Da pureza e simplicidade do coração
A criança, pela sua pureza e simplicidade, é realmente "um anjinho" |
Quando Jesus Cristo, Nosso Divino Mestre, quis propor um modelo a seus discípulos, escolheu-o porventura entre os homens sábios e poderosos? Não: "chamou um menino, pô-lo no meio deles e disse-lhes: em verdade vos digo, se vos não converterdes e vos não fizerdes como meninos, não entrareis no reino dos Céus"(S. Mat. XVIII, 2-3).
Na verdade, podemos dizer que a pureza e a simplicidades são duas asas de águia para voarmos acima das coisas terrenas e, consequentemente para, mais segura e facilmente, chegarmos ao Céu.
O que nos estraga é o nosso orgulho: confiamos demasiado em nós mesmos; não percebemos que falta-nos a luz da pureza e simplicidade; ficamos cegos, e pior: nos desculpamos. Pelo orgulho tornamo-nos complicados, cheios de subterfúgios, de ambiguidades e duplicidade. Às vezes, move-nos a paixão e cuidamos que é o zelo. Repreendemos nos outros as faltas pequenas e desculpamos as nossas, posto que mais graves. Mui depressa sentimos e nos magoamos com o que sofremos dos outros; mas não advertimos quanto os outros nos sofrem a nós.
Como nos são necessárias as duas virtudes que encantam o próprio Jesus: a pureza e a simplicidade!
Os que almejam a santidade devem ter o cuidado de falar pouco ou nada de si mesmos e das suas ações.
O Apóstolo São Paulo exclamava: "Quem me livrará deste corpo de morte?" (Rom. VII, 24). Só a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, graça esta que devemos pedir sempre. Que acharemos nós depois, se formos fiéis? A Deus, unicamente a Deus e n'Ele todas as coisas, toda a consolação, todo o bem.
A alma que deveras ama a Deus, despreza tudo o que não é de Deus, e, então tem paz, alegria e simplicidade. A procura de nós mesmos e das coisas do mundo é que nos impede a posse da simplicidade.
Depois desta introdução falemos agora mais diretamente sobre estas virtudes:
A simplicidade há de estar na intenção, e a pureza no afeto.
A simplicidade busca a Deus; a pureza o abraça e nele se compraz.
Nenhuma boa obra te impedirá de voar, se interiormente estiveres livre de todo o afeto desordenado.
Se não quiseres senão o que Deus quer e o que é útil ao próximo, gozarás da liberdade interior.
Sendo o teu coração reto, tens em qualquer criatura um espelho de vida e um livro de santa doutrina. Pois não há criatura tão pequena que não represente a bondade de Deus.
Se fosses bom e puro no interior, logo verias e entenderias bem todas as coisas sem impedimento. O coração limpo penetra o céu.
Cada um julga das coisas exteriores, segundo suas disposições interiores.
Se há gosto no mundo, só o homem de coração puro goza dele.
E se em algum lugar há tribulação e angústia, a má consciência o sente.
Assim como o ferro colocado no fogo perde a ferrugem e fica todo em brasa, assim o homem que inteiramente se converte a Deus, se desentorpece e se muda em novo homem.
A pessoa que é simples e pura crê, ama e obra sem pensar em si mesma, pelo primeiro movimento do coração: e eis o que agrada a Deus! Jesus quer ver em nós uma vontade reta, uma intenção pura e um amor inocente. "Quem quiser me seguir, disse Jesus, abnegue-se a sim mesmo, tome todos os dias a sua cruz, e siga-me".
Dai-me, Deus meu, a simplicidade das almas puras, para que minha boca possa dignamente cantar os vossos louvores e anunciar a vossa grandeza. "Louva, minha alma, o Senhor, e todas as minhas entranhas bendigam o seu nome santo. Louva, minha alma, o Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao Vosso nome dai glória" (Salmo CII, 1,2; CXII, 9).
Nosso ramalhete espiritual será a bem-aventurança proclamada por Jesus: "Bem-aventurados os puros de coração porque verão a Deus".
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