Na triste conjuntura do Covid-19 com milhões de óbitos em
redor do orbe, pensei em trazer aos aflitos alguns pensamentos consoladores,
pensamentos estes extraídos das obras de do S. Francisco de Sales. Na verdade,
nos livros do santo da mansidão tudo é consolador e amável. "Ninguém sabe
como ele, dizia Bossuet, erguer uma alma prostrada, inerte, e animá-la ,
fortalecê-la, conduzi-la suavemente".
Mas, vamos aos pensamentos consoladores nas doenças e na morte
(extraídos do "Livro Pensamentos Consoladores de S. Francisco de Sales",
pelo Padre Huguet S.M. :
Quando estiverdes doentes, oferecei as vossas dores,
angústias e penas ao Senhor, suplicando-Lhe que as una aos tormentos que Ele
por nós sofreu. Obedecei ao médico; tomai os remédios e os alimentos por amor
de Deus, lembrando-vos do fel que Ele tomou por nosso amor; desejai sarar para
o servir.
Muitas vezes acontecem-nos estes males, para que, como não
fazemos penitências voluntárias pelos nossos pecados, façamos as obrigatórias.
Apliquemos contudo às enfermidades os remédios convenientes, mas com uma tal
resignação que, se a divina mão de Deus os vencer, nos resignemos, e se eles
forem eficazes façamos o mesmo. Oh! meu Deus! quanto é bom viver só para Vós,
não trabalhar senão para Vós e não nos regozijarmos senão em Vós!
Consolai-vos pensando que é Deus que vos envia as cruzes;
porque nada sai desta divina mão que não seja para utilidade das almas que o
temem ou para purificar e firmá-las no seu santo amor.
As penas consideradas em si mesmas não podem amar-se; mas
consideradas na sua origem, isto é, na providência e vontade divina que as
ordena, são infinitamente amáveis. Vede a vara de Moisés estendida, é um
serpente terrível, vede-a na mão de Moisés, é uma vara miraculosa. Considerai
as tribulações em si mesmas, são insuportáveis; considerai-as na vontade de
Deus, são amores e delícias.
As roseiras espirituais não são como as corporais; nestas os
espinhos ficam e as rosas caem; naquelas vão-se os espinhos e ficam as rosas.
Nenhum perigo há em desejarmos o remédio; pelo contrário,
convém termos o cuidado em procurá-lo, porque Deus é o autor dos remédios.
Julgai se deveis chorar o tempo em que estivestes ralado
pelo sofrimento, pois que em um só destes momentos podeis adquirir uma coroa de
glória imortal.
O único remédio para a maior parte das nossas doenças
espirituais e corporais é a paciência e conformidade com a vontade de Deus.
Adorai do vosso leito a Jesus Cristo no altar e
contentai-vos com isso. Daniel, não podendo ir ao templo, virava-se para esse
lado para adorar a Deus; fazei o mesmo.
Se não podeis rezar muitas orações durante a vossa doença,
ou de vosso marido (esposa ou filho) fazei com que a doença seja uma contínua
oração.
Aspirai a Deus por curtos, mas ardentes suspiros do coração;
admirai a sua beleza; invocai o seu auxílio; adorai a sua bondade; entregai-Lhe
a vossa alma mil vezes por dia; fixai a vossa vista interior no seu palácio;
estendei-lhe a mão como uma criancinha a seu pai, para que ele vos guie.
Enquanto estiverdes doente, usai duma meditação regulada;
porque suportar os açoites de Nosso Senhor não é menos meritório do que
meditar; porque é melhor estar com Jesus Cristo na cruz do que meditá-Lo na
oração. Ponde-vos aí na presença de Deus e sofrei aí as vossas dores.
O sofrimento é a mais digna oferenda que podemos dar a quem
nos salvou sofrendo.
Não vos inquieteis por não poderdes servir a Deus a vosso
gosto; porque sujeitando-vos aos incômodos, servi-Lo-eis ao seu gosto, que vale
mais do que o vosso. Seja Ele sempre bendito e glorificado.
Queixai-vos a Deus, com o espírito filial como uma criança à
sua mãe; porque sendo com amor, não há perigo em nos queixarmos, nem em
pedirmos a saúde, nem em mudarmos de lugar, nem em pedirmos alívio; convém só
que façais isto com resignação e amor nos braços da santíssima vontade de Deus.
Suponho que a melancolia servir-vos-á da vossa indisposição
para vos entristecer ainda mais e que vendo-vos triste vos inquietareis; mas
não o façais, eu vo-lo peço. Se estais pesado, triste e melancólico, não
deixeis por isso de estar em paz, e embora penseis que tudo o que fazeis é sem
gosto, sem sentimento e sem força, não deixeis por isso de abraçar a Nosso Senhor Crucificado e de Lhe entregar o vosso coração e de Lhe consagrardes o
espírito com os afetos lânguidos como estão.
Ou lânguidos ou vivos, ou moribundos, pertencemos a Deus e
nada nos separará do seu amor tendo a sua graça. Nunca o nosso coração terá
vida senão n'Ele e por Ele; se será sempre o Deus do nosso coração.
As noites são dias, quando Deus permanece em nosso coração,
e os dias são noites quando Ele lá não está.
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