(Excertos do capítulo
II do Livro "OS DEZ MANDAMENTOS" , autor Mons. Tihamer Tóth)
"Há um escritor francês de vista aguçada e bem talhada
pena, um pároco de Paris. O seu nome literário é Pierre l'Ermite (Pedro o
Eremita). É nome muito conhecido.
No grande diário dos católicos franceses, La Croix, este
pároco descreveu uma interessante conversa que teve com certa senhora. É
senhora de idade avançada, mas em o encanto cheio de dignidade das avós, nem o
olhar modesto que infunde respeito. Na sua pessoa lutam em partes iguais a
seda, as jóias e os ingredientes com as marcas indeléveis do tempo que passa. Pertence
à paróquia do escritor, mas não põe os pés na igreja. Contudo, na rua, nunca
deixou de saudar o pároco com uma graciosa saudação de cabeça e gostaria mesmo
de o ver entre os seus convidados... porque pensa que assim teria ficado em dia
com as suas obrigações religiosas... O pároco é que não aceitou nem um dos seus
convites.
Certo dia, passava esta senhora por uma rua, justamente ao
lado do pároco; indignada, tremendo de cólera, voltou-se para o sacerdote a
quem nunca havia dirigido a palavra:
- Monsieur le Curé! Senhor Prior! Olhe para
ali! O pároco, surpreendido, olhou na direção indicada. A dizer a verdade não
falta ali que ver... Passam na rua grandes autobuses cheios de jovens
comunistas, de barretes encarnados, empunhando bandeiras vermelhas e cantando
em coro a Internacional.
- Que horror! - gritou a senhora. E a sua cara, branca à
custa de pó, tornou-se vermelha.
- Que coisa
repugnante! Que nojo!
O sacerdote sentiu também o coração oprimido à vista de tão
horroroso espetáculo; mas, esforçando-se por aparentar tranquilidade,
respondeu:
- Isto, minha
senhora, é na verdade, uma coisa lógica.
- O que?! uma coisa
lógica?! - exclamou a senhora, pasmada.
- Claro que sim.
Completamente lógica. Porque, se não há Deus, se não há vida eterna, se não há
bem nem mal, não há motivo para que os comunistas tratem com delicadeza a
sociedade burguesa...
- A senhora
respondeu irritada:
- Mas Deus existe!
- Sim, minha
senhora! Mas eu nunca a vi na igreja.
- Eu tenho cá um
Deus pessoal...
- Um Deus pessoal?
- Sim, um deus
pessoal. É mais cômodo.
Ao chegar a este ponto o sacerdote, habitualmente calmo e
cortês, perdeu a paciência e expandiu o que, havia meses, guardava no coração.
- Sabe, minha
senhora, que é sua a responsabilidade do que se passa aqui, desta desordem,
desta falta de consciência?
- Minha? - perguntou, surpreendida.
Sim. Da senhora e das pessoas como a senhora. Pertencem à
classe social que orienta, à classe que deveria ser o sal, o fermento, a luz. E
são-no, realmente? Não dão, durante todo o ano, o mau exemplo da indiferença
religiosa aos seus porteiros, criados e conhecidos? Por que há de o povo
acreditar se os senhores não acreditam? O povo segue-os. E se para os senhores
não há nada santo, por que há de o povo respeitar, por exemplo, a sua bolsa, o
seu adereço de diamantes... ou a sua própria pele? Minha senhora! Perante Deus
nós somos responsáveis por tudo, tudo!
A senhora, encolerizada, olhou o pároco dos pés à cabeça,
fez um trejeito com a boca e, voltando-lhe as costas, disse apenas:
- Reverendo padre,
quando eu quiser ouvir um sermão irei à igreja...
E seguiu, irada, o seu caminho.
Não quero afirmar que o pároco se portasse com inteira
cortesia; nem mesmo teria razão em absoluto.
Mas não há dúvida de que a senhora também não a tinha.
Porque, se qualquer pessoa tivesse o direito de fabricar para seu uso um
"deus" individual e uma moral própria, então: I) Onde chegaria a vida
da sociedade humana? II) Onde chegaria também a vida do indivíduo?
No capitulo anterior [do qual extraí o último post] tracei
um quadro imaginário para mostrar quão tranquila e cheia de bênçãos seria a
vida cá em baixo se os homens cumprissem com seriedade o Decálogo.
Observemos agora o reverso do quadro: Que sorte seria a da
humanidade se um dia rompesse definitivamente com os dez Mandamentos? Que
espantosa miséria!
Suprimi o primeiro Mandamento e permiti que cada qual
fabrique para si um "deus" próprio; então ou chegaremos outra vez ao
Panteão da Roma pagã, com seus trinta mil deuses, ou nos revolvemos em uma
imoralidade pior que a vida dos animais, porque é mais fácil para a ave viver
sem ar e para o peixe viver sem água do que para a alma humana viver sem Deus.
