66. CRER OU NÃO CRER.
Crer em Jesus é, portanto, aceitar como verdade tudo o que Jesus nos ensinou; uma vez que Ele é o Filho de Deus, igual ao Pai, temos que reconhecer como verdadeiro tudo o que Ele disser, ainda que seja um mistério, ainda que o não possamos compreender. Isto se mostra claramente no capítulo 6º de São João, onde se vê um choque entre Jesus e os judeus que n'Ele não querem crer.
Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do homem e beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós. O que come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia, porque a minha carne VERDADEIRAMENTE é comida; e o meu sangue VERDADEIRAMENTE é bebida (João VI-54 a 56).
Jesus lançou perante os judeus a seguinte afirmação:
O que significam estas palavras? Depois (em outra oportunidade) teremos ocasião de explicar. Por enquanto, pode o leitor perguntar a qualquer um desses protestantes que andam por aí, ilustríssimos, sapientíssimos e entusiasmadíssimos intérpretes das Sagradas Escrituras, o que quer dizer: comer a carne de Cristo, beber o Sangue de Cristo. Se ele disser que significa crer em Cristo, peça-lhe que prove, por especial obséquio, com citações da Bíblia ou de qualquer escritor do mundo, que comer a carne de uma pessoa é o mesmo que crer nela; beber o seu sangue é o mesmo que fazer um ato de fé. O que é fato é que os ouvintes, como não podia deixar de ser, tomaram as palavras de Cristo no sentido de que Ele falava em dar mesmo a sua carne para comer, o seu sangue para beber. Cristo falava sério, não estava brincando, porque Ele nunca falou brincando, nem para enganar a ninguém.
Qual a reação que aquelas palavras do Mestre produziram entre os seus ouvintes? Uns pensaram assim: Jesus não erra, não mente, não engana, Ele tudo pode fazer, porque o poder de Deus está n'Ele, se Ele disse que dará sua carne para comer, é porque vai dar mesmo. Outros, porém, acharam isto impossível e absurdo: Como pode este dar-nos a comer a sua carne? (João VI-53). Duro é este discurso e quem o pode ouvir? (João VI-61). Jesus se queixa de sua incredulidade: Há alguns de vós outros que não CREEM (Jorão VI-65). Porque bem sabia Jesus desde o princípio quais eram os que não CRIAM (João VI-65).
Trata-se aqui, portanto deste assunto: CRER ou NÃO CRER. Mas crer ou não crer não é, no caso, confiar ou não confiar em que se vai para o Céu mas: ACREDITAR OU NÃO ACREDITAR na revelação tão espantosa que Jesus acabara de fazer, isto é, que daria sua própria carne para comer, seu próprio sangue para beber. Não resta a menor dúvida E tão obstinados ficaram aqueles em não crer em Jesus, que O abandonaram de vez: Desde então se tornaram atrás muitos de seus discípulos e já não andavam com Ele (João VI-67).
Jesus volta-se então para os doze. Quererão eles ir embora também, pelo fato de acharem impossível Jesus dar a sua carne para comer, o seu sangue para beber? Quererão eles, também, dizer: Não creio; não Vos sigo mais? Simão Pedro, o primeiro dos Apóstolos, o chefe de todos eles, se encarrega de falar em seu nome e em nome de todos: Senhor, para quem havemos de ir? Tu tens palavras de vida eterna; e nós temos CRIDO e conhecido que tu és o Cristo, Filho de Deus (João, VI-69 e 70). Primeiro creram sem ter visto os grandes prodígios; depois à vista dos grandes milagres e pela convivência com o Mestre, conheceram ainda melhor que Jesus é o Filho de Deus, e, portanto, infalível.
Aqui vemos claramente o que o Evangelho entende pela palavra CRER. Crer não é lançar-me aos pés de Jesus e procurar sugestionar a mim mesmo que eu, pessoalmente, eu, Fulano de tal estou salvo, infalivelmente salvo. Crer é aceitar tudo o que Jesus disse, mesmo que isto se me afigure dificílimo, incompreensível, misterioso, impossível aos meus olhos; se ele diz, é porque está certo; se Ele diz que faz, é porque faz mesmo. E o fundamento da fé é magistralmente apresentado por São Pedro: Jesus não pode mentir, não pode enganar a ninguém, porque é o Cristo, Filho de Deus e, como tal, tem palavras de vida eterna.
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