Caríssimos e amados irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!
Acompanhemos o Divino Salvador até ao Calvário!
A turba sanguinária, apesar deste tão compassivo quadro do "Ecce Homo", capaz de comover até os corações de bronze, continua em furor, gritando: retirai esse homem de nossas vistas e mandai que ele seja crucificado!
Pilatos ainda faz alguma resistência, mas já se mostra vacilante.
"Se dás liberdade a esse homem", gritam todos os sinedritas, "não és amigo de César; porque todo aquele que se faz rei é um revoltado contra César".
Era o golpe derradeiro!!!
À evocação do nome de César, vacila o procônsul como fulminado por um raio. Os doces reclamos da graça foram abafados pelas ambições humanas! Pilatos tem medo. Lava as mãos do Sangue inocente e pronuncia a sentença de morte.
- Serás crucificado! Ibis ad crucem!
Triunfam enfim os inimigos de Jesus. Pronunciada a sentença ardentemente desejada, organiza-se o préstito:
Como outrora Isaac levando sobre os ombros o lenho do holocausto, Jesus sobe a ríspida ladeira que dá para o Calvário a essa hora abafadiça e irrespirável.
Eis o alto do Calvário!
Omitimos aqui, o encontro de Jesus com Sua Santíssima Mãe. Na Quarta-feira Santa já publicamos o Sermão do Encontro.
Aí no Calvário, permaneçamos até o fim. Agora, em companhia de Jesus e também de Sua Mãe Santíssima, deixemos que a dor invada nossos corações, contemplando essas duas vítimas inocentes unidas num mesmo sacrifício. O que se passou no alto do Calvário deve ficar gravado em nossos corações!
"Posta a cruz, diz Padre Vieira, naquele lugar do monte onde havia de ser levantada, enquanto uns abriam o cova, e outros preveniam os instrumentos, mandaram ao Senhor que se despisse; (...) Despido, com os olhos no chão, mandam-lhe que se deite na cruz. Levantou o Senhor os olhos ao Céu, pôs os joelhos em terra, cruzou as mãos sobre o peito, oferecendo-se ao sacrifício; e fazendo logo com grande sujeição e humildade o que lhe mandavam, deitou-se sobre a cruz, estendeu os braços sobre os braços da cruz, e os pés para a parte dos pés, e a cabeça sobre os espinhos".
Eterno Pai, se não há piedade na terra, esperamo-la do céu.
Já Isaac está deitado sobre a lenha! Já está conhecida a obediência de Vosso Filho. Já mostrou que estima mais a Vossa Vontade que a Sua vida. Se é necessário sangue para a Redenção, já está derramado muito mais do que basta.
Senhor, suspende o golpe!
Pecadores, avaliai agora o pecado pela resposta que é dada a esta súplica; mas ai, que já os algozes têm nas mãos os cravos. Já vejo levantar o martelo. - Eterno Pai, não poupareis o Vosso Filho? - Não! Vejo n'Ele os pecados dos homens. Execute-se o golpe, diz a Divina Justiça, preguem-se os pés, preguem-se as mãos, consume-se o sacrifício...
E assim se fez...
Começam a pregar primeiro a mão esquerda, depois a direita, ultimamente os pés. As cruéis marteladas fazem ecos pelos vales daqueles montes; mas muito maior eco faziam no coração da lastimosa Mãe. No corpo do Filho, diz Vieira, davam-se as marteladas divididas, porque umas feriam os pés; outras a mão direita; outras a esquerda; porém na Senhora todas batiam e descarregavam juntas no mesmo lugar, porque todas feriam o coração.
Oh! que dor! Oh! que tormento! Oh! que ânsia daquela humanidade sagrada, neste rigorosíssimo ato!. Caiu a cruz de golpe na cova, que era funda; estremeceu e ficou suspenso com todo o peso; e com este abalo de todos os membros e de todas as veias, as quatro fontes de sangue que estavam abertas, começaram a correr com maior ímpeto, e a regar a terra. ...
Se o Senhor se queria firmar sobre os cravos dos pés, mais feriam-se os pés; se se queria suspender sobre os cravos das mãos, rasgavam-se mais as mãos; se se queria arrimar à cruz, cravavam-se mais os espinhos.
Faltava-Lhe o sangue para o alento, faltava-Lhe o ar para a respiração, e até a terra, que não falta aos bichinhos dela, faltava ao Criador do céu e da terra! Pode-se, continua o Padre Vieira, considerar mais extrema miséria e desamparo? Que morra o Filho de Deus, e que o matem os homens; e que nem sete pés de terra sobre que morrer, lhe concedam! Oh extremo de ingratidão, só igual ao extremo de tal amor!
Prometido o Paraíso ao ladrão que se arrependeu, tratou o Senhor de se despedir e de fazer o Seu testamento. Bens deste mundo, de que testar, não os tinha, porque nunca os tivera; e os pobres vestidos com que se cobria, que é só o que possuía, não os deixou, nem os pôde deixar; porque pertenciam aos algozes que já os tinham repartido entre eles. O que tinha e Lhe restava nesta vida e desta vida era uma Mãe e um amigo que, de todos, só Lhe fora fiel. Olhou, pois para a Mãe e para o discípulo amado e disse à Mãe: "Mulher, eis aí o teu filho"; e ao discípulo: "Eis aí a tua Mãe".
Que breves palavras, mas quão agudas e lastimosas! Agudas e lastimosas para o coração da Mãe, agudas e lastimosas para o coração do Filho. Considerai, almas devotas, qual seria a dor daquela tão amorosa e afligida Mãe, ouvindo estas palavras. Quanto lhe partiria o coração, ver que em lugar do Seu Jesus, lhe davam outro filho ou outros filhos!
Maria olhou em torno de si. Ali estava João, o moço angélico e puro. Mas, estavam também: Madalena, os algozes, o mau ladrão. Pois também a estes haveria Ela de os acolher como filhos. João, Madalena e o mau ladrão representavam no alto do Calvário as três classes de almas de que se compõe a humanidade: almas puras e sem pecado, almas pecadoras que se arrependem e almas pecadoras não arrependidas. E Maria realmente compreendeu o alcance da profecia do Velho Simeão. Era preciso que também Ela, nesta hora de silêncio, de angústias e de trevas, oferecesse o coração ao gládio do profeta, para desta ferida aberta nascêssemos nós, os filhos de sua dor.
Maria, sois nossa Mãe! Vós que sois a onipotência suplicante; vós que sereis sempre toda amor e bondade, porque sempre sereis Mãe, velai por nós! Amém!
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