Para os judeus, máxime para seus doutores e fariseus, a
terra da Samaria era uma terra maldita. Os samaritanos conservavam com amor os
livros do Pentateuco. Embora admitissem um messias, o profeta anunciado por
Moisés, não aceitavam a literatura bíblica nascida no reino de Judá.
Jesus, no entanto, olhava com carinho os habitantes daquela
terra excomungada pelos escribas e fariseus. Um fariseu e um doutor da Lei
teriam tentado de tudo para evitar passar por Samaria, como evitavam como algo
abominável, a mesma pronúncia deste nome. Jesus, no entanto, entra na Samaria
seguido pelos discípulos. Aliás, o Bom Samaritano, trilha aqueles mesmos
caminhos percorridos pelos antigos Patriarcas.
Leiamos no Evangelho de S. João o capítulo IV, 5-34: "Chegou, pois, a uma cidade da Samaria
chamada Sicar, junto da herdade que Jacó deu a seu filho José. Estava lá o poço
de Jacó. Fatigado da viagem, Jesus sentou-se sobre a borda do poço. Era quase a
hora sexta. Veio uma mulher da Samaria tirar água. Jesus disse-lhe: Dá-me de beber.
Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar mantimentos. Disse-lhe, porém, a
mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou
mulher samaritana? Porque os judeus não comunicam com os samaritanos.
Respondeu-lhe Jesus, e disse-lhe: Se tu conhecêsseis o dom de Deus, e quem é
que te diz: Dá-me de beber, tu certamente lhe pedirias, e ele te daria de uma
água viva. Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar e o poço é
fundo; donde tens, pois, essa água viva? És tu, porventura, maior do que o
nosso pai Jacó, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, os seus filhos
e os seus gados? Respondeu Jesus e disse-lhe: Todo aquele que bebe desta água
tornará a ter sede, mas o que beber da água que eu lhe der, nunca jamais terá
sede, mas a água que eu lhe der, virá a ser nele uma fonte de água que salte
para a vida eterna. Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me desta água, para eu não
ter mais sede, nem vir aqui tirá-la. Disse-lhe Jesus: Vai, chama teu marido e
vem cá. Respondeu a mulher e disse: Não tenho marido. Jesus disse-lhe: Disseste
bem: não tenho marido; porque tiveste cinco maridos e o que agora tens, não é
teu marido; isto disseste com verdade. Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és
profeta. Nossos pais adoraram sobre este monte, e vós dizeis que em Jerusalém é
o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que é chegada a
hora, em que não adorareis o Pai, nem neste monte, nem em Jerusalém. Vós
adorais o que não conheceis, nós adoramos o que conhecemos, porque dos judeus é
que vem a salvação. Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros
adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade, porque é destes adoradores que
o Pai deseja. Deus é espírito e em espírito e verdade é que o devem adorar os
que o adoram. Disse-lhe a mulher: Eu sei que deve vir o Messias que se chama
Cristo, quando, pois, ele vier, nos anunciará todas as coisas. Disse-lhe Jesus:
Sou eu, que falo contigo. Nisto chegaram seus discípulos, e maravilharam-se de
que ele estivesse falando com uma mulher [porque não era costume naqueles tempos um homem conversar
com uma mulher assim em público].
Nenhum contudo lhe disse: Que é o que perguntas, ou que falas com ela? A
mulher, pois, deixou o seu cântaro, foi à cidade e disse àquela gente: Vinde
ver um homem, que me disse tudo o que eu tenho feito; será este porventura o
Cristo? Saíram, pois, da cidade, e foram ter com ele. Entretanto seus
discípulos instavam com ele, dizendo: Mestre, come. Mas ele respondeu-lhes: Eu
tenho um alimento para comer, que vós não sabeis. Pelo que diziam os discípulos
uns para os outros: Será que alguém lhe trouxe de comer? Disse-lhes Jesus: A
minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e cumprir a sua
obra".
