domingo, 6 de março de 2016

O ESPÍRITO DO MUNDO

 
   A razão humana e o bem-estar material são os dois ídolos na nossa época. Se não cuidarmos de fugir a cada instante das máximas do mundo para as de Jesus Cristo, adotaremos os pensamentos, até a linguagem do mundo. No mínimo, nossas palavras misturar-se-ão em dois contextos - um cristão e outro mundano; causando assim escândalo para os fracos e ensejo de os ímpios tirarem suas conclusões contrárias aos mandamentos de Deus. Devemos ter todo cuidado para que as nossas palavras e ações só possam ser interpretadas segundo os ensinamentos do Divino Mestre. 

   Devia, diz o Padre Judde, comover-nos mais, esta palavra, "disse-o Jesus Cristo, fê-lo Jesus Cristo", do que quaisquer outras razões, todas de ponderação. Nem se pré-desculpando, devemos empregar palavras de sabor mundano. A palavra dos Pitagóricos, disse-o o mestre, não era entre eles senão a expressão de uma idolatria insensata, pois não há homem que não se engane; mas aplicada a Jesus Cristo, deve ser um primeiro princípio, um axioma sagrado para todo cristão. Pois, passará o céu e a terra, mas a verdade do Senhor permanecerá eternamente. 

 Ele o disse: O que é grande, honesto diante dos homens, é muitas vezes pequeno, abominável diante de Deus. Ele o disse: Ai de vós, os que tendes todas as comodidades da vida presente! bem-aventurados os que choram! Ele o disse: Procurai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua Justiça; o resto vos será dado por acréscimo; o que não nega a si mesmo, não pode ser meu discípulo; quem perder a sua vida neste mundo, vai ganhar a vida eterna no outro, etc.


 Caríssimos, estejamos portanto atentos à palavra do Mestre, e regulemo-nos pelas suas lições.

   Assim, o verdadeiro discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo fecha os olhos para as máximas do mundo e renuncia à prudência da carne para seguir a do espírito; torna-se insensato para ser sábio, porque a sabedoria deste mundo, é loucura diante de Deus. 

   Caríssimos, vigiemos porque a tentação de buscar uma concordância entre a doutrina da salvação e o espírito do mundo é aliciante. Para ela nos impele, além do pendor próprio de nossa natureza pecadora, uma falsa caridade, fruto de uma consideração naturalista da existência. Por isso mesmo o Divino Mestre não se cansa de alertar seus discípulos contra uma vida segundo os preceitos do mundo. Na grande oração sacerdotal, após a última Ceia, pede Jesus ao Pai Eterno especialmente que preserve os seus do contágio do século: "É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo mas por aqueles que me deste, porque são teus... Dei-lhes a tua palavra, o mundo os odiou, porque não são do mundo, como também eu não sou do mundo. Não peço que os tire do mundo, mas que os guarde do mal... Santifica-os na verdade. A tua palavra é a verdade" (Jo. 17, 9 e 14, 15 e 17). E a razão deste pedido é porque o mundo está todo ele sob o influxo do maligno: "Sabemos que somos de Deus, e que o mundo está sob o maligno" ( 1 Jo. 5, 19 ), constituído que é de atrativos da sensualidade, da vaidade e do orgulho (1 Jo. 2, 16). Do mesmo modo fala São Paulo: "E não vos conformeis com este século, mas reformai-vos com o renovação do vosso espírito, para que reconheçais qual é a vontade de Deus, boa, agradável e perfeita" (Rom. 12, 2). 

   Evitemos, pois, caríssimos e amados irmãos, que nossa caridade degenere em apoio ao erro ou ao vício, porque já nem seria caridade. Evitemos, outrossim, que a nossa paciência  jamais seja um incentivo à perseverança no mal. Cuidemos máxime em não permitir que uma falsa obediência venha lançar areia em nossos olhos e assim tentar desculpar o que, na verdade, diante de Deus, é condenável. Façamos uma séria meditação sobre esta advertência do Divino Mestre: "Diante desta geração adúltera e pecadora, quem se envergonhar de mim e de minhas palavras, também me envergonharei dele no dia do Juízo". 

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