Como a verdade fala dentro da alma sem ruído de palavras
1. A ALMA
"Falai, Senhor, porque vosso servo ouve".
"Eu sou vosso servo, dai-me entendimento para que aprenda as vossas verdades".
"Inclinai meu coração às palavras de vossa boca; desçam elas sobre mim como o orvalho" (Deut. 32, 2).
Diziam noutro tempo os filhos de Israel a Moisés: "Fala-nos tu, e ouviremos; não nos fale o Senhor, para que não suceda que morramos" (Êx. 20, 19).
Não assim, Senhor, não assim vos rogo, antes como o profeta Samuel, com humilde desejo, vos suplico: "Falai, Senhor, porque vosso servo ouve" (Sam. 3, 9).
Não me fale Moisés; nem algum dos profetas; falai-me Vós, Senhor Deus, inspirador e alumiador de todos os profetas; pois Vós só sem eles me podeis ensinar perfeitamente; e eles sem Vós de nada me servem.
Eles podem muito bem proferir palavras; mas não podem dar a graça e o espírito. Sua linguagem é sublime; mas, quando Vós calais, não abrasa o coração. Eles expõem a letra; mas Vós explicais o sentido. Propõem mistérios; mas Vós dais a inteligência para os penetrar. Publicam vossos mandamentos; porém Vós nos ajudais a cumpri-los. Mostram o caminho; porém Vós dais ânimo para trilha-lo. Eles obram sobre os sentidos; mas Vós dais a fecundidade. Eles abrandam com palavras, porém Vós fazeis que o ouvido as perceba.
Não me fale, pois, Moisés, senão Vós, Senhor Deus meu, eterna Verdade, para que por desgraça não morra, e não produza fruto algum, se for ensinado de fora e não abrasado por dentro. Para que não me sirva de condenação vossa palavra ouvida e não praticada, conhecida e não amada, crida e não observada. "Falai, pois, Senhor, porque vosso servo ouve, já que tendes palavras de vida eterna".
Falai-me para dar alguma consolação à minha alma; para ensinar-me a emendar a minha vida; falai-me para louvor, glória e honra eterna de vosso Nome.
REFLEXÕES
Há uma voz que nos fala interiormente e como no fundo da alma, quando, fechando os ouvidos às vozes das criaturas, a Deus só queremos ouvir e O achamos com todo o ardor de nossos desejos. Longe dos homens, esta voz é quem arrebatava os Paulos, os Antônios, os Pacômios, e lhes revelava, sem obscuridade, os segredos da ciência divina. Esta voz é quem instrui os santos, os inflama, os consola e os embriaga , por assim dizer, de sua celestial doçura.
Moisés e os profetas estavam encobertos para os discípulos de Emaús: aparece Jesus e à sua voz dissipam-se as sombras que obscureciam seu entendimento; experimentam um sentimento desconhecido, de tal modo que diziam uns aos outros: "Não estava nosso coração todo abrasado dentro em nós, quando Ele nos falava no caminho e nos declarava as Escrituras?" (S. Luc. 24, 32).
E nós pobres infelizes, que o tumulto do mundo trás ainda distraídos, que faremos?
Não queremos nós também ouvir a Jesus? Como os dois discípulos estamos em viagem; caminhamos para a eternidade. Jesus, por seu amor, se aproxima de nós; e de certo modo se faz nosso companheiro de caminho; porém, achando-nos tão pouco atentos, retira-se, e nós caminhamos sós. Medonho abandono! Dizia Santo Agostinho: "Temo que Jesus passe e não volte". Apressemo-nos com toda a nossa alma: "Senhor, ficai conosco, porque se faz tarde e já vem chegando a noite".
Ramalhete espiritual: "Não estava nosso coração todo abrasado dentro de nós, quando Ele (Jesus) nos falava no caminho e nos explicava as Escrituras?"
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