domingo, 20 de janeiro de 2013

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE A SALVAÇÃO: NECESSIDADE DA GRAÇA

2ª - A NOSSA CONTRIBUIÇÃO ENTRELAÇADA COM A AÇÃO DE DEUS (CONTINUAÇÃO)

  24. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA O CUMPRIMENTO DA LEI DIVINA.

   O homem, para salvar-se, precisa cumprir com os mandamentos e observar o que Jesus mandou. 
   Mas daí não se segue que ele possa fazer isto unicamente por suas forças naturais. Quando apareceu Pelágio, em princípios do século V, afirmando que não havia necessidade da graça para alcançar a vida eterna, bastando para isto o livre arbítrio ou a liberdade do homem, de modo que o homem podia por suas forças naturais vencer as tentações e observar os mandamentos, servindo a graça apenas para ajudá-lo a cumprir com mais facilidade a lei divina, se insurgiram contra a heresia pelagiana os Santos Padres da Igreja, tendo à frente Santo Agostinho, que ficou sendo chamado o Doutor da Graça. E o erro de Pelágio foi formalmente condenado pela Igreja em vários Concílios particulares e pelos Papa Santo Inocêncio I e São Zósimo.  Foi ao conhecer a condenação do pelagianismo pelo Papa, que Santo Agostinho proferiu a célebre frase: "Roma locuta, causa finita". Roma falou, acabou-se a questão. 
  
   Segundo a doutrina da Igreja, não é simplesmente mais difícil, é impossível ao homem, sem o auxílio da graça de Criso, vencer a própria concupiscência e cumprir a lei divina. Lê-se em São Paulo: Sinto nos meus membros outra lei que repugna à lei do meu espírito e que me faz cativo na lei do pecado, que está nos meus membros. Infeliz homem eu, quem me livrará do corpo desta morte? A graça de Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor (Romanos VII-23 a 25). O texto grego diz: Graças a Deus por Jesus Cristo Nosso Senhor - mas isto não modifica o sentido: dão-se graças a Deus pelo auxílio que nos vem de Jesus Cristo, ou seja, de sua graça que Ele mereceu por nós na cruz. E o mesmo São Paulo diz ainda aos Efésios: Fortalecei-vos no Senhor e no poder da sua virtude. Revesti-vos da ARMADURA de Deus para que possais estar firmes contra as ciladas do diabo (Efésios VI- 10 e 11). 

   Jesus Cristo nos ensinou a dizer no Pai-Nosso: Não nos deixeis cair em tentação (Mateus VI-13). E disse aos Apóstolos: Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca (Mateus XXVI- 41). O que nos mostra que para nos livrarmos do pecado, não basta o nosso cuidado, o nosso esforço, a nossa vigilância; é necessário também o auxílio da graça divina que se alcança pela oração. 

   25. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA QUALQUER OBRA MERITÓRIA.

   Há ainda mais: não só é necessária a ajuda da graça de Cristo para o cumprimento da lei divina, de modo geral, mas para realizar qualquer obra, por mínima que seja, meritória para a vida eterna. Isto se vê claramente pelas palavras do próprio Cristo: Sem mim não podeis fazer nada (João XV-51). A mesma doutrina vemos em São Paulo: Não que sejamos capazes de nós mesmos de ter algum pensamento como de nós mesmos; mas o nossa capacidade vem de Deus (2ª Coríntios III-5).

   26. NECESSIDADE DA GRAÇA PARA A FÉ.

   Para a salvação é indispensável a fé. Sem fé é impossível agradar a Deus (Hebreus XI-6). E aqueles a quem chega o conhecimento do Evangelho têm que crer em tudo o que direta ou indiretamente se deduz da revelação trazida por Jesus Cristo. É uma consequência necessária do primeiro mandamento em que se nos prescreve uma plena submissão de toda a nossa alma, de todo o nosso coração, de toda a nossa inteligência a Deus. 

   Mas, embora seja a fé um ato livre da vontade, pois o homem pode crer ou deixar de crer, não podemos ter a fé sem a ajuda da graça de Deus. Jesus Cristo disse, falando aos judeus que não queriam crer nas suas palavras: Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer (João VI-44). Há alguns de vós outros que não creem... Por isso eu vos tenho dito que ninguém pode vir a mim, se por meu Pai lhe não for isso concedido (João VI-65 e 66). 

   Depois dos pelagianos, apareceram os semipelagianos que, embora admitindo a necessidade da graça para a salvação, afirmavam que o início da fé, ou seja, o piedoso afeto de boa disposição para crer, que é excitado pela pregação do Evangelho, este primeiro movimento do homem para a fé seria feito só pela liberdade do homem, sem a graça de Deus. Realizado este ato, Deus entraria com a sua graça. A doutrina dos semipelagianos foi igualmente condenada pela Igreja, em 529, no 2º Concílio de Arles, em definição confirmada pelo Papa Bonifácio II. Também o início, o primeiro movimento de fé no coração do homem é feito com o auxílio da graça divina, pois a fé um dom de Deus (Efésios II-8). E o mesmo São Paulo diz aos Filipenses: A vós vos é dado por Cristo, não somente que CREIAIS N'ELE senão que padeçais também por Ele (Filipenses I-29). 

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