Como é necessário e ao mesmo tempo tão consolador meditar no
que disse o Apóstolo S. Pedro em sua 2ª Epístola! Ele mesmo assegura: Não
cessarei de vos admoestar sempre sobre estas coisas... porque considero meu
dever durante minha vida despertar-vos com admoestações... e terei cuidado de
que, mesmo depois da minha morte, tenhais com que recordar muitas vezes estas
coisas.
No capítulo I, S. Pedro fala da necessidade de crescer na
prática da virtude: "Assim como o
seu divino poder (de Jesus Cristo)nos deu todas as coisas que dizem respeito à
vida e à piedade, por meio do conhecimento daquele que nos chamou pela sua
glória e virtude, (assim também) por Ele mesmo nos deu as maiores e mais
preciosas promessas, a fim de que por elas VOS TORNEIS PARTICIPANTES DA
NATUREZA DIVINA, fugindo da corrupção da concupiscência que há no mundo. Ora,
vós aplicando todo o cuidado, juntai à vossa fé a virtude, à virtude a ciência,
à ciência a temperança, à temperança a paciência, à paciência a piedade, à
piedade o amor fraterno, ao amor fraterno a caridade. Com efeito, se estas
coisas se encontrarem e abundarem em vós, elas não vos deixarão vazios nem
infrutuosos no conhecimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Quem não tem essas
coisas é cego e anda às apalpadelas, e esquece-se de que foi purificado dos
seus pecados antigos. Portanto, irmãos, ponde cada vez maior cuidado em
tornardes certa a vossa vocação e eleição por meio das boas obras, porque,
fazendo isto, não pecareis jamais. Desde modo vos será dada largamente a
entrada no reino eterno de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo".
Caríssimos, destaquei estas palavras: "VOS TORNEIS PARTICIPANTES
DA NATUREZA DIVINA", porque elas
constituirão a ideia central das nossas considerações.
Na parte superior: figura simbolizando a alma no estado de graça. Na parte inferior: símbolo da alma no estado de pecado mortal. |
Verdade importantíssima: o grau de graça que houvermos
alcançado aqui na terra, determinará o grau de glória no Céu. Que fazer para
garantir este TESOURO no Céu? É o que veremos a seguir.
As faculdades de nossa alma, a inteligência e a vontade,
abandonadas às suas próprias forças, nunca poderiam praticar atos sobrenaturais
e meritórios de vida eterna. Pois bem, a liberalidade de Nosso Pai do Céu nos
outorga generosamente, já no Batismo, um conjunto de virtudes e dons
sobrenaturais no próprio momento em que recebemos a graça santificante. O
Sacrossanto Concílio de Trento fala sobre esse cortejo glorioso de virtudes
infusas que acompanha a graça. Dizem os autores espirituais que o início da
vida espiritual é mais difícil e exige mais esforço para praticar as virtudes,
mas, feito isto, o Espírito Santo nos conduz com seus dons. Comparando:
praticar as virtudes seria como navegar a remo; pelos dons é como navegar à
vela. Assim, as virtudes são, fundamentalmente energias ativas; os dons são
docilidades e receptividades que, tornando a alma mais passiva sob a mão de
Deus, a tornam ao mesmo tempo mais apta a seguir as suas moções e a produzir
atos mais perfeitos e até heroicos.
Mas além da graça santificante, que é habitual na alma, Deus
nos dá graças atuais, que são transitórias. São iluminações interiores na nossa
inteligência; e são também inspirações e moções na vontade. O divino Espírito
Santo está na alma no estado de graça sempre agindo, no intuito de a santificar
sempre mais. Mas é evidente que devemos corresponder à esta tão grande
generosidade de Deus; devemos acolher com reconhecimento esta vida e
aperfeiçoá-la com cuidado, sob a ação das graças atuais. Eis o conselho de S.
Paulo: "Exortamos-vos a não receberdes em vão a graça de Deus" (2
Cor. VI, 1). Como Deus é Misericórdia e
Justiça, se o homem não corresponder virá o castigo: "A terra, que absorve a chuva que cai muitas vezes sobre ela e produz
erva proveitosa a quem a cultiva, recebe a bênção de Deus; mas, se ela produz
espinhos e abrolhos, é reprovada e está perto da maldição, o seu fim é a
queima" (Hebr. VI, 7 e 8). Donde caríssimos, devemos receber e guardar
a graça com todo respeito e reconhecimento e logo fazê-la frutificar,
aumentando diariamente a graça santificante produzindo atos sobrenaturais e
meritórios. Em outras palavras: devemos estimar a graça mais do que todos os
tesouros da terra e todas as dignidades terrenas. S. Paulo diz que a graça vale
mais que o dom preternatural de fazer milagres.
É evidente que devemos evitar todo pecado mortal e continuar
lutando para evitar também os pecados veniais deliberados. Devemos lutar até
para evitarmos as imperfeições voluntárias, isto é, as resistências deliberadas
às inspirações da graça. Assim, dia a dia, devemos desenvolver a vida da graça.
Sozinhos, sem o divino Espírito Santo, não podemos nada. Mas a verdade é que o
Espírito Santo opera em nós e conosco, e a sua ação dá às nossas ações um valor
proporcional à grandeza do fim a atingir. Divinizados na nossa própria
substância pela graça habitual, divinizados nas nossas faculdades pelas
virtudes sobrenaturais, podemos produzir, sob a influência da graça atual, atos
sobrenaturais e meritórios da vida eterna.
Caríssimos, três fatores aumentam os méritos de uma alma que
já se encontra em estado de graça: A UNIÃO COM DEUS; A PUREZA DE INTENÇÕES E O
FERVOR.
NB.: Como já me estendi muito, deixarei para falar sobre
estes três pontos em outra postagem, se Deus quiser. Amém!
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