quarta-feira, 24 de abril de 2013

O VERDADEIRO SENTIDO DA SALVAÇÃO PELA FÉ - ( 2 )

   58. DOUTRINA PROTESTANTE E DOUTRINA CATÓLICA.

   Dizem os protestantes de hoje que as boas obras são um meio de exercitar a fé, são um fruto ou consequência da salvação: o indivíduo que já está salvo pela fé pratica boas obras, mas as boas obras não são CAUSA  da salvação.

    A distinção é subtil, capciosa e, sobretudo, confusa para se ensinar ao povo, que precisa saber de uma maneira límpida e clara o que deve fazer e o que não deve fazer par ganhar o Céu. Mas o Protestantismo não está ligando muita importância a isto: discordar da Igreja Católica é todo o seu gosto e prazer.

   A fórmula protestante encerra uma linguagem duvidosa e geradora de confusões: "As boas obras são uma consequência da fé: aquele que já está salvo pela fé, pratica boas obras".

   Mas consequência, de que modo? 

   Consequência livre, no sentido de que aquele que tem fé praticará as boas obras que bem entender? Isto não se admite. Se Deus nos impôs 10 mandamentos, não está em nosso poder fazer uma escolha entre eles, não nos é lícito nem ao menos escolher nove mandamentos e rejeitar um só; quem peca contra um só mandamento que seja, peca contra toda a lei, pois se rebela contra Deus, Senhor Supremo, que é o Autor de toda a lei: Qualquer que tiver guardado toda a lei e faltar em um só ponto, fez-se réu de ter violado todos (Tiago II-10).

   Consequência necessária no sentido de que aquele que tem fé, já não peca mais e só pratica boas obras? Ninguém é tolo para acreditar nisto. A experiência de cada dia nos demonstra que não existe sobre a face da terra nenhum homem impecável: Todos nós tropeçamos em muitas coisas (Tiago III-2). Aquele, pois, que crê estar em pé veja não caia (1ª Coríntios X-12). 

   Consequência necessário, no sentido de que qualquer ação, seja boa, seja má, praticada por aquele que tem fé se torna uma obra boa? Mas isto seria o maior dos absurdos. Como é que Deus vai considerar obras boas o roubo, a injustiça, o adultério, o falso testemunho pelo simples fato de serem praticados por um homem que tem fé? Muito pelo contrário: se estes pecados já são graves para o pagão que não conhece a Cristo, mais graves ainda se tornam para o cristão, esclarecido pelas luzes da fé.

   Consequência necessário, no sentido de que aquele que tem fé se sente forçosamente na obrigação de observar os mandamentos e praticar boas obras? Mas isto é a pura doutrina católica; neste caso os mandamentos são tão obrigatórios como a própria fé. Sua observância é indispensável para a conquista do Céu. Não se trata mais, portanto, de salvação pela fé sem as obras.

   Nós, católicos, afirmamos que para o homem salvar-se, para ganhar o Céu, não só é necessária a fé em Cristo; é necessária também a observância dos mandamentos, pelo amor de Deus e do próximo, indispensável para a salvação. Não é a fé sem as obras que salva; é a fé acompanhada das obras, a fé CONSUMADA PELA OBRAS (Tiago II-22), como se expressou São Tiago.

   Se se exige o arrependimento dos pecados para o pecador receber o perdão, isto é porque ele, desviando-se da obrigação dos mandamentos, se afastou do caminho do Céu. Dizendo, porém, que a fé salva com as obras, não afirmamos que o homem realiza estas obras, sozinho, por suas próprias forças naturais; realiza-as, sim, ajudado com a graça de Deus, a qual Deus dá a todos; ao que faz o que está no seu alcance, Deus não nega a sua graça, porém a graça é necessária, não só para a fé, mas para a observância dos mandamentos, como também para fazer qualquer ato bom meritório para a vida eterna. Em suma, existe na obra da salvação a parte de Deus e a nossa. A nossa parte não consiste só na fé, mas também nas obras, na observância dos mandamentos, embora que para isto precisamos que Deus nos ajude. Se cooperarmos com a sua graça, pela fé e pela observância dos mandamentos de Jesus, e morrermos em estado de graça santificante, seremos salvos. Se com ela não cooperarmos e morrermos em estado de pecado mortal, seremos condenados. A salvação é, portanto, efeito da graça e das nossas obras, da nossa cooperação, ao mesmo tempo. 

   

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