Quem tem fé viva não pode ficar insensível ao comungar com
as devidas disposições, pois, está convicto que recebe o Corpo, Sangue, Alma e
Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Sabe que permanece em Jesus e Jesus
nele, sabe que adquire o penhor da vida eterna, da ressurreição gloriosa no
Juízo Final. Estar com Jesus é um doce paraíso, é fonte de consolações
espirituais inefáveis.
Ao comungar, ainda que eu não experimente alguma consolação
sensível, não é para a minha alma uma grande consolação saber com certeza que
Jesus Cristo se dá a mim, e que possuindo-O, possuo o sumo bem, a fonte de todo
o bem? Caríssimos, quando o Filho de Deus vem a nós, vem com as mãos cheias de
dons, e o coração cheio de amor. Mas ainda que, vindo a nós na comunhão,
deixasse no Céu as suas riquezas espirituais e os seus favores, e viesse só,
não bastaria Ele para a minha felicidade? Afinal não é Jesus o mais precioso de
todos os tesouros? Posso eu ignorar que os gozos e as consolações SENSÍVEIS são
um dos menores frutos da comunhão, e que este bom Senhor priva deles muitas
vezes os seus mais devotos servos e servas, para os levar a estimar mais os
seus dons?
Caríssimos, os santos é que sabem falar sobre isso! Vamos
ouvir alguns: "Este pão celeste, dizia S. Cipriano, encerra, à semelhança
do maná, todos os gozos imagináveis, e por uma admirável virtude, faz sentir a
quem o recebe dignamente aquele gosto que eles desejam, e excede em suavidade
todos os outros gostos" (Serm. de Coena Domini). S. Macário afirma que a
alma bem disposta acha na comunhão delícias inexplicáveis; que descobre nela
riquezas que os olhos não viram nem os ouvidos ouviram" (Hom. IV). S.
Boaventura põe nos lábios de Jesus estas palavras: "Ó alma, não tens tu
conhecido por experiência, ao receber-Me, que saboreavas o mel com o favo que o
contém, a doçura da minha divindade unida ao meu Corpo e Sangue?" Todas as
obras dos Santos Padres exprimem os mesmos sentimentos.
E a Sagrada Escritura que é a Palavra de Deus escrita por
inspiração do Espírito Santo, que diz à respeito da Eucaristia? Ela dá a
entender, pelos símbolos de que se serve quando fala da Eucaristia, quão
delicioso é este sagrado alimento para as almas bem dispostas. O próprio Jesus
lembra o maná que, segundo as Escrituras Sagradas, era um pão descido do céu e
que continha em si todos os gostos. E acrescenta o Divino Mestre que Ele mesmo
é o Pão vivo descido do Céu; que sua Carne é verdadeira comida, e o seu Sangue
verdadeira bebida e que, quem come a sua Carne e bebe o seu Sangue, permanece
n'Ele e Ele no que o recebe. E pode haver maior delícia do que ter Jesus como
alimento da nossa alma, e nela permanecendo?! O Divino Mestre quis ressaltar
que os judeus que comeram o maná no deserto, morreram apesar disso, mas quem
come sua Carne e bebe o seu Sangue não morrerá eternamente. E pode haver
delícia maior do que ter a certeza de, neste mundo estar sempre com Jesus e
mais ainda, ter a segurança de possuí-lo eternamente no Céu? S. João Bérchmans dizia ternamente: "Ó
meu Salvador, que há, depois da divina comunhão, que possa dar-me cá na terra
doçura e contentamento?"
São Francisco de Sales dizia que é muito avaro aquele a quem
Deus não basta. Ao comungarmos com as devidas disposições é certo que Jesus nos
dá o seu Corpo em alimento, o Seu Sangue como bebida, a sua vida como resgate,
a sua divindade como amparo, o seu paraíso como herança. Ele esclarece o nosso
entendimento, aumenta o nosso amor, purifica o nosso coração, mortifica os
nossos sentidos, enfraquece as nossas paixões; comunica-nos as suas virtudes,
em uma palavra: SANTIFICA-NOS!
A nossa alma, pela comunhão bem feita, é embalsamada de
celestiais perfumes, abrasa-se em amor divino, canta os louvores Àquele que é
todo dela; e dá-se toda a Ele. Dedica-se ao Seu serviço, experimenta suma
repugnância a todos os prazeres da terra, e torna-se insensível a todas as
adversidades da vida, de sorte que nem a comovem as injúrias, nem as
contradições, nem o abandono das criaturas. A vista da perfeições de Jesus e o
amor das suas bondades dão à alma do comungante bem disposto, a força para
disposições tão heroicas e santas.
Caríssimos, creio que não seja supérfluo observar que estas
grandes delícias da comunhão não são concedidas a todos, nem no mesmo grau aos
que a recebem; na verdade, são poucas as almas tão puras, tão desapegadas do
mundo e de si mesmas, tão crucificadas com Jesus Cristo que saboreiem toda a
doçura dessas puras consolações. Quanto ao gozo espiritual, gozo este produzido
pelo conhecimento dos grandes bens contidos neste sacramento, não há cristão
algum, que não possa senti-lo. Basta para isto estimar os bens da graça,
desejar a salvação, suspirar pelo Céu, e não esquecer que a Eucaristia é o melhor
meio de realizar estes santos desejos.
Caríssimos, devemos meditar sempre nos misericordiosos
desígnios que Jesus teve ao instituir este sacramento que é o amor dos amores.
Quis unir-se a nós, quis tronar-Se semelhante a nós, quis encher-nos de
delícias, e deste modo, inspirar-nos um amor mais perfeito, em que consiste a
vida santa. Este Pão descido do Céu, é o princípio aqui na terra de uma vida
santa; e é o penhor da vida eterna no Céu. Ó que nobre e ditosa vida esta de
amar a Jesus e ser amado por Ele! Amém!
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