A solidão do sacerdote
Meu filho, durante a tua curta existência sobre a terra vive só com Deus. Que nada turbe o trato interior da tua alma comigo.
Esforça-te por teres só um ideal, uma tendência única. Sê outro Jesus, reveste-te do meu espírito, ama-me e faze-me amar dos outros.
Evita a disjunção das forças e a multiplicidade dos negócios. Não deixes o teu espírito embaraçar-se com dúvidas, escrúpulos, preocupações sobre o passado, o presente e o futuro, não o escravizes pelo apego desregrado a uma ocupação ou a uma pessoa.
O espírito foi-te dado para conheceres o teu Deus, para propor à vontade o Bem supremo e fazer-lhe adotar na ação os meios melhores de o atingires. Tudo o que fora dessa ordem dás às criaturas, tira-lo a Deus.
Guarda a liberdade de teu coração e serás feliz, e encontrar-me-ás no centro da tua alma.
Modera a multiplicidade dos teus desejos. Acaba com os sonhos de prazer, de bem-estar, de honrarias que te inquietam.
No dia da tua ordenação escolhes-te-me como a parte da tua herança. Com este fim separei-te do resto das criaturas, par seres unicamente meu.
Compreendes os meus divinos ciúmes? Aniquilei-me para te vir procurar no teu nada e no teu pecado. Guarda--me pois, íntegro o carinho do teu coração sacerdotal.
A caridade, a gratidão, as conveniências sociais, e ainda os deveres do teu ofício põem-te em frequente contato com o mundo.
Todavia, enquanto tratas com as criaturas, o teu coração deve ficar perto de mim. Não lhe permitas expandir-se livremente e apegar-se a tudo o que fascina. Sem isto levarás uma vida preocupada e um dia cobrirás de vergonha a tua dignidade sacerdotal.
Não te creias mais forte do que os outros, que se deixaram arrastar pela sedução.
Evita a ocasião de pecado. Corta corajosamente certas afeições perigosas para a tua virtude ou nocivas à tua reputação.
Confia teu coração sacerdotal à Virgem das virgens, à Mãe do sacerdote.
Ela guardar-lhe-á as entradas e as saídas e dar-lhe-á a graça de me poder amar com um amor perfeito. Ela duplicará as suas energias, obrigando-te ao trabalho, à dedicação e ao sacrifício.
Tu estás neste mundo, mas não és deste mundo.
Quando os teus deveres de sacerdote estiverem cumpridos, e tiveres satisfeito as conveniências da vida social, recolhe-te comigo ao silêncio e à solidão.
A mola, perdida a tensão, volta à sua posição natural. A tua posição e o teu lugar de repouso, após as tuas ocupações e enredos de cada dia, sou eu, é o meu divino Coração. Aqui virás repousar e tomar de novo forças.
Guarda os teus sentidos. Nenhuma necessidade tens de fixar os teus olhares nas vaidades deste mundo. Sem esta preocupação bem depressa serás seu vil escravo.
Evita com cuidado todas as relações inúteis, todo o comércio epistolar supérfluo, toda a curiosidade com respeito às novidades do mundo.
Possuís em ti mesmo todo um mundo, o mundo sobrenatural. Acostuma-te a viver comigo, teu Irmão que tanto te ama, com nosso Pai e nossa Mãe do Céu, com os anjos e com os santos.
Lembra-te constantemente que és sacerdote. O que diz bem nos homens do mundo, não diz bem em ti.
Só deves entrar em contato com os outros para lhes levares os meus benefícios: para os instruíres, para os alentares, para os consolares e sarares, e, quando andarem extraviados, para os trazeres ao meu redil.
Não mendigues as consolações dos mortais. És tu quem por mim foi constituído para, da minha parte, lhes levar a felicidade e a paz. Esta felicidade procurá-la-ás em mim, porque eu sou o Deus de toda a consolação: sou teu amigo, teu Irmão, com quem tu participas graça e privilégios.
Procura frequentemente viver na solidão. Falar-te-ei nela mais intimamente ao coração, mostrando-te as lacunas da tua vida sacerdotal e a maneira de as encheres, e descortinando-te os inefáveis segredos do meu divino Coração.
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