sexta-feira, 10 de junho de 2016

VÍNCULO INDISSOLÚVEL DO MATRIMÔNIO


LEITURA ESPIRITUAL

REFLEXÕES SOBRE TEMA DA SAGRADA ESCRITURA

"Foram ter com ele os fariseus para o tentar e disseram-lhe: É lícito a um homem repudiar sua mulher por qualquer motivo? Ele, respondendo, disse-lhes: Não lestes que quem criou o homem no princípio, criou-os homem e mulher, e disse: Por isso deixará o homem pai  e mãe, e unir-se-á com sua mulher, e os dois serão uma só carne? Por isso, não mais são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu" (S. Mateus XIX, 3 e sgs).

No último dia do ano de 1930, no início de sua Encíclica "CASTI CONNUBII", Pio XI já constatava com tristeza "a ignorância total da altíssima santidade do matrimônio cristão"... Lamentava como a maior parte dos homens desconhecia essa santidade. Ou negavam-na impudentemente, ou ainda, apoiando-se sobre os princípios falsos de uma moralidade nova e absolutamente perversa, calcavam-na aos pés. Aliás, 50 anos já antes de Pio XI, o Papa Leão XIII, na Encíclica "ARCANUM", denunciava que os detratores da fé cristã recusavam admitir sobre a origem do matrimônio a doutrina constante da Igreja e se esforçavam já há muito tempo por destruir a Tradição de todos os povos e de todos os séculos.

"... Tendo Deus no sexto dia da criação formado o homem do limo da terra e insuflado na sua face o sopro da vida, quis dar-lhe uma companheira, que maravilhosamente tirou do lado do mesmo homem, enquanto ele dormia; quis Deus com isto, na Sua alta providência, que estes dois esposos fossem o princípio natural de todos os homens e a fonte de onde o gênero humano deveria sair e conservar-se através dos tempos por uma série ininterrupta de gerações. E para que esta união entre o homem e a mulher melhor se harmonizasse com os Seus sapientíssimos desígnios, lhe imprimiu desde esse dia, à maneira de um selo e de um sinal, duas qualidades principais, nobres entre todas as outras, a saber: 'a unidade e a perpetuidade'. - É isto que vemos declarado e abertamente confirmado no Evangelho pela divina autoridade de Jesus Cristo, quando afirmou aos judeus e aos Apóstolos que o casamento, segundo a sua própria instituição, não deve ter lugar senão entre duas pessoas, um homem e uma mulher; que os dois devem constituir como que uma só carne e que o laço nupcial está pela vontade de Deus tão íntima e tão fortemente ligado, que nenhum homem tem o poder de o desligar ou quebrar. 'O homem unir-se-á à sua companheira e serão dois numa só carne'. Por isso já não são dois, mas uma só carne. 'O que Deus uniu não o separe o homem' (Mt 19, 5 e 6).

"Mas esta forma de matrimônio, tão excelente e tão elevada, começou pouco a pouco a corromper-se entre as nações pagãs, e até entre os hebreus pareceu eclipsar-se e obscurecer-se. Tinha-se na verdade introduzido entre eles o costume geral de permitir a um homem possuir mais de uma mulher, e quando, mais tarde, Moisés, 'em virtude da dureza do coração deles', teve a tolerância de autorizar a repúdio das mulheres, abriu-se a porta ao divórcio.  Com relação à sociedade pagã, custa crer a que grau de corrupção e de fealdade desceu o casamento, entregue à ondas dos erros de cada povo e das mais ignóbeis e vergonhosas paixões. (...).

"Mas todos estes vícios e todas estas ignomínias, que maculavam os casamentos, encontraram em Deus a reforma e o remédio. Porquanto, Jesus Senhor Nosso, restabelecendo a dignidade humana e aperfeiçoando as leis mosaicas, fez do casamento um dos objetos importantes da Sua solicitude. Com efeito honrou com a Sua presença as bodas de Caná, na Galileia, e tornou-as memoráveis pelo primeiro dos Seus milagres. Em virtude deste fato, parece que desde esse dia o matrimônio começou a receber um novo caráter de santidade. Em seguida o Salvador restabeleceu o matrimônio na nobreza da sua origem primitiva, já reprovando os costumes dos judeus com relação à pluralidade de mulheres e ao uso que faziam do repúdio, já proclamando sobretudo o preceito de que ninguém ousasse reparar o que o próprio Deus uniu por um laço perpétuo. Por isso, depois de ter resolvido as dificuldades provenientes da legislação das instituições mosaicas, formulou, na qualidade de Legislador Supremo, esta Lei sobre o matrimônio: 'Em verdade vos digo que todo aquele que separar de si sua mulher, exceto o caso de adultério, e tomar outra, é adúltero; e todo aquele que tomar a que foi repudiada é adúltero' (Mt 19, 9).

 (Salvo o primeiro parágrafo, este artigo compõe-se de excertos da Encíclica "ARCANUM" do papa Leão XIII).  

2 comentários:

  1. Observação: Em caso de adultério n]ao. Isto é aceito pelos protestantes e ortodoxos. A tradução aceita pela Igreja [é em caso de matrimônio invalido.

    ResponderExcluir
  2. Caríssimo Sr. Prof. Francisco de Castro, primeiramente peço desculpas pelo atraso. Copiei simplesmente a tradução feita pela Editora Vozes (1959). Na verdade, prefiro a tradução "a não ser em caso de concubinato [ou fornicação]. Gosto muito dos comentários do Pe. Lincoln Ramos nos "QUATRO EVANGELHOS". Eis sua explanação em Mateus V, 32: "A NÃO SER QUE SE TRATE DE CONCUBINATO". Esta passagem era comumente traduzida por "a não ser em caso de infidelidade [ou adultério] e não faltava quem quisesse interpretá-la como significando a permissão do divórcio em caso de infidelidade. Em recente estudo (Le divorce dans le Nouveau Testament, Paris, 1948), J. Bonsirven, S.J., solucionou a questão, demonstrando que a palavra primitiva usada por Jesus Cristo não designa "infidelidade", mas sim "casamento nulo", "concubinato". Em caso de concubinato, não há dúvida, a separação não só pode, mas deve ser feita. Não, porém, em caso de infidelidade.
    Ainda que se conserve a tradução: "a não ser em caso de infidelidade", não lhe podemos atribuir sentido favorável ao divórcio. Seria contra o bom senso, contra os evangelhos e contra a história. a) Contra o bom senso. Na lei de Moisés o adultério era punido com o apedrejamento. Ora, se Jesus Cristo veio aperfeiçoar a lei, não iria permitir o o absurdo de se dar o divórcio como recompensa ao crime do adultério. b) Contra os Evangelhos. Os textos dos outros evangelistas são muito claros no lugares paralelos a este. Por eles vemos que Jesus Cristo não faz exceção alguma. Cf. Mc 10, 2-12 e Lc 16, 18. Ora os textos menos claros de um evanglho devem ser interpretados à luz dos lugares paralelos mais claros. c) Contra a história. Se, porventura, as palavras de Jesus Cristo incluíssem uma exceção em favor do divórcio, assim o teriam compreendido os contemporâneos de São Mateus e principalmente os cristãos de origem judaica, para quem foi escrito o primeiro evangelho. Ora, os cristãos primitivos jamais entenderam que fosse este o ensinamento do divino Mestre.

    ResponderExcluir