Esta preparação
consta de doas coisas: remover os obstáculos e empregar os meios para atrair a
nós o Espírito Santo.
Primeiramente é mister remover os obstáculos, ou seja, o
pecado, o espírito do mundo, a concupiscência. Falemos um pouco de cada um
deles. Caríssimos, o pecado é o grande inimigo do Espírito Santo: o mortal
simplesmente expulsa da alma o doce Hóspede Divino; o venial contrista-o, o que
também não é algo de somenos gravidade, já que o ofendido é Deus. O pecado
mortal obriga o Espírito Santo a se retirar da alma. Por isso adverte S. Paulo:
"Não queirais expulsar o Espírito
Santo" (1 Tessalonicenses V, 19). O pecado grave destrói a caridade
que este divino Espírito derrama em nosso coração segundo afirma o Apóstolo: "A caridade de Deus está derramada em
nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado" (Romanos V, 5).
Portanto o pecado mortal contraria todos os intuitos de santificação que o
Espírito Santo tem a nosso respeito. E assim, o nosso primeiro cuidado, caríssimos, deve ser
combater o pecado mortal, caso haja na alma ainda algum apego a ele, seja lá
contra qualquer mandamento. Na explicação de Santo Agostinho, os nossos
corações são os vasos destinados a receber o precioso licor da graça divina;
daí é necessário que comecemos por purificá-los. E já é uma grande graça o
arrependimento que o Espírito Santo nos inspira; o remorso é o primeiro passo,
e ele pode levar ao arrependimento, condição sem a qual não há perdão nem mesmo
recebendo a absolvição sacramental. Devemos estar profundamente convencidos que
o pecado mortal é um mal absoluto, extremo; e depois do mortal, o pecado venial
é o maior mal que existe sobre a face da terra, já que trata mal, não a um
bispo, a um papa, mas o próprio Deus Onipotente, perfeitíssimo e a própria
Bondade.
Embora o pecado venial não chegue ao extremo de expulsar o
Espírito Santo, no entanto, contrista este doce Hóspede da alma, o nosso
Consolador e Santificador. Por isso diz também o próprio Espírito Santo através
do escritor sagrado S. Paulo: "Não
queirais contristar o Espírito Santo" (Efésios IV, 30). Os pecados
veniais (portanto plenamente deliberados) e máxime se frequentemente repetidos,
leva à tibieza que torna a alma de tal modo desagradável a Deus que Ele chega a
dizer: "Porque não és nem quente nem
frio, mas morno (=tíbio) começarei a vomitar-te de minha boca" (Apoc.
III, 15 e 16). Deus merece que o
sirvamos com amor ardente, e o tíbio o faz de maneira negligente. Isto como que
causa náuseas ao Espírito Santo. E Ele já não dá ao tíbio tantas forças e tanta
luz como faz com os fervorosos. Por bondade, o Espírito Santo aflige os tíbios
com salutares remorsos no intuito de abrir os olhos destas almas que ficam como que cegas pelas suas frequentes
negligências no amor e serviço de Deus. O divino Paráclito lança em rosto dos
tíbios a facilidade com que Lhe fazem tantas ofensas que julgam leves. O
Espírito Santo trazendo à memória dos negligentes esta vida que causa náuseas a
Ele, pergunta-lhes se depois de tantos perdões, não deveriam estes tíbios
sentir o remorso do coração. Assim o Espírito Santificador excita os tíbios a
deplorar suas negligências, sua vontade fraca, seu amor debilitado, e, por
conseguinte, seus pecados veniais.
Caríssimos, o espírito do mundo é outro obstáculo à presença
e ao reino do Espírito Santo. Este espírito do mundo eleva o estandarte:
orgulho, avareza, luxúria. São Paulo
pergunta: "Que união pode haver
entre a luz e as trevas" (Cf. 2 Cor. VI, 14), entre a verdade e a
mentira? Eis a razão porque o Salvador, rogando a seu Pai que envie o Espírito
Santo a seus discípulos, para os santificar na verdade, observa que eles não
são do mundo, como também Ele não é do mundo (Cf. S. João XVII, 17; que não
roga pelo mundo, incapaz que é de receber este Espírito de Verdade, porque O
não vê, e porque é tão grande a sua cegueira, que precisa de apalpar e ver,
antes de admitir e crer (Cf. S. João XVII, 14, 17 e 19).
Na verdade as apreciações do mundo e as do Espírito Santo
são diametralmente opostas; sucede o mesmo, diz S. Bernardo, com os sentimentos
que inspiram: O Espírito Santo aparta os corações do amor das criaturas para os
unir a Deus; o mundo aparta-os de Deus para os unir às criaturas.
Caríssimos, durante esta novena do Espírito Santo devemos,
mais do que em outro tempo, examinar com cuidado nossos pensamentos e afetos,
para conhecer se é o espírito de mentira ou o espírito de verdade que nos
anima. Combatendo o espírito do mundo, combateremos ao mesmo tempo o da carne,
terceiro obstáculo aos desígnios misericordiosos do Espírito Santo a nosso
respeito.
São Paulo diz que a carne e o espírito são duas potências
que estão sempre em guerra:
"Efetivamente, a carne tem desejos contrários ao espírito, e o espírito
desejos contrários à carne; são contrários entre si, para que não façais tudo
aquilo que quereis" (Gálatas V, 17). Quando, porém, o Espírito Santo
encontra a alma dócil e forte em renunciar à carne por amor a Deus, então a
dirige para que tudo seja feito segundo o espírito. É neste sentido que diz
Santo Agostinho: "Ama e podeis fazer o que quiseres". O amor de Deus
é forte como a morte, e assim vence sempre a carne. Os modernistas são mestres
em deturpar o sentido desta palavra de Santo Bispo de Hipona, mas o verdadeiro
sentido é este e nem se pode imaginar que o maior gênio do Cristianismo tenha
ensinado esta aberração modernista: ama e podes fazer tudo que tua carne
apetecer, nada será pecado!
Fujamos o máximo do barulho e das vaidades do mundo;
procuremos uma vida de mais recolhimento penitente, cheia de caridade para com
o próximo; vida de oração auxiliada pela mediação de Maria Santíssima, como na Santa Novena do Cenáculo. Amém!
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