50. O LUTERANISMO E A RAZÃO.
Muito longo se tornaria este capítulo, se fôssemos analisar uma por uma, todas estas enormidades da teoria luterana; ouçamos, porém, o escritor Antonino Eymieu que nos vai dizer muito em poucas palavras:
"Será exagerado dizer que, do princípio ao fim, tudo, neste monstruoso sistema, brada contradição? O homem espoliado pelo pecado de um outro não somente, como diz o Catolicismo, dos privilégios sobrenaturais - os quais este outro, cabeça da raça, lhe teria transmitido, se tivesse sido fiel - mas espoliado de sua natureza própria; não somente de gratificações acessórias, mas do que lhe era devido; perdendo sua liberdade e continuando responsável; aspirando ao Céu e forçado a marchar para o inferno; não podendo salvar-se senão por uma fé-confiança reclamada à sua liberdade aniquilada, à sua vontade arquimorta; conservando, apesar de tudo, por não sei que prodígio, sua consciência moral, mas aconselhado a dela despojar-se, a fugir dela como de uma tentação de Satanás. Em face deste homem, um Deus veraz que mente à sua criatura; um Deus inteligente que se deixa enganar por ela, que já não percebe os mais monstruosos pecados, quando são cobertos com o manto de Jesus Cristo e os deixa entrar de contrabando no Céu, um Deus justo que "condena inocentes com a mesma desenvoltura que o leva a "coroar indignos"; um Deus sábio que faz leis impossíveis, que obriga (ao menos aqueles que não creem) a observá-las e que força a violá-las; um Deus santo que olha da mesma forma os santos e os pecadores, ou, se mostra alguma preferência, a reserva aos pecadores. Todas estas palavras se chocam profundamente; todas estas ideias são inconcebíveis; diante deste acervo de contradições, a razão se revolta" (Deus Arguments pour le Catholicisme págs. 65 e 66).
Vamos agora procurar a Lutero e protestar contra sua doutrina, dizer que ela é contrária, profundamente contrária à nossa razão. Certamente vamos com medo de que "o maior e o mais desbocado escritor do seu tempo" como o chamava Hausrath, que por sinal era protestante, nos vá brindar com um daqueles palavrões que tantas vezes ele soube dizer. Mas qual é a nossa surpresa! Lutero concorda conosco. Sua doutrina é mesmo contra a razão. E contra esta razão humana é que se volta; para ela é que reserva as suas injúrias. No seu último sermão proferido em Vitemberga, em 1546, chamou a razão humana: "a concubina do diabo".
Diz ele: "Mesmo a nós que recebemos as primícias do Espírito, é-nos impossível compreender e crer perfeitamente todos estes pontos, porque eles contradizem no último grau a razão humana" (Apud Denifle-Paquier III-379). "É impossível fazer concordar a fé com a razão... A razão é contrária a fé. Unicamente a Deus pertence dar a fé contra a natureza, contra a razão, em uma palavra, fazer crer" (Apud Denifle-Paquier III-275). "Nas coisas espirituais e divinas, a razão é completamente cega" (Erlangen XLV-336).
Estão de acordo com a doutrina de Lutero os protestantes de nossos dias? É o que veremos, se Deus quiser.
Antes, porém, não podemos deixar de fazer duas observações que espontaneamente nos ocorrem: é o que faremos nos próximos posts.
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