Antes de subir aos céus, Nosso Senhor Jesus Cristo ordenou
que os Apóstolos se reunissem no Cenáculo de Jerusalém e permanecessem ali por
alguns dias. Eis o que diz S. Lucas:
"Ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas esperassem a
promessa do Pai, a qual ouvistes (disse ele) da minha boca; porque João batizou
em água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo, daqui a poucos dias...
recebereis a virtude do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e me sereis
testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia, na Samaria e até às extremidades da
terra... Então voltaram para Jerusalém... Logo que chegaram, subiram ao
cenáculo, onde permaneceram Pedro, João, Tiago, André, Filipe, Tomé,
Bartolomeu, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Simão, o Zelador, e Judas, irmão de
Tiago. Todos estes perseveraram unanimemente em oração, com as mulheres, e com
Maria, mãe de Jesus, e com os parentes dele" (Cf. Atos, I, 4 e 8 e 12
-14).
"Quando se
completaram os dias do Pentecostes, estavam todos juntos no mesmo lugar; e, de
repente, veio do céu um estrondo, como de vento que soprava impetuoso, e encheu
toda a casa onde estavam sentados. Apareceram-lhes repartidas umas como línguas
de fogo, e pousou sobre cada um deles. Foram todos cheios de Espírito Santo e
começaram a falar várias línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que
falassem" (Atos II, 1-4).
Segundo S. Lucas, o Espírito Santo desceu sobre eles ao décimo dia, e,
portanto, foram nove dias de preparação no recolhimento e na oração em
companhia de Maria, Mãe de Jesus. Podemos, então dizer, que foi a primeira
novena na Igreja, e, coisa admirável e sublime, sob a presidência da Santíssima
Mãe de Jesus!!!
Devemos considerar como foi necessária a descida do Espírito
Santo. Jesus, para amenizar a tristeza que havia de causar aos Apóstolos a sua
ausência, disse-lhes: "Mas eu
digo-vos a verdade: A vós convém que eu vá, porque, se eu não for, não virá a
vós o Paráclito; mas, se for, eu vo-lo enviarei... Quando vier, porém, o Espírito
de verdade, ele vos ensinará toda verdade" (S. João XVI, 7 e 13).
Daqui se segue que, terminada que foi a obra da Redenção, Jesus subiu aos céus,
e o Espírito Santo é o que aplica os méritos dessa obra divina, ele é que a
desenvolve nas almas; é a fonte das graças, o inspirador das virtudes, o fogo
das luzes. S. Francisco de Sales no Sermão III, pág. 315, afirma que o Espírito
Santo é o dom mais excelente que Deus fez à terra, o qualifica como "o dom
dos dons"; e compara-o a uma fonte cujas águas jorram para a vida
eterna". Devemos meditar que, para enviá-Lo foi necessário que Jesus
Cristo viesse ao mundo e morresse na cruz. Devemos considerar, outrossim, que
sem o Espírito Santo os outros dons, graças e méritos do Salvador, ainda que
inestimáveis, de nada nos serviriam, assim como um remédio de nada serviria ao
doente se não houvesse quem o levasse a
tomá-lo. Igualmente, ainda que o sangue de Jesus e sua Paixão sejam um remédio
infalível e de uma eficácia tal que podem dar a vida e a saúde a todo o mundo,
no entanto, de nada aproveitaria ao pecador que de fato não recebe sua divina virtude. Pois bem, o
Espírito Santo é para a alma do justo o que o sol é para o mundo que ilumina e
vivifica, o que é o pai de família que preside, o que é o professor para os
alunos a quem ensina; o que é um rei para o País que governa, o que é um
jardineiro para o jardim que cultiva. O Espírito Santo é o que nos dá os
ouvidos do coração para escutar o que Deus nos fala, olhos para vê-Lo, mãos
para obrar o que nos manda, e pés para avançar mais e mais no caminho da
perfeição. Sem o Espírito Santo, nosso coração é terra árida que não produz
senão abrolhos de vícios, sem o Espírito Santo o homem é um soldado sem armas
entregue a seus inimigos. Na verdade, nada há de bom no homem sem a graça de
Divino Espírito Santo.
O que é o Espírito Santo na adorável Trindade? É o termo, o
remate supremo, a consumação da vida em Deus. E assim, para nos lembrarmos
desta propriedade que Lhe é pessoal, a Igreja atribui-Lhe especialmente tudo o
que, na obra da graça, da santificação, diz respeito ao fim, complemento e
consumação: podemos dizer que o Espírito Santo é o artista divino que, com os
últimos retoques, dá à obra a sua divina perfeição. É neste sentido que Ele é
chamado no "Veni Creator": "Dextrae Dei tu digitus" (És o
dedo da destra paterna). A obra atribuída ao Espírito Santo, na Igreja como nas
almas, é levar ao fim, ao termo, à última perfeição, o trabalho incessante da
santidade.
Minha consciência não ficaria tranquila se aqui não aproveitasse
o ensejo para desfazer uma interpretação errônea que hoje os
modernistas procuram dar a estas palavras de Jesus: "Ele (o Espírito
Santo) vos ensinará toda verdade". Dizem os modernistas que Jesus não
ensinou todas as verdades, e que, portanto, o Espírito Santo até o fim do
mundo, vai ensinar novidades.
