LEITURA ESPIRITUAL MEDITADA
Caríssimos, em se tratando de um assunto capital para a
salvação, é necessário fazer uma análise completa a não deixar nos fiéis a
mínima dúvida ou ignorância. Assim, sendo a CONTRIÇÃO ou a dor dos pecados
absolutamente necessária para a validade da confissão, e sendo esta nas maioria
dos casos necessária para a salvação, entendemos que se trata de assunto
extremamente importante e mesmo urgente.
Então, para que a nossa dor nos alcance o perdão dos
pecados, deve reunir CINCO CONDIÇÕES: é preciso que seja verdadeira, sobrenatural,
absoluta, universal e confiante. Vamos dar a explicação de todas estas
condições:
1ª - VERDADEIRA: Quer dizer, a dor não pode estar só na
boca, mas também no coração. É uma dor íntima e não meramente externa. Eis aí
porque o Santo Concílio de Trento a chama uma
dor da alma. A Sagrada Escritura é clara sobre este ponto: "Convertei-vos a mim de todo o vosso
coração, e dilacerai os vossos corações e não os vossos vestidos" (Joel,
II, 12 e 13). É o coração, isto é, a vontade que deve arrepender-se, pois que
foi o coração que pecou querendo o mal, comprazendo-se nele, desobedecendo a
Deus. "Todos os crimes vêm do
coração, dizia Nosso Senhor Jesus Cristo (Cf. S. Mateus, XV, 18). É, pois,
o coração que deve converter-se detestando o mal e amando o bem. Davi dizia: "Odeio a iniquidade; e
acrescentava, e amo a vossa lei" (Salmo
118). É nisto que consiste a conversão verdadeira que o Senhor quer quando diz:
"Fazei-vos um coração novo" (Ez.
XVIII, 21) e (Salmo 21). Quando se perde a Deus pelo pecado, como encontrá-Lo?
Diz Deus em Deut. IV, 29: "Encontrá-Lo-eis,
se o procurardes de todo o coração".
2ª - SOBRENATURAL: Esta dor deve ser sobrenatural, quer
dizer, deve ser produzida por um motivo sobrenatural, e não natural; por
exemplo: se alguém se arrependesse de uma falta, por ser ela prejudicial à sua
saúde, aos seus bens, ou à sua reputação, seria isto um motivo natural, que não
serviria para nada. Para que o motivo da dor seja sobrenatural, como deve ser,
é preciso que nos arrependamos do pecado, seja por causa da sua fealdade, seja
porque ele ofendeu a bondade infinita de Deus, seja porque ele nos fez merecer
o inferno ou perder o paraíso; teremos assim a dor perfeita, chamada contrição.
ou a dor imperfeita, chamada atrição, como explicaremos depois, se Deus quiser.
3ª - SOBERANA, isto é, SUPREMA, ABSOLUTA, MÁXIMA: A dor dos
pecados é suprema ou máxima quando a ofensa feita a Deus nos desagrada mais do
que outro qualquer mal. Caríssimos, por a dor ser soberana, isto não significa
que ela deve necessariamente ser acompanhada de lágrimas e duma sensibilidade
positiva. Ela reside essencialmente na VONTADE,
e circunstancialmente também na sensibilidade. Falo isto pensando nas
almas timoratas que, às vezes, se inquietam por não experimentar sensivelmente
a dor dos seus pecados. Fiquem tranquilas tais almas, porque é bastante que a
dor dos pecados esteja na vontade, ou queiram arrepender-se, preferindo ter
perdido tudo no mundo, do que ter ofendido a Deus. Daí o sábio ensinamento de
Santa Teresa d'Ávila: "Para conhecer se temos uma verdadeira dor dos
nossos pecados, a melhor regra é saber se a pessoa penitente está disposta a
perder tudo, antes do que a graça de Deus; então, sem dúvida alguma, temos uma
verdadeira dor". E isto diz
respeito somente aos pecados mortais, pois, não é necessário ter arrependimento
de todas as faltas veniais para se obter o perdão de alguma delas, atendendo a
que aquelas, cujo arrependimento é sincero, podem ser perdoadas sem as outras.
Mais uma observação: Sabemos, pelo que já escrevi, que Deus não pode perdoar
nenhum pecado, seja mortal, seja venial, sem que o culpado tenha um verdadeiro
arrependimento. Resulta disto que uma pessoa, confessando somente pecados
veniais, sem o arrependimento necessário, faz uma confissão nula; por esta
razão, se quer receber a graça da absolvição, é preciso que tenha ao menos
arrependimento de algum dos pecados veniais dos quais se confessa, ou que
acrescente uma outra matéria certa, acusando-se de algum pecado da vida
passada, do qual tenha uma verdadeira dor.
4ª - UNIVERSAL: Quanto, porém, aos pecados mortais, é
absolutamente necessário ter arrependimento de TODOS os pecados mortais cometidos, e um verdadeiro
propósito de não mais os cometer, sem o que nenhum pecado será perdoado. A
razão disto é que nenhum pecado mortal é perdoado sem a infusão da graça na
alma; ora, não podendo esta graça achar-se com o pecado mortal, logo, segue-se
que nenhum pecado mortal pode ser perdoado, sem que todos os outros o sejam ao
mesmo tempo. Portanto, de nada serve detestar os pecados mortais, quando não se
detestam todos sem exceção. Gostaria de fazer uma observação importante,
sobretudo para as consciências escrupulosas: Quem cometeu vários pecados
mortais, não é necessário que deteste cada um em particular; basta que aborreça
todos os pecados mortais em geral, como ofensas graves a Deus; porque, se qualquer
pecado tivesse ficado esquecido, será perdoado com os outros.
5ª - CONFIANTE: Judas Iscariotes se arrependeu, mas foi um
arrependimento sem confiança: se desesperou. A dor deve ser CONFIANTE, quer
dizer: unida à esperança do perdão; doutro modo, seria semelhante à dor dos
condenados, que se arrependem também dos seus pecados, mas sem esperança de
perdão. Pois eles se arrependem, não porque os seus pecados tenham ofendido a
Deus, mas tão somente porque são a causa das suas penas. Outro exemplo
ilustrativo é o de Caim. Reconheceu o pecado que tinha cometido, matando seu
irmão Abel; porém, desesperou igualmente do perdão: "Minha iniquidade é muito grande, dizia ele, para que eu possa obter a remissão" (Gen. IV, 13). São Francisco de Sales diz que
a dor dos verdadeiros penitentes é cheia de paz e de consolação, porque, quanto
mais o verdadeiro penitente lastima ter ofendido a Deus, tanto mais confiança
tem em obter o perdão das suas faltas; o que muito aumenta a sua consolação.
Daí também esta exclamação de São Bernardo, dirigindo-se a Deus: "Se é tão
agradável chorar por vós, quão delicioso não será alegrar-se em Vós!".
Amém!
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