CARTA PASTORAL (3)
prevenindo os
diocesanos contra os ardis da seita comunista.
Escrita em 13 de maio
de 1961 pelo então Bispo da Diocese de Campos, D. Antônio de Castro Mayer, de
saudosa memória.
(Continuação)
II - COMO REAGIR CONTRA A TÁTICA COMUNISTA
1 - A grande dificuldade:
discernir a presença da influência comunista
Tudo isso está muito certo e muito claro, dirá alguém. Há,
no entanto, uma dificuldade que parece insuperável. Quando Fidel Castro
encabeçou a revolta de Sierra Maestra, não se apresentou como comunista. Como
era possível saber-se o que ia no íntimo deste caudilho?
Problemas como esse se põem com frequência. Não se deve
esperar dos comunistas lealdade alguma, uma vez que, para eles não existem
obrigações morais (cf. Enc. cit., ibid,. pp 70 e 76). Muito pelo contrário, é
num ambiente saturado de hipocrisia, cinismo e falsidade que se movem (cf. Enc.
cit., ibid., pp. 69, 70, 95 etc.). Para eles só há uma norma de ação: ser útil
ao movimento. Ora, qualquer pessoa tem facilidade de perceber como, no Ocidente
de modo particular, será o comunista tanto mais útil ao partido, quanto menos
for tido e havido por tal. Eis porque escondem os membros da seita marxista,
quando podem, sua filiação partidária. Aparecem como socialistas, como homens
de esquerda, mas muito mais, muitíssimo mais, como humanitários que só desejam
o bem dos pobres, dos operários, que se confrangem à vista das injustiças que
se cometem na sociedade, detestando-as vivamente, e muito mais vivamente a seus
autores. É assim que eles conseguem obter a simpatia e até a colaboração dos
não comunistas (cf. Enc. cit., ibid,. p. 95).
A - CONHECENDO A DOUTRINA COMUNISTA
Ora, semelhante simpatia e colaboração, amados filhos, é que
devemos evitar a todo custo. E para tanto convém que saibamos discernir o lobo
marxista sob a pele de ovelha humanitária.
A fim de que possais identificar os comunistas, importa
antes de tudo conhecer sua verdadeira doutrina. Isto vos permitirá também
aquilatar com mais clareza a oposição radical e insanável que existe entre o
comunismo e o Cristianismo. Passamos pois a expor sumariamente a doutrina
marxista, isto é, a filosofia dessa verdadeira anti-Igreja que é a seita
comunista.
O comunismo, uma seita
Empregamos intencionalmente a palavra "seita". Não
deveis pensar, com efeito, que o comunismo seja apenas um partido político. Ele
o é, certamente, e suas redes envolvem em muitos países milhares e até milhões
de homens e mulheres organizados politicamente, e que servem de núcleo em torno
do qual gravitam outros milhares de simpatizantes e colaboradores. Mas, o
comunismo é mais do que isso. Ele é uma seita filosófica, que pretende
conquistar o mundo todo para sua maneira de pensar, de querer e de ser. Para
conseguir semelhante conquista, os comunistas se organizam em partido; mas a
arregimentação partidária é apenas um meio, um instrumento para atingir a meta
universal.
O que anima a ação da seita marxista e lhe dá energia interna,
clareza de fins, coesão e consequência é sua ideologia. Vamos expô-la
sucintamente.
Materialismo evolucionista
O sistema comunista é o materialismo levado a suas últimas
consequências. Afirma o marxismo que só existe a matéria. Não há Anjos nem
demônios; não há alma espiritual nem Deus. O homem é pura matéria. Uma força
misteriosa impele esse universo material num processo de desenvolvimento
irreprimível, numa evolução irrefreável. Da matéria anorgânica emanou a vida,
da planta nasceu o animal. Entre os animais houve um aperfeiçoamento lento e
constante, até que apareceu o animal atualmente mais perfeito, cujo cérebro
apresenta o mais alto grau de desenvolvimento. Este animal se chama homem. Com
o tempo, o mesmo processo produzirá outro ser mais perfeito, pois assim como no
passado surgiu o homem vindo do bruto, no futuro deverá surgir um outro ser, um
"super-homem", tanto mais perfeito do que nós quanto nós somos mais
perfeitos do que o macaco. Esta evolução não tem limites.
Tudo é relativo, inclusive a moral
Sendo assim, nossas ideias são relativas. O que me parece verdade
metafísica e moral não tem valor objetivo. É verdade para mim, para meu estado
de evolução. Para um ser mais evoluído, não o será. Em uma palavra, não há
verdade objetiva. Eu crio a verdade; por conseguinte, crio o bem. Logo, não há
metafísica, não há moral. É verdade e é bom o que eu quero que o seja. Não há
Deus. Não há ordem natural que me obrigue. Não há direito natural. Não há
autoridade legítima.
O homem comunista liberta-se de toda aquela maneira de pensar que
tem prevalecido ao longo dos séculos, e estabelece o princípio: a verdade é o
que me convém. É bom o que contribui para meu bem-estar subjetivo. Ora, a massa
é a soma dos indivíduos, dos "eu" que a compõem. Assim, pois, a
expressão máxima do homem é a massa. A massa que mais genuinamente representa o
homem puro, autêntico, é a massa proletária. Portanto, o proletariado, a massa
pobre dos trabalhadores é o árbitro supremo do bem e da verdade.