Um dia falava Jesus ao povo: "Se alguém crer em mim, do
seu seio manarão torrentes de água viva". E S. João Evangelista explica:
"Dizia isto do Espírito Santo que deviam receber aqueles que cressem n'Ele.
O Espírito Santo não tinha ainda sido dado, porque Jesus não fora ainda
glorificado" (S. João VII, 38 e 39). A fé era a fonte, para assim dizer,
da vinda do Espírito Santo aos discípulos e a todos nós. Ora, enquanto Jesus
Cristo vivia neste mundo, a fé dos discípulos era imperfeita. Não seria total
senão depois de a Ascensão ter ocultado aos seus olhos a presença humana do
divino Mestre: "Por isso que viste, creste", dizia Jesus a Tomé, depois da
Ressurreição; "bem-aventurados aqueles que não viram e creram!" (S.
João XX, 29). Depois da Ascensão, a fé dos discípulos, mais esclarecida, irá
procurar Cristo mais longe, mais alto, sentado junto do Pai, igual ao Pai"
(Cf. S. Leão, Sermão II sobre a Ascensão c. 4). Concluímos: Foi porque a fé dos
Apóstolos, depois da Ascensão, se tornou mais pura, mais interior, mais viva,
mais eficaz, que "os rios de água viva" se derramaram sobre eles com tanta
abundância!
Devemos dizer que Jesus já ensinou toda verdade, pois, dizia
de si mesmo: "Eu sou a verdade".
Viera a este mundo para dar testemunho da verdade (S. João XVIII, 37), e
sabemos que cumpriu inteiramente a Sua missão: "Opus consumavi" = terminei a obra. Então devemos dizer
que agora que Jesus deixou os Apóstolos, o Espírito Santo é que se vai tornar o
mestre interior. "Não falará de Si
mesmo", dizia Jesus, querendo com isso significar que o Espírito Santo
(que procede do Pai e do Filho e d'Eles recebe a vida divina) nos dará a
verdade infinita que recebe pela Sua inefável processão. "Ele vos dirá tudo o que ouviu, isto é, toda a verdade";
"lembrar-vos-á tudo o que vos ensinei"; "dar-me-á a conhecer a
vós; mostrar-vos-á quanto sou digno de toda a glória: "Ele me glorificará" (S. João XIV, 26).
Que mais? Disse
Jesus: "Recebereis a virtude do
Espírito Santo, que descerá sobre vós, e me sereis testemunhas em Jerusalém, na
Samaria e até às extremidades da terra" (Atos I, 8). Os Apóstolos,
afirmou Jesus, não deveriam preocupar-se com o que haveriam de responder,
quando os judeus os chamarem aos tribunais; o Espírito Santo lhes inspirará as
respostas" (S. João XIV, 26 e XVI, 13 e 14). Deste modo "poderão dar testemunho de Jesus". E
como é pela língua, órgão da palavra, que se dá testemunho e a pregação do nome
de Jesus se deve espalhar pelo mundo, este Espírito, no dia do Pentecostes,
desce visivelmente sobre os Apóstolos em forma de línguas de fogo. Por que de fogo? Porque o Espírito Santo vem
encher de amor os corações dos discípulos. O Espírito Santo comunica-lhes
aquele amor que é Ele próprio. É mister que os Apóstolos sejam cheios de amor
para que, ao pregarem o nome de Jesus, façam brotar na alma dos seus ouvintes o
amor do Mestre; é preciso que o seu testemunho, ditado pelo Espírito, seja tão
cheio de vida, que prenda o mundo a Jesus Cristo.
Quando um Papa define um dogma é assistido pelo Espírito Santo
para afirmar de maneira infalível que aquela verdade havia sido ensinada por
Jesus Cristo, e já estava no Depósito da Revelação Pública que, na verdade,
ficou completo com a morte do último Apóstolo. Portanto, nada de novidades,
nada de surpresas! Muitas coisas,
sermões e milagres, que Jesus fez não foram escritas mas transmitidas pelos
Apóstolos e depois pelos Santos Padres, inclusive a verdadeira interpretação do
que foi escrito. Isto é a Tradição que passa como de mão em mão ininterrupta e
fielmente pela assistência do Espírito Santo. Assim, as Sagradas Escrituras
foram escritas sob a inspiração do Espírito Santo; e o que não foi escrito na
Bíblia, foi transmitido pela assistência do Espírito Santo para que não
houvesse nenhuma alteração e adição do que Jesus Cristo ensinou.
Caríssimos, devemos, pois, apresentar todas as disposições
para receber o Espírito Santo. Vimos acima: "Do monte das Oliveiras,
voltaram a Jerusalém, diz S. Lucas, e subiram ao cenáculo, onde permaneceram
unânimes em oração com as santas mulheres e Maria, Mãe de Jesus e seus
parentes". Vemos, portanto, que fizeram três coisas: recolhimento, oração
vocal e meditação. É o que devemos fazer, na medida do possível (porque só num Retiro fechado podemos imitar perfeitamente os Apóstolos) para obtermos a mesma graça;
e sempre em companhia da Virgem Mãe de Deus, e Esposa do Espírito Santo. Façamos
com toda devoção, a novena do Divino Espírito Santo.
Oh! "Vinde a nós, Pai dos pobres, distribuidor dos bens
celestes, Consolador cheio de bondade, doce hóspede da alma, conforto cheio de
doçura"! Amem!
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