CARTA PASTORAL (1)
prevenindo os
diocesanos contra os ardis da seita comunista.
Escrita em 13 de maio
de 1961 pelo então Bispo da Diocese de Campos, D. Antônio de Castro Mayer, de
saudosa memória.
I - OS OBJETIVOS "HUMANITÁRIOS" DOS
COMUNISTAS E A COLABORAÇÃO COM OS CATÓLICOS
1 -
Cooperação entre católicos e comunistas em Sierra Maestra
A revolução de Fidel Castro, segundo declarações dos
Prelados cubanos (cf. "Cristandad", de Barcelona, nº 358, p. 298),
teve, no seu início e durante todo o período mais duro da conquista do poder, a
colaboração franca, corajosa e entusiasta de católicos. A maioria dos
guerrilheiros de Sierra Maestra era constituída de católicos, que lutavam com o
rosário na mão, animados e acompanhados por Padres católicos.
2 - Um
grande equívoco
Houve, pois, estreita colaboração entre os católicos e os
revolucionários fidel-castristas. Na aparência, uns e outros tinham o mesmo
objetivo: libertar a pátria de um governo tirânico. Na aparência, dizemos,
porque no fundo as intenções eram muito diversas. Os católicos desejavam acabar
com os desmandos de um regime corrupto, e restaurar a ordem dentro da
civilização tradicional de Cuba, a civilização cristã. Os fidel-castristas
empenhavam-se, exclusivamente, pela destruição de um estado de coisas que
detestavam, porque impedia a implantação de outro, ainda mais tirânico que o
então existente, no qual seriam os donos de uma nação escravizada, subordinada
à Moscou. Os católicos batiam-se pela reparação de certas injustiças, e mesmo
pela punição dos culpados. Os fidel-castristas, como os comunistas em geral,
não cuidavam das injustiças a não ser como meio de atrair adesões à sua causa.
Não queriam apenas a punição dos culpados, mas a total destruição de todas as
instituições e pessoas que fossem empecilhos ao domínio do partido.
3 - ... do qual os
católicos não desconfiavam
Eis, portanto, duas forças que se conjugam para a consecução
de um mesmo fim material: pôr cobro a uma situação de fato. O desaparecimento
de um governo tirânico é, em si, um bem. Ele não pode ser, no entanto, pura e
simplesmente destruído. Ele precisa ser substituído por outro, pois que a
sociedade não subsiste sem poder público. De onde a impossibilidade de abolir a
tirania existente num país, sem se cogitar da nova autoridade que há de tomar o
lugar do tirano. No caso cubano, a solução parecia muito fácil. O que se fazia
necessário era abater um governo corrupto, e substituí-lo por outro, honesto,
dentro do mesmo regime político. Não constituíam problema as instituições vigentes,
mas a maneira como as conduziam os governantes. A solução era tão lógica, que
não passou pela cabeça dos católicos houvesse entre os homens de Sierra Maestra
quem pensasse de outro modo. Na aparência, portanto, tudo se preparava no
sentido de corrigir os males introduzidos, especialmente pelo abuso do poder
num regime legítimo e digno de ser aprovado.
4 - O ardil dos
comuno-fidelistas em relação aos católicos
Os comunistas, porém, pensavam diversamente. Eles tinham seu
fim preestabelecido, e, como costumam fazer, aproveitavam-se da ocasião
propícia, para ampliar seu poderia com vistas ao objetivo último: a dominação
mundial. Não o declaravam. Guardavam seu segredo à espera de que, senhores da
situação, pudessem dispensar a máscara com que iludiam os companheiros de
armas.
E assim um país de imensa maioria católica caiu sob a
dominação dos piores inimigos da Igreja.
5 - Engodo comunista
habitual: luta contra a miséria e a injustiça
O que se deu em Cuba é um exemplo típico do resultado a que
leva a colaboração com comunistas. Estes, com efeito, não desdenham a
cooperação dos católicos. Antes, a solicitam, provocam-na mesmo, salientando
miséria e injustiças que possam despertar a indignação e a reação dos espíritos
retos. E infelizmente, amiúde conseguem a colaboração desejada. Habituados a
agir de boa fé, os católicos tendem muitas vezes a achar impossível que por
detrás de considerações humanitárias possa alguém esconder um fim perverso.
Terminam assim empolgando-se, não pelo movimento comunista, mas pela luta em
benefício dos infelizes, dos oprimidos e sofredores. E trabalham juntos,
católicos e comunistas, certos os primeiros de que os outros, como eles,
desejam sinceramente curar a sociedade das chagas que a enfeiam; mais certos os
últimos de que a agitação humanitária lhes proporcionará o ambiente ideal para
a ampliação de seu poderio.
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