Com tantas
mortes, temores e apreensões em virtude deste novo corona vírus, o Covid-19, a
depressão pode se tornar mais frequente e mais forte na sociedade atual.
Não é meu
intento falar de depressão econômica. Aliás, o Brasil está muito bem servido no
ministério da economia com Paulo Guedes. Quero falar da depressão no campo da
Teologia Ascética. Na verdade, as Sagradas Escrituras, como é óbvio, não falam
especificamente de depressão; mas o Divino Espírito Santo inspirou na Bíblia muitos
textos atinentes à tristeza. O que é dito a este respeito, se aplica à
depressão, apenas se fazendo necessários alguns ajustes em pontuais
casos.
"A tristeza tem matado a muitos e não
há utilidade nela" diz o Eclesiástico XXX, 25. O Eclesiastes VII, 5,
no entanto diz: "O coração dos
sábios está onde se encontra a tristeza e o coração dos insensatos onde se
encontra a alegria". S. Paulo dá a razão desta aparente contradição.
Mostra que há uma tristeza boa e uma má tristeza; o mesmo acontecendo com a
alegria. Eis o texto do Apóstolo dos gentios: "A tristeza, que é segundo Deus, produz uma penitência estável
para a salvação, embora a tristeza do século produza a morte" (1 Cor.
VII, 10). Foi esta tristeza segundo Deus, que levou Davi a regar seu leito com
lágrimas todas as noites" (Cf. Salmo 6, 7). Foi esta tristeza mortal que
acometeu a alma de Jesus no Getsêmani, oprimido pelo peso dos nossos pecados.
A tristeza que
sentimos pelas mortes dos parentes e demais entes queridos ou mesmo de qualquer
outra pessoa como vem acontecendo no mundo
pelo Covid-19, esta tristeza, digo, é justa. Deus é que fez assim o
nosso coração. É natural. O próprio Jesus chorou diante do túmulo de seu amigo
Lázaro; e vendo isto o povo presente exclamou: "Vede como ele o
amava!" Caríssimos, porém, esta tristeza justa, para ser boa, é necessário
que seja acompanhada de esperança e de conformidade com a santíssima vontade de
Deus. É o que ensina S. Paulo falando aos Tessalonicenses: "Mas, não queremos, irmãos que estejais na ignorância acerca dos
que dormem (morrem), para que não vos entristeçais com o outros (os pagãos),
que não têm esperança" (1 Tessal. IV, 12). E justamente aí está o
segredo para se evitar que esta tristeza leve à depressão: conformidade com a
vontade de Deus e a esperança de nos encontrarmos novamente e para sempre no
Céu. O que se faz necessário é que salvemos nossa alma, e, para tanto devemos
fazer em tudo a santíssima vontade de Deus.
O remédio
espiritual, pois, para as calamidades no mundo são a conformidade com a vontade
de Deus e a fé na vida eterna com a esperança da ressurreição no final dos
séculos. A fé é acompanhada da esperança e aperfeiçoada pela caridade, isto é,
amor de Deus e amor do próximo. A fé dá-nos a convicção de que Deus governa
tudo, a um tempo, com força e suavidade. Pois Ele é Onipotente e é a própria
Bondade. Jesus disse que não cai um cabelo de nossa cabeça sem permissão de
Deus. E S. Paulo diz: "Para aqueles que amam a Deus tudo concorre para o
bem". Assim sendo, é necessário que, embora sintamos as calamidades
públicas (como é o caso do Covid-19) e nos pese do mal e sofrimentos dos nossos
próximos, porém, por outra parte, considerando estas calamidades enquanto são
vontade de Deus e ordenadas por seus justos juízos para Sua infinita Sabedoria
tirar deles bens, nos podemos conformar com Sua santíssima vontade. É o que
Nosso Senhor Jesus Cristo ensina-nos a pedir no Pai-Nosso: "seja feita
vossa vontade, assim na terra como no Céu". Na verdade, no Céu os santos
se conformam com a vontade de Deus em todas as coisas, porque em todas elas vêem
a ordem da Bondade e Justiça divinas. Assim devemos fazer nós aqui na terra.
É justamente
esta conformidade com a vontade divina que suaviza nossas dores. Vede o santo varão Jó: como
sofreu! E que disse depois de perder seus bens, seus filhos e ficar leproso: "Deus me deu, Deus me tirou, o que foi
de sua vontade foi feito, seja sempre bendito o seu nome". Assim temos
pela fé e confiança inabaláveis que de nosso Pai do Céu através de qualquer
calamidade, nos virá algum bem maior. Lembrando, no entanto, que, em última
análise, o nosso bem maior é a salvação de nossa alma.
A esperança na
ressurreição futura, outrossim, é, como ensina S. Paulo, o nosso consolo nas
lágrimas que derramamos na morte de nossos entes queridos. Se, a exemplo de
Jesus e por seu amor, levarmos a nossa cruz conformando sempre a nossa vontade
com a vontade de Deus expressa nos mandamentos e nos nossos deveres de estado e
mostrada também nos acontecimentos adversos, temos esperança inquebrantável de
que, seremos ressuscitados brilhantes como o sol nos dia do Juízo Final.
Eis alguns
remédios que S. Francisco de Sales nos prescreve em caso de tristeza: "Se
fores algum dia, Filotéia, acabrunhada por essa má tristeza, lembra-te destas
regras: "Se alguém de vós está
triste, diz S. Tiago, pois que ele
reze". E, com efeito, a oração é um remédio salutar contra a tristeza
porque eleva o nosso espírito a Deus, que é a nossa alegria e consolação (...).
"Consola-te com algum canto espiritual; muitas vezes têm eles servido para
interromper o curso das operações do espírito maligno; sirva de exemplo Saul, a quem Davi, com os suaves
acordes de sua harpa, livrou do demônio, que o assediava ou possuía. Será bom
ocupar-se com alguma ocupação exterior e variar de ocupações, seja para
subtrair a alma aos objetos que a entristecem, seja para purificar e aquecer o
sangue e os humores; porque a tristeza é uma paixão de natureza fria e seca
(... ). Enfim, resigna-te à vontade de Deus, preparando-te a sofrer com
paciência essa tristeza enfadonha como um justo castigo de tuas vãs alegrias e
não duvides que Deus, depois de ter provado o teu coração, te venha em
auxílio" (Filotéia, parte IV, c. XII).
Caríssimos,
quando nos virmos a braços com as aflições, como na atualidade com o
Covid-19 se alastrando no mundo e
ceifando milhares de vidas, voltemo-nos para Jesus. Vamos expor a Ele a nossa
dor. Refugiemo-nos em Seu Sacratíssimo Coração. Não deixemos, pois, que as
tribulações, as tristezas nos levem à depressão. Conservemos a tranquilidade e
a paz, aquela paz que só Deus nos pode dar pela Sua presença em nosso coração.
Amém!
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