LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
Papa Bento XIV dizia
que os avisos do confessor são mais salutares do que os sermões. Não é difícil
compreender isto, porque o pregador não conhece, como o confessor, as
circunstâncias pessoais que colocam este em melhores condições para fazer a
correção e aplicar o remédio ao mal. E estes remédios podem ser gerais e também
particulares.
Primeiramente vamos ver quais os REMÉDIOS GERAIS:
1º - AMAR A DEUS: pois este é o fim para o qual nos criou.
Quem vive no amor de Deus, isto é, em estado de graça, é feliz mesmo neste
mundo, ainda que tenha escassez dos bens materiais; quem está privado da graça,
sofre desde esta vida um inferno antecipado. E depois, quantos males, mesmo
temporais, o pecado arrasta após ele?
2º - RECOMENDAR-SE FREQUENTEMENTE A DEUS, à Santa Virgem, a
São José, a seu anjo da guarda e a seu Santo protetor; rezar todos os dias o
Santo Terço; rezar três Ave-Maria de manhã e à noite, dizendo: "Maria,
minha boa Mãe, preservai-me hoje de todo pecado".
3º - FREQUENTAR OS SACRAMENTOS: Principalmente confessar-se
logo que tenha tido a infelicidade de cometer um pecado mortal.
4º - MEDITAR SOBRE OS NOVÍSSIMOS, MORTE, JUÍZO, INFERNO E
PARAÍSO. Este conselho é dado pelo
próprio Espírito Santo: "Em todas as
vossas obras, meditai nos vossos novíssimos e não pecareis jamais" (Eclesiástico,
VII, 40). Cada qual deve pensar na sua própria morte, no seu juízo, se está
preparado para o céu ou no caminho do inferno. Em tudo o que for fazer devo
pensar assim: que vale isto para a eternidade? para a feliz ou para a infeliz?
Fazendo assim a gente não peca. Andar sempre na presença de Deus.
5º - TER O PENSAMENTO EM DEUS SOBRETUDO NO MOMENTO DAS
TENTAÇÕES: Nestes momentos devemos dizer: "Deus me vê".
6º - RENOVAR CADA MANHÃ A RESOLUÇÃO DE NÃO OFENDER A DEUS:
Dizer sempre com São Filipe Nery: "Senhor, que vossa mão me ampare hoje,
sem o que cairei e posso vos trair".
7º - FAZER TODAS AS NOITES O EXAME DE CONSCIÊNCIA: Depois do
exame, fazer o ato de contrição e de bom propósito. Procurar lembrar a Paixão e
Morte de Jesus e assim ter mais facilidade em conseguir fazer um ato de amor,
de contrição perfeita.
REMÉDIOS PARTICULARES: Estes devem ser apropriados aos
vícios ou aos defeitos que dominam cada penitente. Assim compreendemos que só o
confessor, que é o depositário dos segredos dos corações, tem condição de
prescrevê-los e faz isso com toda prudência.
Caríssimos, estes remédios tanto gerais como particulares
merecem da parte dos penitentes a mais séria atenção. Se não os empregar, não
se curarão espiritualmente.
Quero terminar apresentando-vos, caríssimos, uma espécie de
parábola: Um médico muito hábil foi chamado um dia para tratar de três pessoas
atingidas da mesma moléstia mortal. "Eu tenho, lhes disse ele, excelentes
remédios; se seguirdes fielmente minhas prescrições, eu garanto que ficareis
curados em poucos dias". Receberam os doentes a receita sem dizer palavra;
ela se compunha de duas espécies de medicamentos, uns fáceis de tomar, outros
amargos e repugnantes. O primeiro doente fez exatamente tudo que o médico tinha
receitado, e, oito dias depois, ocupava-se alegremente com seus trabalhos.
Estava curado. O segundo, menos dócil, não quis tomar senão as poções agradáveis,
recusando obstinadamente as amargas, conquanto fossem muito mais eficazes. Mas
quinze dias não tinham passado quando se anunciava sua morte. O terceiro foi
mais rebelde ainda; não quis submeter-se a regime algum, nem reprimir seu
apetite e sua sensualidade. Também no fim de três dias, morreu.
Estes três doentes são a figura de três espécies de
pecadores, que vão declarar ao confessor suas enfermidades espirituais. O
primeiro segue à risca tudo que lhe é imposto pelo representante de Jesus
Cristo: oração, fuga das ocasiões, frequência dos sacramentos, pensamento sobre
a morte, enfim, não omite nada. E assim por mais arraigados que estejam seus
maus hábitos, em pouco tempo se cura.
A segundo espécie de pecadores se compõe daqueles que querem
fazer só uma parte do que o confessor manda, mas não tudo. Por ex. não querem
fugir de certas ocasiões próximas de pecado. Ou então renunciam os xingamentos
e blasfêmias, mas não às injustiças que vinha cometendo. Continuam sem reparar
e praticando outras, por causa da avareza. Nem um São Paulo, dizia S. Filipe
Nery, conseguiria curar tais pecadores.
A terceira classe de pecadores se compõe dos que nada querem
fazer. Até prometem fazer o que o confessor mandou. Mas não fazem nada: não
rezam, não fogem das ocasiões. A estes tais se aplicam as palavras do profeta
Jeremias: "Se um etíope pode mudar a
sua pele, ou um leopardo as suas malhas, podereis vós também fazer o bem, vós
que não aprendestes senão a fazer o mal"? (Jeremias, XIII, 23). Daí a
sentença terrível do mesmo profeta, sentença que se aplica também a tais
pecadores: "Medicamos Babilônia, ela
não sarou; deixemo-la...porque a condenação que ela merece chegou até aos
céus..." (Jeremias, LI, 9).
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