Apagai o segundo e o quarto Mandamentos e consenti que
qualquer vadio da rua levante o punho, blasfemando contra Deus. Depois de
rebaixar a autoridade divina poderá a autoridade humana permanecer intacta?
E onde os pais e as leis não têm autoridade, onde as
palavras perderam o seu valor pode haver uma vida civilizada? não se poderá
antes falar com propriedade de um rebanho humano reunido e dominado pelo látego
de um carrasco?
Apagai o terceiro Mandamento, suprimi o culto e o descanso
dominical! Avante! Viva o trabalho contínuo, viva o toque das sereias das
fábricas. Já o experimentou o homem: as máquinas trepidantes abafam, em muitas
partes, a voz dos sinos dominicais. Dizei-me, então: Somos assim mais felizes,
mais livres ou oprime-nos um peso mais esmagador do que a escravidão dos ilotas?
Sim: é justo adiantarmos e progredirmos... mas haveria em toda a história
humana uma época de maiores desesperos, de mais punhos cerrados, de mais
olhares chispando ódio? Houve alguma vez, nos tempos pretéritos, antes da
técnica desenfreada que nem sequer permite o descanso dominical, crianças com
bandeiras e barretes vermelhos?
Há médicos e homens entendidos em Economia que apregoam o
benefício do descanso dominical e aplaudem a doutrina da Igreja, segundo a qual
o homem mais rico está obrigado ao trabalho, mas o mais pobre tem igualmente
direito ao descanso.
E como também recreia o espírito celebrar o domingo com um
ato de culto e, pelo menos nestes momentos santos, elevar um pouco a alma
humana, esgotada pela luta de cada dia!
Apagai o sexto e o nono Mandamentos, apregoai o amor livre.
Passados alguns decênios, podereis ver ainda figuras humanas sobre a terra? Não
verás somente costas curvadas, caras chupadas, olhos encovados, sangue
empobrecido?
Apagai o sétimo e o décimo Mandamentos: e empenhar-se-ão
numa luta de feras os homens dados à rapina.
Apagai o oitavo mandamento: e o esposo não poderá confiar na
esposa, nem a mãe poderá acreditar nas palavras do filho.
Logo, a honra da palavra empenhada, o respeito da leis, a
estima dos superiores, o amor do trabalho, a felicidade das famílias e o
bem-estar da nações acompanha a sorte do Decálogo: com ele florescem ou sem ele
decaem.
Se meditarmos na desorientação atual e no futuro da nossa
sociedade, pesa-nos sobre o espírito uma incerteza esmagadora: por toda a parte
um caminhar às apalpadelas nas trevas, ódio concentrado, pânico de revoltas, um
buscar de novas formas de vida. Mas se dirigirmos um golpe de vista às
catástrofes sofridas no passado, não temos razão para desanimar. A sociedade
cristã sofreu crises maiores: basta recordar a queda de Roma, as invasões dos
vândalos, hunos, turcos... os horrores da guerra dos Trinta Anos. Sim, tudo
isto sofreu a Europa cristã. E como pôde resistir-lhe? Porque no momento
crítico tinha uma ideia que infunde força, que dá vida: tinha fé em Deus.
E se hoje reina a agitação e se repetem diariamente os
abalos sociais, é porque foi diminuída em nós a fé antiga em Deus. E no seu
lugar que ficou? Incerteza, desespero, mania do suicídio em uma parte da
humanidade; uma vida sem freio, luxo e libertinagem na outra.
Sociólogos, sábios, escritores dos nossos dias preocupam-se
na averiguação de quem abriu a fossa a cujos bordos está cambaleando a
humanidade atual. Quereis saber quem foram os que abriam tal fossa? Não quisera ser tão duro como o pároco parisiense. Mas devo dizer: foram os que despojaram
a alma humana da sua fé em Deus, os que partiram as tábuas do Decálogo.
Não é coisa fácil levantar o homem moderno, acostumado ao
estreito horizonte da vida material e elevá-lo às alturas ideais do Decálogo.
Temos, contudo, de o conseguir. As multidões encaram hoje os pensamentos
elevados, divinos, tão estupidamente como a galinha que esgravata no monturo
poderia contemplar a águia real voando nas alturas. - 'Pássaro insensato! para que voas no espaço
vazio, onde não há ao menos um punhado de terra para rebuscar uns grãos?' E
todavia a moral da Igreja Católica aceita a gigantesca tarefa de transformar
esta geração de galinhas em estirpe de águias reais.
Que pretende, então o Decálogo? Que tenhamos olhar católico,
ouvido católico, língua católica, mãos católicas, pés católicos e coração
católico.
Queremos viver? Desejamos uma vida tranquila, cheia de grato
sossego, neste mundo? Para isso não há outro caminho senão o que o Senhor
ensinou: o cumprimento da Lei de Deus".
AMÉM!
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