Além da fé viva, da humildade e máxime da pureza de coração,
tão perfeita quanto nos é possível, disposições estas gerais para a sagrada
comunhão, devemos ademais ter um desejo ardente por unirmo-nos a Jesus, já que
Ele instituiu a Eucaristia desejando ardentemente se unir a nós.
Caríssimos, assim como a fome dos alimentos materiais indica
ordinariamente a boa disposição em que está o corpo para os tomar e aproveitar,
assim também um grande desejo de receber a Eucaristia é uma excelente
disposição para participar abundantemente de seus benéficos efeitos. Santo
Agostinho exprime-o com estas palavras: "Panis
iste famem hominis interioris requirit" (Trat. XXVI in Joan.).
Traduzido: "O homem interior deve
ter fome do pão celestial (para o comer santamente)". Comentando o
versículo 11 do Salmo 80: "Abre a
tua boca e eu te encherei" o grande Santo Padre da Igreja, S. Jerônimo
assim muito bem se exprime: "Quereis receber o alimento do Senhor? Ouvi o
que Ele vos diz: Abri a vossa boca, e eu a encherei. Abri a boca do coração,
porque recebereis à proporção que a abrirdes. A medida das graças que vos serão
dadas, não depende de Mim, mas de vós". Caríssimos meditemos profundamente
nestas palavras: Se desejas a Jesus Cristo, se O desejas com todo o ardor de
que és capaz, recebê-Lo-ás todo, a Ele e todo o bem que quer fazer. Portanto,
nunca jamais aproximemos da mesa eucarística com tibieza, por rotina, quase sem
pensar na grandeza e sublimidade do ato que realizamos. Porque Jesus por nosso
amor quis se ocultar tão humildemente, não vamos esquecer a sua grandeza e
santidade, não O desprezemos nem O tratemos com indiferença. Avivemos a nossa
fé e procuremos comungar com a mesma devoção e o mesmo respeito como se
víssemos a imagem viva de Jesus na Hóstia em atitude de nos abençoar. Mas,
"bem-aventurados os que não viram e creram".
Nunca estamos melhor dispostos a receber as graças deste
sacramento, do que quando podemos dizer ao divino Salvador: "Minha alma
vos desejou de noite; e despertarei de manhã, para vos buscar com o meu
espírito e com o meu coração" "Anima
mea desideravit te in nocte, sed et spiritu meo in praecordiis meis de mane
vigilabo ad te" (Isaías XXVI, 9). Os primeiros cristãos viviam pela
Eucaristia, e por isso, "era como se fossem um só coração e uma só
alma". E eles chamavam à Eucaristia "DESIDERATA", porque ela era
o centro de todos os seus desejos.
Caríssimos, consideremos duas coisas que contribuem
precipuamente para excitar em nós o desejo de comungar: a REFLEXÃO e a
MORTIFICAÇÃO. Na verdade, que é o desejo? É um movimento da alma, pelo qual,
conhecendo o valor de um bem de que está privado, aspira a possuí-lo. É mister
pois refletir sobre os maravilhosos frutos da sacramento dos nossos altares.
Uma alma apaixonada pela sua união cada vez mais íntima com Jesus, que é já a
santidade, e que conhece a virtude da Eucaristia, seja para destruir em si o
pecado até à sua raiz (pois Ela amortece as paixões) seja para a elevar à mais
sublime perfeição, arde necessariamente em desejos de A receber. Por esta razão
quem não medita nos benefícios da comunhão bem feita, termina comungando sem o
desejo ardente, e por conseguinte, pouco fruto tira da comunhão. Continua frio
como dantes, embora tenha recebido dentro de si uma fornalha de amor, que é o
Coração Eucarístico de Jesus. Coisa triste, lamentável e que, no entanto, não
parece ser tão rara assim!!!
Mas ainda aqui é necessário juntar o jejum à oração, isto é,
a mortificação dos sentidos à meditação dos bens infinitos, que obtém uma
fervorosa comunhão. A procura dos prazeres terrestres diminui as forças da
alma, e torna-a menos capaz de desejar os celestes. As alegria sobrenaturais
têm pouco atrativo para um coração todo ocupado de gozos puramente humanos; mas
se o privam desses gozos, como não poderia viver sem prazer, corre com todas as
forças pelo caminho que lhe abrem, mostrando-lhe a doçura que experimentará no
banquete eucarístico. Os hebreus deviam cingir os rins para comer o cordeiro
pascal; deviam misturar com este alimento alfaces bravas e amargosas: para nos
ensinar, com estes símbolos de mortificação, quão conveniente é dispor-nos para
a comunhão com os exercícios da penitência.
Diz Deus no Livro do Apocalipse: "Darei ao que vencer um maná escondido" (II, 17). Assim Deus não promete o maná e a sua
secreta consolação senão ao vencedor, isto é, ao homem que sabe domar as suas
paixões. A Eucaristia é uma fonte de inefáveis delícias, mas para os que
dominam a sua sensualidade, e não para os que são escravos dela.
Caríssimos, nada melhor do que terminar estas breves
reflexões com as sábias e não menos ardentes palavras de Santo Agostinho: "Ó
Senhor aproximar-me-ei com fé da Vossa mesa, participando dela para ser por ela
vivificado. Fazei, Senhor, que eu seja inebriado pela abundância da Vossa casa,
e dai-me a beber da torrente das Vossas delícias. Porque junto de Vós, está a
fonte da minha vida: não fora de Vós, mas ali junto de Vós, está a fonte da
vida. Quero beber para viver; não quero atuar por mim, pois posso perder-me,
não quero saciar-me no meu coração para não ficar árido; quero antes aproximar
a minha boca da fonte onde a água não se esgota. Suprirei as desculpas vãs e
mesquinhas e aproximar-me-ei da ceia que me deve fortalecer interiormente. Não
me detenha a altivez da soberba: não, não me torne orgulhoso a soberba; nem
sequer me detenha a curiosidade ilícita, agastando-me de Vós; não me impeça o
deleite carnal de saborear o deleite espiritual. Fazei que eu me aproxime e me
fortaleça; deixai que me aproxime embora mendigo, fraco, aleijado e cego. À
vossa ceia não vêm os homens ricos e saudáveis que julgam caminhar bem e
possuir a agudeza de vista, homens muito presunçosos e por consequência, tanto
mais incuráveis quanto mais soberbos. Aproximar-me-ei qual mendigo, porque me
convidais Vós que, de rico, Vos fizestes pobre por mim, para que a vossa
pobreza enriquecesse a minha mendicidade. Aproximar-me-ei como fraco, porque o
médico não é para os que têm saúde senão para os doentes. Aproximar-me-ei como
aleijado e Vos direi: 'Dirigi Vós os meus passos pelas Vossas veredas'.
Aproximar-me-ei como cego e Vos direi: 'Iluminai os meus olhos, a fim de que eu
jamais durma o sono da morte'". Amém!
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