CARTA PASTORAL (5)
prevenindo os diocesanos contra os
ardis da seita comunista.
Escrita em 13 de maio de 1961 pelo
então Bispo da Diocese de Campos, D. Antônio de Castro Mayer, de saudosa
memória.
(continuação)
2
- Recusar as campanhas paralelas
de católicos e comunistas com objetivo comum
O exemplo
acima [no fim do post anterior] nos leva a uma advertência necessária a
propósito das chamadas ações paralelas.
Os
comunistas, em geral, a fim de obter a colaboração dos não comunistas, sondam
primeiro o ambiente para ver qual a campanha que terá maior receptividade entre
estes. E não é difícil encontrar injustiças verdadeiras, objetivas, a deplorar
numa sociedade que apostatou de Deus, e vive dominada pelo egoísmo e pela sede
dos prazeres materiais. Ora, é natural que os cristãos se indignem com fatos
desses. Os Papas têm repetidas vezes levantado a voz contra semelhantes abusos
e particularmente contra as injustiças causadas pela nova ordem econômica, na
qual domina o dinheiro e não se dá atenção às necessidades espirituais e morais
mais urgentes das classes menos favorecidas. Fazer eco aos Papas, e tentar
ordenadamente pôr termo a essas desordens sociais, é coisa justa e digna de
todo o aplauso.
De
circunstâncias concretas como essas, se aproveitam os comunistas, e como que se
associam à campanha dos cristãos. Também eles alçam a voz para condenar as
injustiças e pedir a punição dos culpados. Pergunta-se: seria lícita, em tal
caso, uma ação paralela? Os comunistas, de seu lado, com seus argumentos e seus
métodos sem dúvida detestáveis, propugnariam, não obstante, um objetivo justo e
desejável. De outro lado, os católicos, com os métodos e argumentos ensinados
pela Moral, pelos documentos pontifícios, se empenhariam, sem ligação nenhuma
com os comunistas, para conseguir, na prática, o mesmo resultado, isto é, a
correção das injustiças sociais.
A - NÃO
HÁ DE FATO UM OBJETIVO COMUM
É fácil
solucionar a questão.
Primeiramente,
não nos iludamos; os comunistas jamais desejam reparar injustiça alguma. Eles só
querem fomentar agitação, mal-estar, oposição de classe contra classe, de
maneira a obter a aversão e o ódio de uma contra a outra. Ainda quando, na
aparência, estão a defender objetivos inteiramente de acordo com as exigências
e a doutrina da Igreja, ainda nessas ocasiões, o que de fato intentam é
promover a luta de classes, o grande meio que Lenine lhes pôs nas mãos para
atingirem seu fim último: o domínio do mundo e a tirania da nova classe
dirigente, o partido comunista.
B -- NÃO PODE HAVER PARALISAÇÃO NA LUTA DOS
CATÓLICOS CONTRA OS COMUNISTAS
Ainda aqui,
um aspecto da luta em torno da reforma agrária servirá para exemplificação. Com
efeito, sobre este problema, juntamente com o Exmo. Revmo. Sr. Arcebispo de
Diamantina, D, Geraldo de Proença Sigaud, o Professor Dr. Plínio Corrêa de
Oliveira e o economista Luiz Mendonça de Freitas, escrevemos o livro
"Reforma Agrária - Questão de Consciência", que a Editora
Vera Cruz, de São Paulo, publicou. Essa obra trata do assunto com serenidade.
Reconhece os males gravíssimos introduzidos no campo pela ganância de certos
proprietários e especialmente pelo amoralismo da economia liberal, exorta os
responsáveis pela situação a sanarem com a possível brevidade injustiças
clamorosas, e dá veemente brado de alerta contra a reforma agrária de cunho
socialista. Em resumo, uma obra com objetivos humanitários (para usar aqui a
palavra corrente entre os não católicos), mas que nitidamente se alheia de
qualquer compromisso, ainda em linha paralela, com os comunistas e comunistizantes.
Foi o suficiente para que aqueles e estes recebessem livro com verdadeiro e estrepitoso ódio. É
que os autores, ferindo uma injustiça real, não o faziam à moda socialista, nem
silenciavam os engodos que a solução socialista envolve. "Reforma Agrária
- Questão de Consciência" era uma força que aos marxistas só convinha
destruir. O ódio comunista contrasta significativamente não só com os aplausos
que nosso trabalho recebeu em outros setores, mas também com a discrepância
cortês e serena com que foi acolhido por elementos não comunistas que dele
discordaram.
Ódio comunista contra "Reforma
Agrária - Questão de Consciência"
Em segundo
lugar, e por esse mesmo motivo, qualquer campanha cristã contra as injustiças
sociais, para não carregar água para o moinho comunista, precisa, ao mesmo
tempo que ataca com veemência tais injustiças, mostrar DE MODO CLARO E
INSOFISMÁVEL que não pretende o aniquilamento de qualquer das classes de que
forçosamente se compõe o corpo social, que o que deseja tão somente é purificar
este último de defeitos que o deformam, e isso através da harmonia das várias
camadas sociais; a par disso, é COISA NÃO MENOS INDISPENSÁVEL combater e
impugnar, com veemência igual ou ainda maior, a campanha análoga de cunho
comunista, denunciando-a como insincera e revolucionária. Ora, agindo os
católicos de acordo com estas normas, os próprios comunistas rejeitarão a
colaboração que antes procuravam. [Nota do autor: Veja-se a distinção entre "colaboração
recíproca" e "convergência
ocasional", que fizemos acima].
A ação dos católicos não tem o caráter
destrutivo próprio à ação dos comunistas
Os movimentos
inspirados pela caridade cristã jamais tendem à destruição de uma ordem
existente que em si não é injusta, como a respeito do regime da propriedade
privada, chamado capitalismo, disse Pio XII (cf. Aloc. sobre problemas rurais,
de 2 de julho de 1951, Discorsi e Radiomessaggi", vol. 13, pp.
199-200), mas procuram, e isso com toda a energia, corrigir os erros
verificados, a fim de que voltem a paz e a harmonia necessárias não corpo
social. Pois neste, embora composto sempre de classes diversificadas, deve
reinar uma orgânica união de todos os elementos, assegurada pela caridade
recíproca e auxílio mútuo.
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