(Excertos do capítulo
III do livro "OS DEZ MANDAMENTOS", da autoria da Mons. Tihamer
Tóth)
"O nosso assunto
agora é este: Que significa o Decálogo para a vida eterna.
Apresentou-se a Nosso
Senhor Jesus Cristo um jovem amável e rico, e cravando olhares ardentes no seu
santo rosto, perguntou com as ânsias da alma que deveras procura a Deus: 'Mestre, que boas obras devo fazer para
conseguir a vida eterna?' (S. Mateus XIX, 16).
Não é este, igualmente, o
grande problema? Não poderíamos também nós, homens modernos, colocar-nos junto
do jovem e dizer com ele: 'Senhor, o peso esmagador da vida moderna, tão
agitada, acabrunha-me e turba o meu espírito. Sei que tenho uma alma. Que devo,
porém, fazer para a salvar? Senhor, o abismo de maldade satânica abre as suas
fauces em volta de mim e faz vacilar a minha alma já abalada. Senhor, que devo
fazer para salvar a minha alma e conseguir a vida eterna?...'
Decerto é também este o
nosso problema.
Confiemos na resposta do
Senhor.
Jesus respondeu: 'Se queres entrar na vida eterna guarda os
Mandamentos'.
Como? É esse o grande
segredo? É essa a grande orientação? Essas breves palavras?
Sim, estas breves
palavras: 'Guarda os mandamentos'. Mas se Jesus Cristo fazia depender delas a
vida eterna, é bem razoável que nós tratemos de penetrar o seu sentido
profundo, porque, são, profundíssimas, embora pareçam tão singelas. (...)
'Se queres!' Portanto,
depende de mim, só de mim, a sorte que me caberá além túmulo. Depende de mim.
Deus a ninguém obriga, não leva ninguém para o Céu por violência. O homem é
livre: pode decidir livremente sobre o seu destino eterno. (...) Mas tem
cuidado, não esqueças: se não tratas da tua alma, o prejuízo não será nem da
Igreja, nem de Deus. Acredita: não hão de ser eles que sofram com isso.
O livre arbítrio do homem
é um valor magnífico, mas um dom perigoso [por causa da fraqueza humana], ao
mesmo tempo. Tens liberdade de ação, mas és responsável pelos teus atos. Se
empregas a vida segundo as leis de Deus, asseguras a tua felicidade eterna; se
usas dela contra essas leis, mereces uma condenação perdurável.
"Se queres entrar na vida eterna, guarda os Mandamentos". O
Senhor deu leis a todas as suas criaturas; e são justamente essas leis que
asseguram a ordem, a beleza, a harmonia do mundo. Os astros siderais
percorrendo a sua órbita, as plantas dando flores, o animal vivendo, todos
obedecem a Deus; são regidos por leis físicas e biológicas; a sua maneira de
agir está determinada.
Com o homem teve Deus
procedimento excepcional: também lhe deu leis, mas deixando-lhe a liberdade:
- É esta a minha vontade; está na tua mão
cumpri-la; portanto, se a repelires, lavrarás a tua condenação. (...) A lei não
faz mais do que aperfeiçoar a liberdade.
O que aprende a pintar
tem de observar as leis da perspectiva. Limita-se, por isso, a liberdade do
pintor? De modo nenhum. Está na sua mão desprezar as leis da perspectiva;
mas... assim lhe ficará o quadro. Tu também podes infringir as leis de Deus;
mas... pensa o que será a tua alma.
O que aprende música terá
de respeitar as leis da harmonia. Sofre limitação a sua liberdade? Não sofre.
Pode escrever uma composição, tocar instrumentos, cantar... contra as leis da
arte... enquanto houver quem lhe suporte tanta dissonância. Tu também podes
levar uma vida contrária à lei de Deus mas... será cheia de dissonâncias.
O que escala o pico de
Lomnic tem um caminho seguro, provido em muitos lugares de varandas e cordas a
que pode segurar-se. Estará por isso limitada a sua liberdade? De modo algum.
Pode experimentar outros caminhos, pode escolher os que quiser, mas que não se queixe
de ninguém senão de si, se por fim cair.
