é, um como globo cercado de
espinhos, que, no entanto, parecem também flores (daí o nome "Corona"
= coroa), vendo isto, digo, veio-me à memória aquele terceiro tipo de terreno
ruim como está na parábola do semeador, parábola esta feita por Nosso Senhor
Jesus Cristo e por Ele mesmo explicada. Terreno coberto de espinhos, significa
os corações sufocados pelas preocupações das riquezas e dos prazeres da vida. Na
verdade, os mundanos procuram estas coisas como se fossem flores:
"Coroemo-nos de rosas antes que elas murchem" (Sab. II, 8).
Santo Agostinho diz no seu livro "De Libero Arbitrio,
I, 1, 2 : “Deus todo-poderoso, por ser
soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não
fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar o bem do próprio mal”. O
profeta Jeremias no cap. XI, 12 pergunta: "Por que a terra está em
desolação? E responde: "Porque não há quem pare para pensar no íntimo de
seu coração". Malgrado todo progresso e luxo modernos, a terra está
realmente em estado lastimoso, e a prova disto é a depressão, doença da moda. E
isto por que? A maioria dos habitantes da terra, pensando e correndo
desenfreadamente à procura de riquezas e prazeres da carne, não para pensar no
único necessário que é a salvação da alma. Aí aparece o Covid-19 que obriga
milhares e milhares de pessoas a pararem e a se retirarem do convívio social e
do barulho. Deus com certeza quer que aproveitem este retiro, embora forçado,
para que meditem na necessidade do cuidado de suas almas. Meditem nas
belíssimas palavras bíblicas de Judite, mulher santa do Antigo Testamento:
"Nós, pois, não nos impacientemos por causa do que sofremos, mas,
considerando que estes mesmos castigos são menores do que os nossos pecados,
creiamos que estes flagelos do Senhor, com que, como seus servos, somos
castigados, nos vieram para nossa emenda e não para nossa perdição" (Livro
de Judite VIII, 26 e 27).
Os cristãos, por sua vez,
devem seguir as pegadas de Jesus, o Divino Mestre. A cruz pela qual Ele nos
remiu, não nos dispensa de carregar a nossa. Pelo contrário, a maior prova de
amor que Jesus nos deu, morrendo na cruz por nós, impele-nos a carregar a nossa
cruz por amor a Ele. E isto é causa de
nossa felicidade. Pois, na verdade, ao contrário, fugir da cruz e procurar tudo o que possa contentar a
natureza traz inevitavelmente infelicidade já nesta vida. Eis uma verdade que o
mundo não é capaz de entender: Os mundanos estarão em mais sofrimentos em se
encaminhando para a perdição do que os bons sofrem em procurando a salvação. Na
verdade, todos, sem exceção, sofrem neste vale de lágrimas; mas os maus sofrem
sem consolação ou esperança, como sofreu Gestas, o mau ladrão. Os bons e os
maus estão inevitavelmente expostos às cruzes providenciais. Os bons, porém,
carregam estas cruzes com paciência e amorosa submissão à vontade de Deus,
Assim aconteceu com S. Dimas, o bom ladrão, naqueles momentos após a conversão
até a morte. As pauladas que quebraram os ossos de Gestas e Dimas certamente
causaram em ambos a mesma dor física, mas esta foi esquecida por Dimas pela
doçura de sofrer e morrer com Jesus para logo depois viver eterna e perfeitamente feliz com seu
Senhor e Redentor no Paraíso. Amém!
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