LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
A dor perfeita ou contrição é, na verdade, um tesouro
inestimável, a tal ponto que a ela podemos aplicar as palavras da Escritura
Sagrada: "Todos os bens me vieram
com ela" (Sabedoria, VII, 11). Daí dizer S. Leonardo de Porto
Maurício: "Quem poderia jamais exprimir as riquezas imensas que a dor
derrama no coração, principalmente a dor perfeita ou a contrição! Ah! meus bem
amados, desta pérola preciosa, eu queria ver-vos de posse dela mesmo que fosse
pelo preço do vosso sangue, pois com ela possuís todos os bens".
Caríssimos, e ainda que sejais livres de vos contentardes
com a atrição, é bom, entretanto, excitar sempre em vós a contrição, porque
esta faz logo a alma amiga de Deus, reveste-a com a veste nupcial da graça, e
apaga todos os pecados, mesmo antes da absolvição, o que não pode fazer a
atrição, que, sem a intervenção da absolvição dada pelo sacerdote, fica estéril
e não produz efeito algum. A dor perfeita, pela qual detestamos os nossos pecados
pelo amor de Deus amado sobre todas as coisas, é como um segundo batismo, que
imediatamente purifica a alma de todas as suas iniquidades.
Façamos algumas comparações para que possam, caríssimos, ver
como um ato de contrição é tão precioso! Tomai na mão uma balança, colocai de
um lado um ato de contrição, e do outro todos os bens do paraíso; comparai: um
ato de contrição pesa tanto quanto todos estes bens, pois que só por esse ato
fazeis jus a todos estes bens. Vede, por outro lado, os suplícios eternos do
inferno: uma só lágrima, um só suspiro de um coração contrito basta para os
suprimir totalmente. Dai-me, outrossim, um homem carregado de todos os pecados;
se excita em sua alma um ato de verdadeira contrição, todos esses pecados se
dissipam logo, como a neve diante do fogo. Como a contrição perfeita é
abençoada!!!... Ademais, ajuntai a isto que a contrição espalha nos corações o
mais rico tesouro que podemos possuir sobre a terra, quer dizer: a paz interior
e a tranquilidade da alma.
Caríssimos, pode acontecer que o demônio coloque em vossas
cabeças e nos vossos corações, escrúpulos. Mais ou menos assim: dissestes todos
os pecados? Destes, de fato, todas as explicações? Será que o confessor
compreendeu-vos bem? Pois bem! se apesar de todos estes pensamentos
extravagantes, quereis viver tranquilos e trazer vosso coração em paz, fazei o
possível para ter uma contrição verdadeira, detestando o pecado pelo amor de
Deus, soberano bem; esta dor perfeita curará por si só todas as vossas feridas
e suprimirá todos os defeitos que teriam podido resvalar, contra vossa vontade,
nas confissões passadas. Ó amável contrição, que nos faz gozar um paraíso
antecipado!... Por isso, o melhor conselho que um sacerdote possa dar a alguém,
máxime, aos escrupulosos é esse: "caríssimos, em lugar de ficar
atormentando vossas cabeças com exames de consciência demasiadamente demorados,
meditai na Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. O Pai nos amou de tal
modo que nos enviou do céu seu próprio Filho, e Jesus Cristo, Deus e Homem
verdadeiro, amou-me de tal modo, que não podia fazer mais do que fez para que
eu com um único ato de amor a Ele, recebesse pelo seu Sangue derramado na Cruz,
o perdão de todos os meus pecados, bastando ter, mesmo só implícito, o desejo de
receber o sacramento da Penitência.
Suponhamos que vos achais em estado de pecado mortal. Que
seria de vós se não tivésseis tempo de vos confessar? Que seria se morrêsseis
no meio dos campos, se fôsseis surpreendido por um acidente imprevisto, e que
não tivésseis um confessor ao vosso alcance? Eis aqui um grande motivo de
consolação: fazendo um ato de contrição, sereis justificados tão bem como se
estivésseis confessado, ainda que fique sempre a obrigação de confessar os
pecados dos quais se tem arrependimento, e se não deva diferir por muito tempo a
confissão. Ó amável contrição, que nos abre as portas do céu, nos fecha as do
abismo, põe em fuga os demônios, nos dá o glorioso caráter de filhos e amigos
de Deus, e nos faz gozar desde este mundo as delícias do céu! Amém!
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