Ao meditar o Salmo 72, falamos sobre a Justiça de Deus; e na meditação do Salmo 102, consideramos a Sua Misericórdia. Vamos, com a graça de Deus, considerar agora a Justiça e a Misericórdia em Deus, seguindo S. Tomás de Aquino, Suma Teológica, 1ª Parte, questão 21. Resumirei os 4 artigos.
No Artigo 1º S. Tomás prova que em Deus há Justiça: "O Senhor é justo e Ele amou a justiça" (Salmo X, 8). Há duas espécies de justiça: 1- a comutativa, isto é, reguladora das trocas e tratos. Essa não convém a Deus, segundo diz S. Paulo: "Quem Lhe deu alguma coisa primeiro para que tenha de receber em troca?" (Rom XI, 35); 2- a distributiva: pela qual um governador ou administrador dá segundo a dignidade de cada um. Esta convém a Deus. A Justiça em Deus, umas vezes, é conveniência com a sua bondade, e, outras, é retribuição dos méritos. E cita S. Anselmo: "Senhor, sois justo punindo os maus, porque é isso exatamente o que mereceram; mas sois justo também quando os perdoais, porque isso está de acordo com a Vossa bondade".
No Artigo 2º S. Tomás prova que a Justiça de Deus é verdade. Cita o Salmo 84, 11: "A misericórdia e a verdade se encontraram". E o doutor angélico demonstra que aí a palavra VERDADE significa JUSTIÇA.
No Artigo 3º S. Tomás prova que a MISERICÓRDIA convém a Deus, isto é, que Deus é misericórdia. E cita o Salmo 110, 4: "O Senhor é misericordioso e compassivo". Deus age misericordiosamente quando faz alguma coisa além da sua justiça, não contra ela. Por ex.: quem desse 200 reais ao credor, ao qual só deve 100 reais, não pecaria contra a justiça, mas agiria liberal e misericordiosamente. O mesmo se daria com quem perdoasse a injúria que lhe foi feita. Donde se conclui que, a misericórdia não suprime a justiça, mas é uma certa plenitude dela. Por isso é que a Sagrada Escritura diz: "A misericórdia triunfa do juízo" (Tiago II, 13).
No Artigo 4º S. Tomás mostra que em todas as obras de Deus, há misericórdia. Cita o Salmo 24, 10: "Todos os caminhos do Senhor são misericórdia e verdade". Deus nada pode fazer que não convenha à Sua Sabedoria e à Sua Bondade. Deus, pela abundância da sua Bondade, concede o devido a uma criatura mais largamente do que o exigiriam as proporções dela. Porque, para conservar a ordem da justiça, bastaria menos do que o conferido pela divina Bondade, que, na verdade excede toda a proporção da criatura. Quanto aos que se condenam, Deus manifesta a sua misericórdia, não porque perdoa totalmente (porque a justiça exige o inferno) mas, de algum modo aliviando no sentido de que Deus pune, aquém do merecido. Por outro lado, na justificação do pecador manifesta-se a justiça, perdoando as culpas por causa do amor, que entretanto Deus infunde misericordiosamente, como Jesus disse de Madalena: "Muitos pecados lhe foram perdoados porque muito amou" (Lc VII, 47). Também nas provações que Deus manda aos justos, entram a justiça e a misericórdia, porque essas aflições fazem os justos expiar alguns pecados leves e os separam dos afetos terrenos, elevando-os para Deus. Amém!
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