Façamos algumas reflexões sobre este trecho do Santo
Evangelho. Primeiramente admiramos a bondade do Salvador. Era quase meio dia,
estava fatigado, sedento e com fome. Contudo, espera ali a pobre pecadora de
Samaria, a fim de convertê-la, e mais, fazer dela uma apóstola da cidade,
salvando mais almas. Ele que tinha sede das almas, pede água à Samaritana. Como
ela ficasse admirada de um judeu se dirigir a uma samaritana, Jesus disse-lhe: "Oh! se conhecesses o dom de Deus e
quem é que te diz: Dá-me de beber, certamente tu mesma é que lhe farias este
pedido e ele te daria água viva". Caríssimos, ESTE DOM DE DEUS é a
GRAÇA e a FÉ, é a felicidade de encontrar
o Messias, o Salvador, isto é, "Aquele que tira os pecados do mundo".
Na verdade, ÁGUA VIVA, em sentido próprio significa água corrente, em oposição
à água dos poços. Jesus, porém, fala em sentido figurado, designando a fé e a
graça, que conduzem à vida eterna. Jesus disse em S. João X, 10: "Eu vim para que elas (as ovelhas =
as almas) tenham a vida e a tenham em
abundância". S. Paulo diz: "Onde
abundou o pecado, superabundou a graça para que, assim como o pecado reinou
dando a morte, assim reine a graça pela justiça para dar a vida eterna, por
meio de Jesus Cristo nosso Senhor" (Rom. V, 20). Os teólogos da
Libertação, no entanto, deturpam inteiramente a missão de Jesus, fazendo d'Ele
um libertador temporal que teria trabalhado para acabar com as diferenças de
classes.
O poço de Jacó mede 32 metros de fundura. Mesmo em seu nível
máximo, a água fica a mais de 10 metros abaixo do solo. A samaritana julgou que
Jesus lhe falava de água corrente e duvidou de sua palavra. Mas Jesus explica: "Todo aquele que bebe desta água...
etc. A água que eu lhe der se transformará nele em fonte de água que jorra para
a vida eterna". E, embora a mulher samaritana, continue a entender de
modo material as palavras de Jesus, Ele com toda paciência e bondade direciona
a conversa no sentido de poder mostrar que Ele é o Messias, justamente Aquele
que veio destruir o pecado e dar a graça. Assim como a água natural corre para
a terra, a água espiritual, que Jesus vinha dar, correrá para o céu, dando a
vida eterna a todos os que dela beberem.
Hoje há muito maior facilidade em haver água potável para
todos. Mesmo onde só se consegue água potável através de poços, temos as
bombas, e até bombas com energia solar. Jesus não se dispôs a fazer milagres ou então
em dar instruções científicas para que o povo tivesse facilidade de acesso à
água potável. Jesus ensinou: "Procurai
em primeiro lugar o reino de Deus".
E quanto ao alimento? Quando os discípulos chegaram da
cidade com o alimento, Jesus disse: "A
minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e cumprir a sua
obra". Os apóstolos, diante da recusa de Jesus, ficaram se indagando:
"Será que alguém lhe trouxe alimento?". Sim, alguém deu-lhe alimento.
Ele se alimentou com o manjar suculento que lhe ofereceu a samaritana: isto é,
a sua alma, o seu coração. Caríssimos, a nossa alma é o festim do divino
Salvador. Pois, não disse Ele: "Filho, dá-me teu coração?!"
Não queremos dizer que também os eclesiásticos não se
preocupem com a preservação das obras da criação, mas, deixam que os
especialistas disso se ocupem. Assim, à exemplo do Divino Mestre, os sacerdotes
devem se preocupar em dar às almas as águas vivas da fé e da graça de Deus.
Devem ter como alimento especialíssimo cumprir esta obra divina de salvar almas
pelas quais Jesus morreu na cruz. Amém!
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