De 1958 a 1962 ajudei meu pároco em todos as cerimônias da
Igreja: Santa Missa, Adoração e Bênção do Santíssimo, Via-Sacra e Semana Santa.
Era minha maior alegria já que tinha vocação ao sacerdócio. E pude acompanhar a derrocada da bela e
piedosa Liturgia da Igreja, desde os preparativos do Concílio Vaticano II até
chegarmos a este descalabro fatídico da Liturgia com os Progressistas. Quando
entrei no Seminário já percebia que lá fora com o caminhar do Concílio toda a
beleza e elevação da Liturgia Tradicional estavam sendo destruídas. Pela graça
de Deus, em 08/12/1974 fui ordenado sacerdote. Pela formação recebida de D.
Antônio de Castro Mayer, de santa memória, conservo e, com a graça de Deus,
conservarei a Liturgia Tradicional.
Venho acompanhando com muita tristeza, que depois do Concílio até hoje,
os progressistas vêm cada vez mais desmoralizando a Liturgia da Igreja no Rito
Latino.
Liturgia é o conjunto das regras estabelecidas pela Igreja,
em todas as coisas que dizem respeito ao culto público: os lugares (edifícios
do culto), os objetos, os atos e os tempos do culto. Não entra no domínio da
liturgia nenhum ato de culto externo particular. A Santa Igreja, Corpo místico
de Cristo e cuja cabeça é o próprio Jesus Cristo e cuja alma é o Espírito
Santo, e do qual somos os membros, eleva a sua voz ao Pai, ou seja, tem a sua
oração organizada pela Liturgia. Liturgia não é, pois, satisfação estética com
a qual, infelizmente, muitos penetram num templo com muita erudição artística,
com o mais refinado gosto pelo simbolismo, com a alma fascinada pela arte ou
pelo perfume do incenso, mas não penetram na fonte da vida litúrgica. Caríssimos,
nunca alguém poderá obter o sobrenatural com a superficialidade. Não é também
Liturgia só as cerimônias externas. Comparando, seria como alguém que lesse os
sermões de grandes oradores sacros só apreciando a aplicação da gramática, da
sintaxe e da eloquência.
Caríssimos, a Liturgia tem por fim promover a dignidade do
culto e alimentar a piedade. A Liturgia nos ritos do Antigo Testamento era
apenas figura do que seria no Novo Testamento, e, no entanto o próprio Deus a
estabelecia em todos seus detalhes. Na verdade, o homem deve ao Criador a
vassalagem do seu ser inteiro, tanto do corpo como da alma. Portanto, as
atitudes do corpo, os gestos das mãos, as palavras dos lábios, os monumentos
que se erguem majestosos para o alto, os paramentos ricos são outros tantos
meios de que podemos lançar mão para adorarmos a Deus. A Igreja, antes do
Concílio Vaticano II, nunca deixou nada à fantasia individual. Ela sempre
intervinha e formulava leis garantidoras da dignidade do culto. Basta
lembrarmos o que fez o Papa São Pio V em relação ao Santo Sacrifício da Missa. É
evidente que a piedade verdadeira nasce da alma, ou, como se costuma dizer, do
coração. E realmente, o culto externo não passaria de hipocrisia, se não fosse
baseado no culto que vem da alma, isto é, do culto interior. Mas, como somos
alma e corpo, é óbvio também que o culto externo facilita o culto interior, e a
imponência, a pompa das cerimônias públicas, afervoram a devoção da alma e
elevam-na para Deus. Por isso que a
bagunça da liturgia nova banaliza até os mistérios da Santa Religião. Na verdade, até o Concílio Vaticano II e ainda
hoje na verdadeira Tradição, a Igreja com toda a sua vida íntima, o seu
pensamento, sua aspirações, tradições e toda a sua alma, se transfundiram em
sua linguagem que é a oração e justamente a oração litúrgica.
Pela ORAÇÃO LITÚRGICA o homem já não é uma gota d'água
tomada isoladamente mas se acha unido a Jesus Cristo e a toda Igreja e
participa da força da imensidade do oceano, e por isto, - como diz D. Chautard
- sua oração se diviniza e atinge todos os séculos desde a criação dos anjos e
sua primeiro adoração até nossos dias. A oração litúrgica abrange todas as
gerações de almas santas que a Igreja criou desde o dia de Pentecostes.
Os primeiros cristãos, quando ao cair da noite se reunião
para assistirem o Sacrifício e receberem a comunhão, sentiam-se verdadeiros
irmãos em Cristo, isto é, unidos a Ele no organismo da Igreja. Ao falar da santa Liturgia, S. Pio X esperava dela o reflorescimento
do verdadeiro espírito cristão. Os modernistas estão destruindo este verdadeiro
espírito cristão exatamente pela ruína e desmoralização da Liturgia.
Caríssimos, lutemos pela conservação da Liturgia
Tradicional, a começar pela Santa Missa. Em toda santa Liturgia Tradicional façamos
soar uma nota: a nossa divinização. Amém!
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