Se queremos pintar a
obra-prima da nossa vida e observar nela a justa perspectiva, temos de guardar
a Lei de Deus. Se queremos que a nossa vida seja harmoniosa, temos de procurar
na Lei de Deus os devidos acordes. Se queremos atravessar com segurança os
perigos da vida, sem cair no precipício, e atingir os cumes da vida eterna,
temos de seguir a Lei de Deus que nos indica o caminho. (...).
Resume-se o presente
capítulo e o anterior neste pensamento: o Decálogo serve de garantia para a
vida terrena e para a vida eterna. Não há ninguém que possa iludir a voz da
autoridade que vibra nestas leis [Êxodo XX, 1-17]. Elas obrigam igualmente ao
menino e ao ancião, ao pobre e ao rico, aos seculares e aos sacerdotes. Sim;
TAMBÉM obrigam aos sacerdotes.
Estranhar-se-á porventura
o sublinhado. É que existe em meu poder uma carta cheia de censuras tão
ásperas, como esta: "Vós nos pregais o Decálogo... Antes de o fazerdes
conviria que os próprios sacerdotes o guardassem; mas eles não o
cumprem..."
Não sei que tristes cenas
presenciaria o autor desta carta para a escrever com tanta amargura; mas tenho
de afirmar de um modo solene que o Decálogo, é evidente, não obriga só aos
leigos, mas também aos sacerdotes. Ainda mais: obriga com mais rigor a estes,
porque eles têm de dar exemplo. E se algum cai, por fragilidade humana, ninguém
o deplora mais que a própria Igreja e os sacerdotes zelosos que o são segundo o
Coração de Cristo.
Sim, o Decálogo corta ao
vivo; corta como o cinzel; é aguçado como o bisturi. Quem o poderia negar? Quem
poderia negar que é preciso ter uma firmeza a toda a prova, um entusiasmo que
não vacile ante os sacrifício e um domínio próprio que só a imitação de Cristo
pode dar, para permanecer fiel aos Mandamentos de Deus, sempre e em todas as
situações, no meio deste mundo tão tempestuoso? A alma que segue a Cristo tem
de preparar-se para uma luta dupla: o primeiro combate, à custa de suor de
sangue, terá de o sustentar contra os próprios instintos; a segunda refrega consistirá
no combate com o mundo desdenhoso e ofensivo, que não compreende os altos ideais.
Mas não podemos ceder.
Se a vida humana e as
leis divinas não se coadunam, não havemos de pretender que se modifiquem as
leis divinas, mas sim que se reforme a
vida humana. Não é lícito "reformar a religião de Cristo segundo os
postulados da época" como pedem alguns [hoje infelizmente muitíssimos, até
bispos]; não é lícito "reformar" o Evangelho de Cristo [nem jogá-lo
no lixo], nem é lícito "reformar a moral cristã. O homem efeminado,
indolente, frívolo, ébrio de prazeres, veria com gosto uma nova edição, correta
e abreviada, do Decálogo; aplaudiria, por exemplo, a supressão do sexto
mandamento; mas do mesmo modo que o Sol não segue na sua carreira, os relógios
de algibeira, nem os átomos, ao combinar-se, têm em conta as lucubrações dos
químicos; nem a órbita dos corpos siderais tem complacências com os melhores astrônomos;
nem as leis do universo se modificam segundos os caprichos dos primeiros
físicos... assim também as leis de Deus
não obedecem aos humores dos homens. Da natureza criada por Deus não
podemos trocar uma única verdade, não podemos suprimir nem uma só lei; assim
como a não podemos suprimir no mundo sobrenatural.
Mas o homem moderno tem
necessidade e necessidade urgente de uma coisa: Necessita não de uma fé nova,
nem de uma religião nova, nem de um código novo, mas de um coração novo, de uma alma nova, de uma generosidade nova,
de um amor novo à fé antiga.
Não é coisa fácil observar sempre e em tudo os dez Mandamentos; mas nós
queremos cumpri-los, porque sabemos que deles depende o bem-estar da Humanidade
neste mundo e disso depende a nossa felicidade eterna no Céu."
AMÉM!
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