"Vivo, mas já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim"
(Gál. II, 20.
Este artigo é dirigido especialmente a nós do Clero, mas,
obviamente, "mutatis mutandis", se aplica também aos leigos.
Hoje lamenta-se a falta de padres, mas antes a lamentar
seria a falta de padres santos. Sob o pretexto desta falta de padres, avoca-se
até a necessidade de se acabar com o celibato sacerdotal. Realmente teríamos
mais padres, mas o necessário é que tenhamos padres santos. Aí está a
diferença, aí está a solução.
Também, D. Gänswein disse: "um ministério ampliado – com um membro ativo e um membro
contemplativo", se referindo respectivamente ao Papa Francisco e ao
"Papa Emérito" Ratzinger. "Data venia", na minha humilde
visão, acho isto impossível de ser legitimado por argumentos teológicos, e
mesmo, pelos da Teologia Ascética e Mística.
Deus exige de nós Padres, seus Ministros, uma dupla vida: a
vida interior, vida de recolhimento, de piedade, de oração e mortificação,
"vigiai e orai", "fazei penitência"; e a vida exterior, a
vida ativa, a vida das obras, do apostolado: "ensinai";
pregai"... "apascentai minhas ovelhas". Estas duas vidas não se
devem separar, aliás completam-se maravilhosamente.
Embora a vida contemplativa seja em si mesma, melhor que a
ativa, o ideal todavia, para o sacerdote, é a fusão das duas vidas que
constitui o verdadeiro apostolado, obra principal do cristianismo. Mas é
preciso que a vida contemplativa seja a base da vida ativa, que esta seja a
exteriorização daquela. A contemplação deve ser a raiz da seiva da qual a vida
ativa vive e se alimenta.
A vida interior é a vida mesma de Jesus Cristo animando a
alma como a alma anima o corpo ao qual está unida. Do mesmo modo como a alma é
o princípio das operações do corpo, cujos órgãos move; os olhos para ver, os
pés para andar, a língua para falar, a mão para agir, assim Jesus Cristo
vivendo na alma verdadeiramente interior é o princípio de todas as suas
operações sobrenaturais, sem nunca encontrar da sua parte a menor resistência.
É Ele que inspira todos os pensamentos, todos os afetos, todas as
determinações, quem regra mesmo exteriormente todos os atos e movimentos do seu
corpo para contê-los nos limites de uma perfeita modéstia.
Por conseguinte, a alma é penetrada do Espírito de Jesus
Cristo, espírito que , a leva a pensar, julgar, amar, detestar, sofrer,
trabalhar, querer como Ele, por Ele, com Ele e então as ações exteriores só
podem ser a manifestação da vida, do espírito de Jesus Cristo em nós. "Não
sou mais eu que vivo, é Jesus que vive em mim". Este é o ideal da vida
cristã.
São Paulo, para no-la fazer entender melhor, serve-se da
comparação do enxerto que vem a ser uma mesma coisa com a árvore em que foi
inserido, vive da sua vida, alimenta-se de sua seiva. A alma interior é este
enxerto, inserido em Jesus Cristo, a árvore de cuja vida participa, de sorte
que ela tem com ele uma só pensamento, um só querer e não querer.
O mesmo Apóstolo diz ainda que Jesus Cristo é o chefe do
corpo do qual nós somos membros, "Cristo é a cabeça... nós somos os
membros do seu corpo" (Ef. V, 30). Mas a cabeça e os membros vivem da
mesma vida; e como da cabeça a vida dimana sobre os membros inferiores, assim
de Jesus dimana sobre as almas que Lhe são unidas, como ao seu Chefe, uma vida
toda divina e esta vida é a vida interior. Portanto, vida cristã, vida
interior, santidade não diferem essencialmente; são três graus desta união da
alma a Nosso Senhor, da ação de Nosso Senhor sobre a alma, dócil à sua direção;
são a aurora, a plena luz, o esplendor do mesmo sol. VIDA INTERIOR é, pois, o
estado da atividade de uma alma que, pela sua união a Jesus Cristo, reage
contra as inclinações naturais e se esforça por alcançar ao hábito de julgar e
dirigir-se em tudo, segundo a doutrina e os exemplos de Jesus Cristo. Dois
movimentos, portanto: a alma se retira, se separa daquilo que a criatura tem de
contrário à união a Deus; e se orienta para Deus. Faz o caminho inverso do
pecado.
Caríssimos, não posso deixar de enumerar aqui alguns
princípios e avisos práticos dados por D. Chautard:
1.
Não se lançar nas obras por mera atividade
natural. Orar para conhecer e seguir sempre a vontade de Deus.
2.
É imprudente e nocivo ficar durante muito tempo
num período de ocupações excessivas.
3.
Regulamento determinando o emprego habitual do
tempo.
4.
Quanto mais ocupações, maior necessidade de
contemplação.
5.
Nas múltiplas obras que são da vontade de Deus,
conservar a sede de vida interior.
6.
Relance de olhos seguro, justo e penetrante para
distinguir se é sob a influência de Jesus que se conserva na ação.
AVISOS PRÁTICOS:
1.
Convencer-se profundamente da necessidade do
regulamento sobretudo quanto a hora de se levantar rigorosamente fixada. E
levantar cedo, dizia S. Francisco de Sales, faz bem ... "à la santé et à
la sainteté"...
2.
A meditação de manhã é a base e elemento
indispensável da vida interior.
3.
Missa, comunhão, recitação do Breviário, funções
litúrgicas são minas incomparáveis de vida interior e devem ser exploradas com
fé e fervor cada dia crescentes.
4. Exame
particular e exame geral, bem como meditação e vida litúrgica, devem tender
sempre par o hábito da guarda do coração, por meio da qual se realiza a união
do "vigilate" e do "orate".
5.
Comunhões espirituais e orações jaculatórias.
6.
Piedoso estudo da Sagrada Escritura, sobretudo
do Novo Testamento. Todos os dias, ou pelo menos muitas vezes na semana.
7.
Preparada pela guarda do coração, confissão
hebdomadária impregnada de contrição sincera, de dor verdadeira e de firme
propósito cada vez mais leal e resoluto.
8.
Retiro anual utilíssimo, mas insuficiente. É
preciso também um retiro mensal sobretudo ao homem de obras.
- Todos estes meios concorrem para a meditação bem feita ou
dela decorrem. Por isso a meditação é o elemento indispensável da vida interior e portanto do apostolado.
(O assunto continua no próximo
artigo).
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