LEITURA ESPIRITUAL
REFLEXÕES SOBRE TEMA DA SAGRADA ESCRITURA
"Foram ter com ele os fariseus para o tentar e disseram-lhe: É
lícito a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, respondendo,
disse-lhes: Não lestes que quem criou o homem no princípio, criou-os homem e
mulher, e disse: Por isso deixará o homem pai e mãe, e unir-se-á com sua mulher, e os dois
serão uma só carne? Por isso, não mais são dois, mas uma só carne. Portanto,
não separe o homem o que Deus uniu" (S. Mateus XIX, 3 e sgs).
No último dia do ano de 1930, no início de sua Encíclica
"CASTI CONNUBII", Pio XI já constatava com tristeza "a
ignorância total da altíssima santidade do matrimônio cristão"...
Lamentava como a maior parte dos homens desconhecia essa santidade. Ou
negavam-na impudentemente, ou ainda, apoiando-se sobre os princípios falsos de
uma moralidade nova e absolutamente perversa, calcavam-na aos pés. Aliás, 50
anos já antes de Pio XI, o Papa Leão XIII, na Encíclica "ARCANUM",
denunciava que os detratores da fé cristã recusavam admitir sobre a origem do
matrimônio a doutrina constante da Igreja e se esforçavam já há muito tempo por
destruir a Tradição de todos os povos e de todos os séculos.
"... Tendo Deus no sexto dia da criação formado o homem
do limo da terra e insuflado na sua face o sopro da vida, quis dar-lhe uma
companheira, que maravilhosamente tirou do lado do mesmo homem, enquanto ele
dormia; quis Deus com isto, na Sua alta providência, que estes dois esposos
fossem o princípio natural de todos os homens e a fonte de onde o gênero humano
deveria sair e conservar-se através dos tempos por uma série ininterrupta de gerações.
E para que esta união entre o homem e a mulher melhor se harmonizasse com os
Seus sapientíssimos desígnios, lhe imprimiu desde esse dia, à maneira de um
selo e de um sinal, duas qualidades principais, nobres entre todas as outras, a
saber: 'a unidade e a perpetuidade'. - É isto que vemos declarado e abertamente
confirmado no Evangelho pela divina autoridade de Jesus Cristo, quando afirmou
aos judeus e aos Apóstolos que o casamento, segundo a sua própria instituição,
não deve ter lugar senão entre duas pessoas, um homem e uma mulher; que os dois
devem constituir como que uma só carne e que o laço nupcial está pela vontade
de Deus tão íntima e tão fortemente ligado, que nenhum homem tem o poder de o
desligar ou quebrar. 'O homem unir-se-á à sua companheira e serão dois numa só
carne'. Por isso já não são dois, mas uma só carne. 'O que Deus uniu não o
separe o homem' (Mt 19, 5 e 6).
"Mas esta forma de matrimônio, tão excelente e tão
elevada, começou pouco a pouco a corromper-se entre as nações pagãs, e até
entre os hebreus pareceu eclipsar-se e obscurecer-se. Tinha-se na verdade
introduzido entre eles o costume geral de permitir a um homem possuir mais de
uma mulher, e quando, mais tarde, Moisés, 'em virtude da dureza do coração
deles', teve a tolerância de autorizar a repúdio das mulheres, abriu-se a porta
ao divórcio. Com relação à sociedade
pagã, custa crer a que grau de corrupção e de fealdade desceu o casamento,
entregue à ondas dos erros de cada povo e das mais ignóbeis e vergonhosas
paixões. (...).
"Mas todos estes vícios e todas estas ignomínias, que
maculavam os casamentos, encontraram em Deus a reforma e o remédio. Porquanto,
Jesus Senhor Nosso, restabelecendo a dignidade humana e aperfeiçoando as leis
mosaicas, fez do casamento um dos objetos importantes da Sua solicitude. Com
efeito honrou com a Sua presença as bodas de Caná, na Galileia, e tornou-as
memoráveis pelo primeiro dos Seus milagres. Em virtude deste fato, parece que
desde esse dia o matrimônio começou a receber um novo caráter de santidade. Em
seguida o Salvador restabeleceu o matrimônio na nobreza da sua origem
primitiva, já reprovando os costumes dos judeus com relação à pluralidade de
mulheres e ao uso que faziam do repúdio, já proclamando sobretudo o preceito de
que ninguém ousasse reparar o que o próprio Deus uniu por um laço perpétuo. Por
isso, depois de ter resolvido as dificuldades provenientes da legislação das
instituições mosaicas, formulou, na qualidade de Legislador Supremo, esta Lei
sobre o matrimônio: 'Em verdade vos digo que todo aquele que separar de si sua
mulher, exceto o caso de adultério, e tomar outra, é adúltero; e todo aquele
que tomar a que foi repudiada é adúltero' (Mt 19, 9).
(Salvo o primeiro
parágrafo, este artigo compõe-se de excertos da Encíclica "ARCANUM"
do papa Leão XIII).
Observação: Em caso de adultério n]ao. Isto é aceito pelos protestantes e ortodoxos. A tradução aceita pela Igreja [é em caso de matrimônio invalido.
ResponderExcluirCaríssimo Sr. Prof. Francisco de Castro, primeiramente peço desculpas pelo atraso. Copiei simplesmente a tradução feita pela Editora Vozes (1959). Na verdade, prefiro a tradução "a não ser em caso de concubinato [ou fornicação]. Gosto muito dos comentários do Pe. Lincoln Ramos nos "QUATRO EVANGELHOS". Eis sua explanação em Mateus V, 32: "A NÃO SER QUE SE TRATE DE CONCUBINATO". Esta passagem era comumente traduzida por "a não ser em caso de infidelidade [ou adultério] e não faltava quem quisesse interpretá-la como significando a permissão do divórcio em caso de infidelidade. Em recente estudo (Le divorce dans le Nouveau Testament, Paris, 1948), J. Bonsirven, S.J., solucionou a questão, demonstrando que a palavra primitiva usada por Jesus Cristo não designa "infidelidade", mas sim "casamento nulo", "concubinato". Em caso de concubinato, não há dúvida, a separação não só pode, mas deve ser feita. Não, porém, em caso de infidelidade.
ResponderExcluirAinda que se conserve a tradução: "a não ser em caso de infidelidade", não lhe podemos atribuir sentido favorável ao divórcio. Seria contra o bom senso, contra os evangelhos e contra a história. a) Contra o bom senso. Na lei de Moisés o adultério era punido com o apedrejamento. Ora, se Jesus Cristo veio aperfeiçoar a lei, não iria permitir o o absurdo de se dar o divórcio como recompensa ao crime do adultério. b) Contra os Evangelhos. Os textos dos outros evangelistas são muito claros no lugares paralelos a este. Por eles vemos que Jesus Cristo não faz exceção alguma. Cf. Mc 10, 2-12 e Lc 16, 18. Ora os textos menos claros de um evanglho devem ser interpretados à luz dos lugares paralelos mais claros. c) Contra a história. Se, porventura, as palavras de Jesus Cristo incluíssem uma exceção em favor do divórcio, assim o teriam compreendido os contemporâneos de São Mateus e principalmente os cristãos de origem judaica, para quem foi escrito o primeiro evangelho. Ora, os cristãos primitivos jamais entenderam que fosse este o ensinamento do divino Mestre.