Destruição da Igreja, da autoridade, da hierarquia social
Daí se segue que a Religião, a autoridade dos pais e dos patrões,
a propriedade privada, a moral obrigatória e imutável são quimeras burguesas
que se devem apagar da memória dos cidadãos da "era nova". Igreja,
elites sociais, classes tradicionais não têm o menor direito de existir. Céu,
vida futura, ascese, santidade são conceitos que nada representam de
aproveitável.
Ditadura do proletariado
O homem não deve ter nenhuma preocupação religiosa ou moral. Seu
único cuidado deve ser lutar para dar ao proletariado o domínio absoluto da
sociedade e proporcionar aos seus semelhantes, reduzidos todos à condição de
proletários, o bem-estar na terra.
Luta entre os opostos. "Dialética"
A força metafísica que impele o universo para a perfeição é a luta
entre os opostos. Existe nele uma desarmonia constitucional. Do choque dos
elementos opostos brota a síntese, a harmonia momentânea. Mas logo aquilo que
resultou da síntese encontra outro elemento a que se opõe, e eis de novo uma
tese que se defronta com sua antítese para dar origem a uma nova síntese. Este
princípio rege o universo. Rege também a sociedade humana. Poder-se-ia deixar
que o processo que descrevemos se desenvolvesse em seu ritmo natural. A
sociedade lentamente iria realizando suas oposições, à tese contraporia a
antítese, daí resultaria uma síntese, e no fim ter-se-ia necessariamente o
comunismo. Mas este processo necessário pode ser acelerado. O marxismo ensina a
técnica de fazê-lo. É a luta de classes. Descobrindo os opostos, atiça-se a
luta entre eles, lançando um lado contra outro. Assim, um processo que
naturalmente duraria séculos pode desenvolver-se em poucos anos. É a isso que o
marxismo chama "dialética". Joga os pobres contra os ricos, os
colonos contra os fazendeiros, os inquilinos contra os senhorios, os pretos
contra os brancos, os nortistas contra os sulistas, os nacionais contra os
estrangeiros, os leigos contra os Padres, - eis alguns
exemplos de luta possíveis.
A ciência da Revolução
O comunismo desenvolve uma ciência nova: a ciência da Revolução.
Assim, cientificamente promove a luta dos opostos. Tem esta luta dois aspectos:
um tático e outro estratégico. Este último consiste em apressar cientificamente
a destruição daquelas oposições que, naturalmente, não se destruiriam antes de
séculos, primeiro de coexistência, depois, de luta. A ciência da revolução
estuda, além disso, o aspecto tático. Entre as muitas lutas possíveis, os
dirigentes do comunismo escolhem aquelas que destroem classes e ordens que mais
tenazmente impedem o nivelamento total da sociedade.
Igualitarismo completo
O objetivo final dos sectários de Marx é, portanto, o nivelamento
total, a abolição das classes, o igualitarismo. Esse igualitarismo é essencial
ao comunismo, e é por ser igualitário que ele destrói e suprime o direito de
herança, a família, a propriedade privada, as elites sociais, a tradição.
Negação total da Religião Católica
Como acabamos de ver, é pois, por uma razão profundíssima que o
comunismo, além de ateu, é revolucionário, violento, cínico, traidor,
mentiroso, implacável, imoral, contrário à família e à propriedade. É por isto
que ele é intrinsecamente mau, como declarou Pio XI 9cf. Enc. "Divini
Redemptoris", ibid., p. 96).
É impossível conciliar o comunismo com o Catolicismo. Ele é uma
seita filosófica que nega radicalmente tudo o que o Cristianismo ensina, e
destrói o próprio fundamento deste, de todo o direito e de toda a filosofia. É
a mais completa negação de Deus (cf. Enc. cit., p. 76).
Paraíso ateu
Desta negação total do bem e da verdade, e da esperança satânica
de realizar o paraíso na terra, sem Deus, sem Cristo, sem a Igreja e sem
autoridade, provém a força interna, o dinamismo obsedante e diabólico que
empolga os comunistas e os faz soldados que não conhecem trégua nem quartel em
sua luta para demolir a ordem baseada no bem e na verdade, baseada em Deus e em
Cristo, que chamamos de Cristandade.
O partido Comunista
Nessa campanha contra a civilização cristã tem um papel central e
preponderante o Partido Comunista. Realmente, ele se arvora em único
representante genuíno da massa proletária. De maneira que se arroga, EM
CONCRETO, o poder ditatorial sobre a verdade e o bem que, em tese, o
comunismo atribui ao proletariado.
Socialismo, comunismo aparentemente mitigado
Após a exposição da teoria do marxismo, convém dizer uma palavra
sobre o socialismo. A realização mais conseqüente deste é o marxismo. Mas, ao
lado do socialismo marxista, há variantes que procuram implantar a sociedade
igualitária, materialista, sem lançar mão dos recursos brutais que geralmente
são preconizados e usados por ele. Essas variantes preferem os meios legais, as
transformações lentas, de modo que, num processo mais suave, mas igualmente
irreprimível, sejam destruídas as instituições da sociedade sem classes,
igualitária, em que o Estado tudo prevê, providencia e domina. Assim, às vezes
o socialismo é o próprio comunismo nu e cru. Outras vezes, adotando aspecto
pacífico e marcha gradual, ele introduz na sociedade sub-repticiamente o
comunismo, e é a ponte, a porta pela qual este penetra na Cristandade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário